Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain

Foi através das suas séries televisivas que conheci Anthony Bourdain. Uma personagem fascinante que nos levava a viajar pelo mundo através de experiências gastronómicas. Aliás, os diferentes episódios eram sobre tudo menos gastronomia. Ou melhor, a gastronomia era uma desculpa. Não tinha medo de exprimir a sua opinião. Fosse na Palestina, em Israel ou até em Lisboa. Nunca vou esquecer a sua visita ao Porto e a grata surpresa da sua ida à Areosa para experimentar as famosas Tripas à Moda do Porto do restaurante “Cozinha do Martinho“.

Ontem, finalmente, consegui ver o filme sobre a sua vida: “Roadrunner, A Film About Anthony Bourdain” (2021, CNN). Um murro no estômago como aquele de 8 de Junho de 2018 quando se soube da sua partida. Um filme como Anthony: inquieto, frontal e cru. A não perder.

 

Monte negro e Moedas pretas

Temos que escolher pessoas mais compatíveis com o nosso modo de vida. Procurar pelo mundo comunidades que melhor possam interagir com os portugueses

Esta frase, ao contrário do que possa parecer, não foi dita pelo líder da extrema-direita portuguesa. Foi dita pelo proto-líder da oposição, o presidente do PPD sem SD, Luís Montenegro, aos microfones abertos de alguns jornalistas, quando questionado sobre o incêndio que vitimou duas pessoas imigrantes na Mouraria.

Traduzindo, diz o líder dos laranjas que imigrantes em Portugal só se forem da nossa cor, partilhem da mesma cultura e tenham muitos euros na conta (numa offshore suíça, de preferência). A maçonaria fez muito mal a Luís Montenegro (e o legado de Passos Coelho, também).

O PPD vive este dilema (e não é se assume, ou não, a herança de Pedro Passos Coelho – essa herança passeiam-na com bastante orgulho): se se afasta do CHEGA para conquistar eleitorado ao centro (e, por conseguinte, ao Partido – quase nada – Socialista) ou se se cola à extrema-direita para ir buscar eleitores que, descontentes, votaram nos proto-fascistas portugueses. Nuns dias, aparece-nos como moderado, dizendo que quer voltar a ocupar o centrão e a pôr de parte o papão da extrema-direita; noutros, decide imbuir-se do espírito populista e demagogo que André Ventura e a sua máfia destilam por esse Portugal afora. Mas terá de se decidir rapidamente. Ou quer ser o partido do centro e tirar o lugar ao PS, ou quer ocupar a direita inteira, fazendo também o papel dos populistas. O Montenegro só cá quer montes brancos. 

Se Luís Montenegro não se galvanizar e não for galvanizado, Carlos Moedas, hoje presidente da Câmara Municipal de Lisboa, estará à coca para lhe ocupar o lugar. Mas, infelizmente para os portugueses, Moedas decidiu, também, abrir a bocarra para nos fazer sentir o seu bafo de onça.

Imigrantes em Portugal só se tiverem contrato de trabalho

A tradução: imigrantes em Portugal só endinheirados e montados num unicórnio colorido que vomite muitos euros. Moedas não quer cá moedas pretas.

Portanto, talvez seja ainda pior a emenda do que o soneto. E se é este tipo de posições políticas e este tipo de políticos que o PPD tem para oferecer, a bem que se juntem ao CDS e se enterrem na mesma campa, porque para lá caminham. Um partido que está refém da extrema-direita, pois sabe que não chegará ao poder sem a ajuda do ex-militante André Ventura (um prodígio, convém lembrar, lançado por Passos Coelho), é um partido que não pode, em condições algumas, governar Portugal.

Lia por aqui sobre os dilemas do PPD na assunção da herança de Passos. Não há qualquer dilema: o PPD juntar-se-á à extrema-direita, que foi uma criação do ex-Primeiro-ministro, e tem todo o orgulho em fazê-lo, por muito que o esconda para não parecer mal (e Miguel Pinto Luz – e, imagine-se, Miguel Relvas – já não o esconde). Pedro Passos Coelho baixou as calças do PPD e mostrou o olho a André Ventura, que se lambuzou todo e está, desde 2017, a sodomizar o partido de Sá Carneiro.

André Ventura enfiou o braço todo no PSD. Bem até lá ao fundo. E eles estão a adorar. É um amor de perdição.