A cooperativa energética feita por e para os cidadãos

Rui Pulido Valente

Chama-se Coopérnico e é a primeira cooperativa portuguesa dedicada às energias renováveis. Nasceu em 2013 e, desde então, tem vindo a tentar mudar o paradigma da produção e consumo de energia. Atualmente conta com 1.530 cooperantes que juntos já investiram mais de um milhão de euros.

É caracterizada no seu site como uma “empresa social que, através do envolvimento da comunidade, procura promover a transição para um novo paradigma energético” e tem hoje ativos 21 projetos que levaram à instalação de quase 5.000 painéis fotovoltaicos, em telhados de instituições de caráter social, educacional ou estatal. Em conjunto, produzem energia suficiente para abastecer cerca de 800 famílias e colmatam a emissão de CO2 em mais de 1.000 toneladas.

O acordo para a instalação dos painéis é simples: as instituições recebem uma percentagem do valor da energia produzida por cederem os seus telhados para a instalação e no fim do contrato – tipicamente de 15 anos – ficam com a posse dos equipamentos, tendo a possibilidade de continuar num regime de auto-produção e consumo.

Estes projetos distinguem-se sobretudo pela forma como são financiados, directamente pelos associados da cooperativa. Seja através da compra de títulos de capital social – com o custo de 20€ cada – ou através do empréstimo do valor necessário ao investimento, cada cooperante torna-se investidor numa vertente ética do sector energético. Em contrapartida, e tendo apenas como requisito a aquisição de um mínimo de três títulos, os membros da Coopérnico podem contratar a energia à cooperativa, que está próxima de garantir a produção e débito na rede de tanta energia renovável quanto a consumida pelos seus clientes.

Apesar da história a que se pode conotar algum sucesso, o percurso da cooperativa não tem sido linear e fornecer energia aos seus cooperadores não tem sido uma tarefa fácil. Desde o início da sua atividade, e até Novembro do ano passado, a energia que comercializava era fruto de uma parceria com a Enforcesco, empresa que comprava a energia em mercado e tinha a responsabilidade da faturação final ao cliente.

Assim, até aqui a Coopérnico era apenas um intermediário entre a empresa energética e os seus cooperadores. Uma situação que apenas podia ser revertida caso a cooperativa conseguisse ingressar no mercado energético nacional, o que implicaria o pagamento de garantias bancárias, que em 2018 duplicaram de cem para duzentos mil euros, com a entrada em vigor da portaria n.º 11/2018.

Desde o final de 2019, mais concretamente, desde novembro que a Coopérnico está a fazer contratos de fornecimento de energia diretamente com os consumidores em concorrência direta com os grandes comercializadores. As condições de fornecimento e a simulação podem ser consultadas no seu site (www.coopernico.org) e na informação da ERSE já surgimos como alternativa (https://simulador.precos.erse.pt/). Uma alternativa que não altera o foco da cooperativa.

Apesar da Coopérnico ser novidade em Portugal, em toda a União Europeia existem mais de 2 mil iniciativas semelhantes, um número que revela as diferenças do tecido empresarial no sector energético nos diversos países.

Apesar de não ser único na Europa, este é um projeto pioneiro em Portugal e não tem passado indiferente por cá. Em 2018 a Fundação Calouste Gulbenkian reconheceu a ideia como “inovadora” e de “grande relevância” com a atribuição do Prémio Gulbenkian Sustentabilidade, galardoando a cooperativa com 50.000€.

Numa altura em que cada vez mais se fala de crise climática e transição energética, 2020 tem tudo para um ano importante para esta cooperativa. Nos próximos meses é esperada a concretização da ligação das centrais fotovoltaicas planeadas (duas em instalação e uma aguarda investimento), para que seja possível produzir “tanta ou mais energia” do que a consumida pelos clientes.

Até hoje, o investimento foi feito inteiramente em painéis fotovoltaicos, pois é a tecnologia que permite “maior intervalo do valor de investimento”; porém permanece como objetivo da Coopérnico “diversificar o seu mix de energias renováveis”, por uma transição energética marcada não só pela diferença na fonte, como na forma de gestão de um activo tão importante.

Adira, mudando o seu contrato de eletricidade para a Coopérnico, a primeira cooperativa de Energias Renováveis em Portugal!

 

Comments

  1. João Paz says:

    Se ou quando houver uma situação destas em Coimbra sou o primeiro a aderir. Parece-me excelente a vários níveis.

    • Boa tarde. Há cooperantes na zona de Coimbra e estamos a tentar organizar um Grupo Local por lá. A primeira inicitiva será a realização de uma reunião alargada para perceber quem está disponível para dinamizar a Coopérnico na região. O contacto é rpval@coopernico.org

  2. JgMenos says:

    Supondo que os cooperantes não são maioritariamente técnicos de instalação e manutenção de painéis, a diferença operacional para uma sociedade por acções é…?

    • POIS! says:

      Pois é…

      Não poder haver tubarões a comprá-la se lhes cheirar a lucros ou efetiva concorrência (neste caso para a fechar); os excedentes serem obrigatoriamente reivestidos ou devolvidos aos cooperantes e não distribuídos como dividendos; as decisões serem tomadas pelos votos dos cooperantes e não “das ações” (sim, por um passe de mágica juridico-capitalista as ações votam!).

      Só uns exemplos.Quanto ao resto leia o Código Cooperativo.

      Ah! E porque os sócios querem que seja assim. E porque o envolvimento direto dos beneficiários é sempre socialmente positiva.Estes argumentos chegam para todos os outros!

      • JgMenos says:

        «os excedentes serem obrigatoriamente reinvestidos ou devolvidos aos cooperantes e não distribuídos como dividendos»

        Os excedentes…que ternurento!
        Nada desses horrorosos lucros.

        • POIS! says:

          Pois claro, Herr JgMenos!

          Não se trata de ternura nenhuma! Os lucros são excedentes mas nem todos os excedentes são lucros! Aliás uma das rubricas da Contabilidade Nacional, no Sistema de Contas Europeu chama-se “Excedente Bruto de Exploração”. Porque não “Lucros de Exploração”? Deve ser por excesso de ternura lá dos tipos da UE! Aquilo por lá é uma ternurinha desgraçada!

        • POIS! says:

          Pois ainda mais claro (e mais uma ternurinha, desta vez do legislador):

          “Código cooperativo

          Artigo 100.º

          Distribuição de excedentes

          1 – Os excedentes anuais líquidos, com exceção dos provenientes de operações realizadas com terceiros, que restarem depois do eventual pagamento de juros pelos títulos de capital e das reversões para as diversas reservas, poderão retornar aos cooperadores.

          2 – Não pode proceder-se à distribuição de excedentes entre os cooperadores, nem criar reservas livres, antes de se terem compensado as perdas dos exercícios anteriores ou, tendo-se utilizado a reserva legal para compensar essas perdas, antes de se ter reconstituído a reserva ao nível anterior ao da sua utilização.”

          Já percebeu, ó Menos?

          • JgMenos says:

            …poderão retornar?
            Não são dividedos, são retornados, que doçura!

          • POIS! says:

            Pois!

            Já se cá tinha notado que V. Exa. tem pinta de dividendo das ex-colónias. O seu perfil salazaresco não engana.

  3. Pedro Vaz says:

    Mais uma ONG-tacho a promover o neo-feudalismo Globalista.

    • POIS! says:

      Pois, mas não é a pior de todas!

      A pior de todas é o Grémio Internacional dos Vendedores de Castanhas Assadas. Essa sinistra organização é dirigida por um Capítulo Superior de tenebrosos interesses, onde avultam representatntes de famílias poderosas tais como os Garcías de Espanha, os Martins de França, os Smiths de Inglaterra ou os Muller da Alemanha. Estão representados no nosso país por próceres ao serviço dos Silvas tais como Toneca Catrapão e Maria Mocas, recentemente referenciados no âmbito do famigerado caso “Castanha Leaks”.

      Globalmente este Grémio tornou-se um poderoso manipulador do livre mercado da castanha assada impondo preços cartelizados para a dúzia, significativamente composta por catorze castanhas o que não acontece por acaso. O catorze é o número sagrado dos antigos Gróvios um povo que viveu no Alentejo e deu origem ao termo esgroviado, muito comum entre vendedores de castanhas.

      A promoção do neo-feudalismo Globalista é feita subrepticiamente através dos pacotes das castanhas em mensagens cifradas. Nas redes sociais, que é onde se dizem as verdades que o André Ventura depois diz na AR e que volta a escrever nas redes sociais para voltarem a ser verdades e assim se sucedendo sucessivamente, circulam várias fotos de pacotes suspeitos onde avultam frases enigmáticas tais como “novidade! Viúva quarentona e menina de 19 aninhos feitos anteontem; atuam juntas e separadas; venha experimentar!”.

      E já reparou no fumo lançado para o ar? Não será um meio de comunicação secreto? E não será, afinal, o principal responsável pelas emissões que aumentam o efeito de estufa?

      O que nos vale é que o Ventura já começou a denunciar o caso: “é uma vergonha! Castração total para os vendedores de castanhas!Ai se não me aconselham….”

    • brasuca pro brasil says:

      Mais um facho brasuca a apoiar o JGMenos Neo Nazi

    • Paulo Marques says:

      Uma cooperativa de âmbito nacional é feudalista e globalista? Tão claro como o céu ser verde.

  4. Luís Lavoura says:

    em telhados de instituições de caráter social, educacional ou estatal

    Porquê somente em telhados de instituições? Porque não em telhados de casas particulares, ou em pátios, ou em terrenos abandonados…?

    Há em Portugal montes de casas de férias que dariam ótimos sítios para colocar painéis solares. Ou seus proprietários não os instalam porque somente utilizam eletricidade nessas casas nos poucos dias que nelas passam.

    • Carlos Almeida says:

      Quem instalar de por exemplo 500 W de paineis solares fornecidos por exemplo pelos Mexias e Cia ou mesmo outros e não estiver em casa porque está a trabalhar durante o dia e horas de Sol, tem um consumo de no maximo 100 ou 150 W ( frigorífico)
      O resto da energia produzida pelos paineis e não consumida na casa, segue para a rede da EDP/Mexias para eles venderem a outros. Felizmente já há controladores que limitam a energia de modo a evitar isso

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