Selecção nacional: professores e jogadores

Os professores e os jogadores da selecção nacional de futebol têm algumas coisas em comum, começando, de uma maneira geral, pela nacionalidade e por outros pormenores como membros inferiores e superiores acompanhados por órgãos e vísceras.

Professores e jogadores estão ao serviço do país, esperando-se que todos sejam sérios e exigentes quando desempenham os respectivos papéis. Há uma diferença: os professores não ganham internacionalizações de cada vez que dão uma aula.

A uni-los existe, ainda, o trabalho invisível – uns treinam, outros preparam aulas ou corrigem testes. Há uma diferença: algumas pessoas acreditam que os professores só trabalham o número de horas que passam na escola a dar aulas. De resto, todos sabem que um futebolista passa a semana a preparar-se para os jogos, até porque seria um disparate trabalhar apenas noventa minutos por semana. Curiosamente, até os suplentes que não chegam a sair do banco estão a trabalhar.

Professores e futebolistas viajam a fim de cumprir compromissos profissionais. Fazem-no também em nome da pátria: os atletas, quando representam a selecção, os professores, sempre que se deslocam para as escolas. Há, no entanto, uma diferença: os jogadores da selecção estão livres de despesas, enquanto os professores pagam do seu bolso as deslocações, a alimentação ou o alojamento.

De um lado, temos, então, milionários que não gastam um tostão no cumprimento do seu dever; do outro, temos profissionais fundamentais para o funcionamento de uma nação que pagam para cumprir as suas obrigações.

Não defendo que os atletas que representam o país, seja em que modalidade for, devam pagar as despesas inerentes a esse facto, mas o avião de luxo de Ronaldo e companhia fez-me pensar nas camionetas, nos autocarros nos comboios e nos carros (particulares, claro) que transportam a selecção nacional que ensina os filhos de todos. Parecendo que não, dá que pensar.

Comments

  1. João Mendes says:

    Seu grandessíssimo comunista! Deus Nosso Senhor te dê juizinho.

  2. Joana Quelhas says:

    Os professores como funcionários públicos tem imensas vantagens (privilégios em relação ao demais) só pelo facto de serem isso mesmo : funcionários públicos.
    Aqui o Nabais não escreve um post a lamentar que um operário fabril para além de um contribuinte líquido fiscal(a contrario do fp), tem direito à reforma mais tarde, a reforma é inferior , não pode faltar ao trabalho por n motivos ( colocar aqui a miríade de motivos que um fp pode faltar ou é dispensado como por exemplo o primeiro dia de escola dos filhos), tem salários mínimo superior, horário de 35 horas , direito a saúde privada (a saúde publica é para os trabalhadores da privada) etc, etc.
    No entanto o Nabais toca aqui num assunto que está mal desde a origem.
    Nem educação nem o desporto são serviços que devam de ser providos pelo Estado.
    Vejamos pois o exemplo dos EUA.
    A representação desportiva internacional está a cargo de uma empresa PRIVADA (Team USA) que por esse facto obtém os melhores resultados e não dá origem ao “calimerismo” de privilegiados como se pode ver neste post.
    Se os professores estão descontentes do patrão Estado, porque não se mudam para o “privado” ? Ou por problemas cognitivos ou porque estão bem melhor à sombra do Estado protector e pouco exigente no que diz respeito a resultados …

    Joana Quelhas

    • António Fernando Nabais says:

      A Joaninha, simplória profissional, deixa aqui um comentário que é um repositório de tretas habituais:
      1 – quando alguém aborda um assunto, deveria ter abordado outro. Se há pessoas que ainda estão piores do que os professores, não faz sentido falar dos problemas dos professores. Conclusão: o único assunto legítimo deverá ser o das crianças que passam fome.
      2 – o facto de haver quem tenha menos direitos (para os simplório, direitos são privilégios) deve levar à retirada dos que tiverem mais.
      3 – a Joaninha tem a crença simplória de que a solução está em privatizar tudo, porque só o Estado é que tem defeitos.
      4 – finalmente, o simplório neoliberaloide vem sempre com a treta de que quem critica o patrão ou o sistema deve mudar de emprego. A Joaninha, como tem problemas cognitivos, não sabe é não quer saber que os professores no privado (o paraíso dos neoliberaloides) são explorados até ao tutano.
      És muito básica, querida, e, por isso, vês o mundo de modo maniqueísta, como é próprio dos burros ou dos “trolls”.

      • José Meireles Graça says:

        E é que não é só ela. Aqui o fascista simplório acha que, se o transporte não for pago com dinheiros públicos, mas sim, indirectamente, pelos milhões de amantes do futebol, isso não é da conta do autor, nem minha.

        • António Fernando Nabais says:

          O transporte da selecção nacional não é pago com dinheiros públicos? Essa é nova!

        • Paulo Marques says:

          Os descontos fiscais surgem do éter.

      • “2 – o facto de haver quem tenha menos direitos (para os simplório, direitos são privilégios) deve levar à retirada dos que tiverem mais.”
        Salvo se os que têm mais pertencerem ao 1%. Esses, como sagazmente observou John Kenneth Galbraith, precisam de ganhar mais para trabalharem e criarem riqueza, ao contrário de nós, os outros, que mandriamos por ganharmos demasiado.

    • POIS! says:

      Pois diz a Qwelllhhasss…(*)

      “Se os professores estão descontentes do patrão Estado, porque não se mudam para o “privado” ? Ou por problemas cognitivos ou porque estão bem melhor à sombra do Estado protector e pouco exigente no que diz respeito a resultados …”

      Pois é! Estão descontentes do patrão, descontentes da habitação, descontentes da gasolina, descontentes dos transportes, descontentes de coisas e de loisas…

      Num aspeto Vosselência tem razão. O Estado é pouco exigente no que diz respeito a resultados: basta ler as prosas de Vosselência…

      (*) Sigo a máxima do Alencar (seja ele quem for…), aqui doutamente trazida por Vosselência: “não mencionar o…Vosselência”.

    • Pimba! says:

      Por aqui se aquilata a falta que fez à Joanha Quelhas um professor… pois, lá na favela quem é pobre não pode continuar a estudar, faz o curso pelos grupo do ZapZap!
      tadinha!

    • Paulo Marques says:

      Ui, que paraíso, onde é que assino com esses condições?
      Quanto à independência do desporto na américalândia, lá por não precisar de bombardear alguém nesse sector, não faltam apoios directos e indirectos, como em todo o lado.

  3. Maria Ferreira says:

    Não há professores no privado 🤣?! A sério?!
    Conhecem alguém que não sendo ou não vivendo com um professor reconheça o trabalho desenvolvido em casa?
    Querem saber o maior desgaste emocional, psicológico, … que há na vida de um professor? A campainha toca na última aula do dia e o professor continua a pensar no trabalho, vai tratar das responsabilidades familiares a pensar no que ainda tem que fazer depois do jantar, deita-se a pensar que não conseguiu fazer tudo … e sabem quantos dias no ano isto acontece? Muitos. Muitos. Muitos.
    Ser professor… ser professor… ser professor … o tempo não para

    • Anonimo says:

      Ainda bem que isso só se passa com a classe profissional dos professores. Felizmente nunca passei por isso, sou um privilegiado.

      • António Fernando Nabais says:

        Tem razão – dizer que houve professores que tiveram varicela é o mesmo que dizer que a varicela não afectou pessoas das outras profissões. Obrigado por ter lembrado.

        • Anonimo says:

          Do longo choro da Maria Ferreira é o que se retira.
          “A campainha toca na última aula do dia e o professor continua a pensar no trabalho, vai tratar das responsabilidades familiares a pensar no que ainda tem que fazer depois do jantar, deita-se a pensar que não conseguiu fazer tudo … e sabem quantos dias no ano isto acontece? Muitos. Muitos. Muitos.”

          Realmente, só tenho de fazer vénias, eu e todos os outros que picam o ponto e desligam. Vida santa.
          (Se quisesse ser demagogo diria que há professores que nem antes da campainha se importam, quanto mais depois. Desgraçados e farsantez há em todas as profissões)

      • Paulo Marques says:

        Claro que se passa com mais carreiras, mas continua fazer-se de conta que há 35h de trabalho na fp quando nem isso está em boa parte dos contracto, quanto mais o real.
        E, normalmente, é inveja da ainda não derrotada solidariedade de classe.

  4. Júlio Santos says:

    Se cada um se cingir apenas a valorizar a sua classe profissional, pondo-a no píncaro das atenções, não vamos a lado nenhum. Nem um pedreiro arrisca pôr uma gravata para poder dar aulas, porque não tem competência para tal, nem o professor arrisca sequer vestir um fato de macaco para poder pegar numa talocha e assentar tijolo, pela mesma razão de que lhe falta competência para tal. Posto isto, poderá avaliar-se quem deve ser mais bem remunerado? Há países que valorizam mais os primeiros do que os segundos. Mas em Portugal, como é um país de doutores, dizem que a unidade faz a força.

    • António Fernando Nabais says:

      Realmente, é um disparate os professores falarem das suas condições de trabalho. Os professores deveriam falar apenas das funções que não desempenham e que, de preferência, ignorem. Há países que valorizam mais os pedreiros do que os professores? O Júlio, como é um homem sério, vai voltar a esta caixa de comentários e deixar aqui uma lista. Júlio, dou-lhe os parabéns: os seus comentários continuam a revelar as mesmas qualidades de sempre – é coerência.

      • Júlio Santos says:

        COERÊNCIA ATÉ AO FIM, obviamente.
        Por mim, todas as profissões devem ser valorizadas, mesmo a dos professores. Mas, se cada um quiser puxar a brasa á sua sardinha, menosprezando os outos, então vamos ter cada vez maiores desigualdades entre as classes profissionais.

        • António Fernando Nabais says:

          Mesmo os professores devem ser desvalorizados? Quanta bondade!
          As desigualdades entre as classes profissionais resultam de cada um puxar a brasa à sua sardinha? Aí está um nexo de causa-efeito extraordinário!
          É verdadeiramente extraordinário o dislate de pensar que o facto de um profissional falar da sua profissão significa que despreza as outras!

          • Júlio Santos says:

            O termo “desvalorizar”, relativo aos professores, é seu e não meu. Sim, há classes que não são valorizadas porque não gritam e, por isso, não são ouvidas, sendo ultrapassadas pelas classes que mais disponibilidade teem para se manifestarem. É só isso.

          • António Fernando Nabais says:

            Tem razão: o “desvalorizar” foi um erro meu. O resto é de rir:
            1 – uma classe não deve protestar se souber que outras não têm voz. Ou fala tudo ou não fala ninguém.
            2 – os professores têm obtido imensos ganhos, efectivamente.

    • Paulo Marques says:

      Cada um só pode protestar por si, não pelos outros. Agora que podia haver solidariedade, podia, até porque depois há quem crie “sindicatos” só para si e para os amigos.
      Mas se fosse assim ainda fazíamos como os países de bem, e andávamos a proibir greves e manifestações públicas. Mesmo assim, já faltou mais.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading