
Perto do fim de uma entrevista conduzida por Domingos de Andrade (TSF) e Rafael Barbosa (JN), Carvalho da Silva elenca os problemas que deveriam ser as prioridades de qualquer governo.
“A preocupação primeira do Governo, do presidente da República e de quem quiser intervir na política deve ser a de olhar para os bloqueios com que o país se debate. Há quatro ou cinco grandes questões que têm que passar para o centro da observação de forma clara, ou vamos andar na reprodução contínua de casos e casinhos, ou de intervenções do presidente, umas vezes a meter a mão por baixo do Governo, outras vezes a dar-lhe uma martelada. Isto não tem interesse nenhum. A questão em que nos devemos centrar quando discutimos hipóteses de futuro, é, em primeiro lugar, como se resolve o baixo perfil da economia e do tipo de emprego. E aí há três coisas a considerar. A desvalorização salarial e das profissões como estratégia da economia não pode continuar. Não é possível termos um futuro melhor se as empresas portuguesas não se posicionarem melhor nas cadeias de valor. Não é possível persistir-se nesta ideia de que o modelo de turismo que temos é a grande salvação e secundarizar-se a industrialização. O segundo grande problema é o demográfico. Não podemos estar a exportar jovens que formámos, quando necessitamos deles, e, por outro lado, não podemos utilizar a imigração como fator de manutenção de baixos salários e de exploração. São os défices na habitação, na mobilidade e na coesão territorial. É o problema da pobreza estrutural, tema a que nem o Presidente da República, nem outras instituições dão grande atenção. É chocante a condescendência com a pobreza que temos.”
Uma entrevista muito interessante, da qual deixo mais algumas partes.
Sobre os protestos actuais:
“Acho que há muitos portugueses zangados. Uma governação que desrespeita obrigações inerentes ao exercício do poder, só pode esperar o protesto e até o desrespeito da sociedade”
Mudar o significado das palavras, como em “O triunfo dos porcos”:
“o valor absoluto das chamadas contas certas é bloqueio ao cumprimento de obrigações para com outros valores e outros direitos”
“A expressão contas certas não é mais do que o eufemismo que o PS utiliza para políticas de austeridade”
O protesto dos professores:
“Os professores não estão a reivindicar, neste momento, nem aumentos de salários, nem novas carreiras. Os professores estão a fazer uma denúncia da situação em que se encontram, que é de achincalhamento e de exaustão, por cargas de trabalho letivo e burocrático, e um protesto forte, porque os seus direitos não são tidos em conta, enquanto os governantes fingem que respondem e não respondem.”
“Eu tenho a preocupação de que, mais uma vez, se tente tramar os professores”
O período de pausa no sindicalismo durante a Geringonça, reconhecida nas estrelinhas:
“O que eu digo é que foram-se acumulando cargas, há uma faísca e dá-se uma explosão. E ainda bem. É positivo que isto aconteça. Agora, para haver solução, em democracia, as coisas têm que ser reconduzidas a um quadro de diálogo. E aquilo a que chamaram os sindicatos tradicionais terão um papel muito ativo na resolução dos problemas.”
A baixa representação sindical no sector privado:
“O sindicalismo debate-se desde logo com isto: as causas surgem e não podem estar alheias da agenda, mas para haver identidade coletiva, que é base para a comunidade, é preciso haver fatores transversais. E não há nenhum fator tão comum ao conjunto dos cidadãos, à escala global, como o trabalho. A centralidade do trabalho foi colocada de lado. “
A moda dos colaboradores:
“A introdução quase de forma dominante, em certos meios, do conceito de colaborador em substituição do conceito de trabalhador, que é uma patetice. As relações de trabalho ou têm quadros de direitos e deveres bem definidos ou não há uma rentabilização do trabalho. Quando se usa a palavra colaborador está-se a induzir a ideia de que não há duas partes, há uma entidade e os outros colaboram.”
“trabalhadores organizavam-se em sindicatos e os colaboradores já não querem organizar-se em sindicatos“
“Não é só isso [trabalhadores organizavam-se em sindicatos e os colaboradores já não querem organizar-se em sindicatos]. Isso tem a ver com o individualismo exacerbado que o neoliberalismo utiliza. Não é exatamente isso que estou a relevar. O que estou a relevar é que é necessário a existência de quadros bem definidos desses direitos e deveres e do funcionamento da representação das duas partes, para que um sistema de relações de trabalho funcione plenamente. Por fatores inerentes à precariedade, por fatores de individualismo exacerbado ou outras dinâmicas do neoliberalismo, pela mudança de políticas, há uma tentativa de impor o unilateralismo nas relações de trabalho.”
CGTP braço sindical do PCP. E, acrescento eu, a UGT como o aliado sindical do PS.
“Os sindicatos devem ter uma agenda social concreta e própria. Agora, não sejamos anjinhos, não há vitórias de agendas sociais se não tiverem a interpretação das agendas políticas que forcem a que os temas sociais colocados sejam vitoriosos. A conjugação das duas agendas leva, necessariamente, a dizer que os sindicatos têm que ter autonomia, mas que os sindicatos não podem fazer de conta que tanto vale um poder político como o outro. Isso é um absurdo total.”
O segundo grande problema é o demográfico. Não podemos estar a exportar jovens que formámos, quando necessitamos deles, e, por outro lado, não podemos utilizar a imigração como fator de manutenção de baixos salários e de exploração.
Esta é uma visão conservadora, típica do Partido Comunista. As migrações são um fenómeno positivo, qe enriquecem os migrantes, a sociedade que os emite, e a sociedade que os recebe. Se exportamos jovens, isso é bom. Se recebemos imigrantes, isso também é bom. Dizer que o problema demográfico consiste em haver emigração e imigração é totalmente errado.
Estamos no bom caminho, então. Como se vê no leste, quanto mais saem, maior é o progresso do PIB per capita, o suprassumo. Os alentejanos é que a sabem toda.
Como se vê no leste, quanto mais saem, maior é o progresso do PIB per capita
Exatamente. Veja-se por exemplo a subida do PIN per capita da Lituânia, a qual perdeu um terço (isso mesmo: 35%) da sua população desde 1990. Todos os jovens lituanos formados e ambiciosos emigraram e, como resultado, o PIB per capita lituano cresceu e cresceu.
Ou veja-se o caso de Portugal, que nas décadas de 1960 e 1970 emitiu emigrantes sem fim, e como resultado dessa emigração toda se fartou de crescer – na década de 1960 Portugal era considerado o milagre da Europa, tal era o seu crescimento à medida que os portugueses fugiam todos para França.
Emigração é crescimento e desenvolvimento.
Qual era a formação de base dos emigrantes dos anos 60 e de agora? Pois.
Emigração é crescimento e desenvolvimento
🙂
Felizmente, emigração era no tempo do Passos. Até a rtp ia para o aeroporto entrevistar as mães chorosas. O Dr Costa inverteu essa emigração anti-patriota, com as suas políticas de excelência.
É, quem fica e quem pagou é que, bom, azarito. Precisamos de médicos e outros técnicos altamente especializados para quê, mesmo, se é para deixar cair de podre?
Está bem, está. Andamos 15 a 20 anos a formar profissionais para depois irem aos magotes para o estrangeiro.
outro da gestapo este também quer proibir
Pois é, ó burreiro!
O J. Cordeiro até já preconizou um campo de concentração de enfermeiros, com uma delegação em Barrancos, destinada mais a médicos e outros qualificados semelhantes.
Com a diferença que o de Barrancos pode ser de morte. Os gajos não têm emenda.
What ?
Faça assim; imagine que é uma empresa a pagar a formação a quem podia estar a trabalhar, e que se poem a andar acaba. Chamar-lhe ia bom investimento?
Sendo que essas têm mesmo cláusulas para que não o façam; tirando uma proposta limitada bem intencionada, mas disparatada, do BE, nem é isso que está em causa.
Temos de exportar gente. Novo negócio. Tragam cá as nórdicas, coloquem o Camarinha como Ministro.