Alterações climáticas, em Portugal um não-tema

Bem podem o Alentejo e o Algarve estar em situação de seca severa, as temperaturas a níveis cada vez mais extremos: a única coisa realmente interessante é o PIB – mesmo que as pessoas continuem a fazer equilíbrios para chegar ao fim do mês. Não se larga o osso do modelo de agricultura super intensiva – que contribui para agravar a situação – nem a construção de enormes hotéis e resorts.  É sabido de cor e salteado que não é possível continuar com a ideia fixa do crescimento e delapidação de recursos, é sabido que há que priorizar a acção climática AGORA, se se quer evitar os pontos de ruptura climática, mas segue-se o caminho errado até ao fim, agarrados ao status quo que já nos trouxe aqui onde estamos. O governo/os governos/os presidentes de câmara querem ser eleitos; regulamentar bens escassos como a água – acabar finalmente com monoculturas exigentes em água, onde ela é exígua, acabar com piscinas em cima de cada apartamento dos condomínios de luxo, dimensionar o turismo em vez de o alavancar a todo o vapor – tudo isto não é nada favorável à obtenção de votos. Portanto adiante. Dessalinização para continuar no ritmo predador. Os preços da água aumentam? Paciência, o agronegócio precisa.

Este governo demonstra todos os dias que a preservação do ambiente lhe é igual ao litro e o ministro do ambiente só aparece para anunciar e justificar medidas com impactos negativos para o ambiente. Um pseudo-ministro do ambiente, com a função de legitimar os negócios. E pelo poder local abaixo, afinam-se todos pelo mesmo diapasão.

Os negócios. O crescimento. O PIB. A alimentação do sistema insaciável. A corrida para o precipício, ao som dos estridentes gritos neoliberais pela liberdade de conduzir um SUV em cidades enfartadas.

Bens escassos como a água terão, obrigatoriamente, que vir a ser racionados e terá de haver ALGUMA justiça nisso. Bem podem espernear os neoliberais: Quando chegar o momento da sobrevivência do e no planeta, a liberdade não lhes vai servir um tusto. E ainda vão clamar pelo estado para vir gerir a escassez. Como aliás já clamam quando há disrupções.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    Dessalinização para continuar no ritmo predador. Os preços da água aumentam? Paciência, o agronegócio precisa.

    Não vejo bem qual a relação entre o agronegócio e a dessalinização.

    É evidente que o turismo dá muito dinheiro ao Algarve, e os turistas estão dispostos a pagar para terem as suas piscinas cheias com água dessalinizada. Naturalmente que a dessalinização fica cara, mas os turistas estão dispostos a pagar. Se as pessoas pagam 100 euros para dormirem uma noite num hotel no Algarve, porque não hão de pagar 120 euros para, além da dormida, terem também direito a consumir água – dessalinizada?

    Sem dessalinização, pura e simplesmente não haverá possibilidade de viver no Algarve, da mesma forma que não seria possível viver na Arábia ou mesmo em Israel sem dessalinização. A Ana Moreno preferiria um Algarve com metade da sua população (de inverno) atual, e sem turismo?

    Em vez de lutar contra a dessalinização – que é uma coisa atualmente amplamente praticada, a começar por Espanha aqui mesmo ao lado – a Ana Moreno deve lutar para que a água dessalinizada seja devidamente paga por quem a consome, inclusivé pelo setor agrícola – em vez de ser subsidiada pelo Estado, como atualmente a água do Alqueva é.

    • Paulo Marques says:

      Sei lá, porque o último recurso piora o problema com enorme consumo de energia e poluição? Talvez? E que, por muito que se fantasie, o mercado é o mesmo para todos?

      • Santiago says:

        A ideia do Lavoura é extremamente simples. Não se raciona a água, aposta-se na construção de estações de dessalinização pagas por todos nós para depois se privatizar essas mesmas estações.

        Cartilha liberal de andar a parasitar a sociedade não falha uma vez

        • Luís Lavoura says:

          aposta-se na construção de estações de dessalinização pagas por todos nós para depois se privatizar essas mesmas estações

          Eu não falei em privatizar nada. Falei em as pessoas todas – incluindo o setor agrícola e os turistas – pagarem a água que consomem ao preço que ela custa a ser produzida, por dessalinização ou por outro método qualquer.

          Também não falei em as estações de dessalinização serem “pagas por todos nós”, pelo contrário, especifiquei que o custo do investimento nelas deve ser amortizado no preço da água que elas produzem.

          • Santiago says:

            E que tal deixarmos de lado a utopia dos campos de golfe e a produção intensiva e apostar numa melhor gestão da água que não passe pela mercantilização?

        • Luís Lavoura says:

          Cartilha liberal de andar a parasitar a sociedade

          Pelo contrário, eu disse que sou contra os parasitismos. Cada um deve pagar integralmente a água que consome, incluindo nesse “integralmente” a amortização do investimento em barragens, estações de dessalinização, ou o que seja. Nada de parasitar, portanto: quem consome, paga. És livre de consumir quanto quiseres, mas pagas cada litro que consumas ao preço integral do custo.

          • Paulo Marques says:

            Os neoliberais, na sua magnância, permitem que ricos e pobres paguem o mesmo valor monetário por um bem essencial à vida e o mesmo valor por um iate de luxo.

          • Anonimo says:

            A questão é saber se bens (água e energia) que deviam ser poupados devem estar integrados num sistema económico de consumo

  2. Luís Lavoura says:

    Bens escassos como a água terão, obrigatoriamente, que vir a ser racionados e terá de haver ALGUMA justiça nisso.

    Para que se há de racionar a água, se é possível dessalinizá-la? A solução não passa por racionar a água, ao contrário do que escreve a Ana Moreno, mas sim por forçar os consumidores de água – inclusivé os consumidores no setor agrícola – a pagá-la ao preço que custa a produzi-la – incluindo os custos da construção das infraestruturas.
    É verdade que muitas agriculturas intensivas fecharão no dia em que forem forçadas a pagar a água que consomem ao preço que custa a produzi-la, e a Ana Moreno (e eu) ficará muito satisfeita com isso. Mas os turistas, pelo contrário, esses não deixarão de querer ter as suas piscinas por esse facto! E deixemo-los tê-las – desde que paguem a água que as enche.

    • Paulo Marques says:

      Portanto, passa a só haver comida para ricos, e tá tudo bem, como na habitação?

      • Luís Lavoura says:

        Naturalmente que podem ser criados esquemas (que penso já existirem pelo menos nalgumas partes de Portugal) em que um número limitado de metros cúbicos de água é fornecido a clientes residenciais a um preço baixo ou nulo, sendo a água paga ao preço de custo apenas quando para além desse consumo mínimo.
        Isso corresponde, de alguma forma, ao racionamento tanto do gosto da Ana Moreno. Uma quantidade racionada de água é fornecida a um preço baixo ou nulo.

        • Paulo Marques says:

          E a quantos banhos tem direito um pobre? Deve gastar um ordenado numa máquina de lavar para poupar para mais um?

    • marsupilami says:

      Luís,

      Qual é o custo energético da dessalinização?

      Actualmente grande parte da dessalinização é alimentada com energias fósseis. Pagar não extrai o CO2 da atmosfera nem repõe os stocks. Se, em alternativa, precisarmos de empregar uma quantidade significativa de energia eléctrica para dessalinizar em grandes quantidades, isso virá acrescentar uma sobrecarga significativa aos já sobrecarregados sistemas de produção de electricidade. Pagar não alarga os gargalos limitantes neste processo.

      • Luís Lavoura says:

        O custo energético da dessalinização não sei qual é, mas é grande. É aliás por isso que a água dessalinizada fica muito cara…
        Mas não vamos dizer às pessoas que não podem (estão proibidas de) consumir porque o custo energético é grande. Há muitas outras coisas cujo custo energético também é grande (a começar pelo vôo de avião que traz as pessoas para o Algarve), mas são permitidas.
        Aliás, a própria alimentação tem atualmente um custo energético enorme. A agricultura moderna é basicamente uma maneira elaborada de transformar combustíveis fósseis em alimentos. Mas nem por isso dizemos às pessoas para não comerem…

        • Paulo Marques says:

          Decidir desperdiçar-se tanto para mercantilizar ao máximo a energia barata e destruir o terreno até agora substituível não faz dela mais ineficiente. Destruir a galinha dos ovos de ouro foi uma escolha, e fazer de conta que está saudável é outra.

  3. Paulo Marques says:

    Enquanto houver pão e circo, até guerras se inventam.

  4. JgMenos says:

    Isto está cada vez mais caricato.
    Ainda hoje ouvi – por instantes – uma idiota do governo com a cena dos direitos: ‘quem tem qualificações adquiridas no estrangeiro tem que chegar cá e ser reconhecido’…e imagino que se seguiu o chorrilho que abrange quem estagia, quem é mulher, quem é homo, quem é o raio que os parta.

    Ninguém tem que ser pago pelo que é, mas pelo que faz!

    E de fazer, de medir o que se produz, a cambada sabe nada e não quer saber.
    Esta merda parece as portas de outro mundo onde dizem que se avaliam as intenções.

    Num pais com leis estúpidas, dirigentes aparvalhados e sistema judiciário inoperante, o negócio mais apropriado é servir cafés, refeições e camas, e para isso são precisos serviços de bandeja, tacho e vassoura.

    • Carlos Almeida says:

      JgMenos

      “uma idiota do governo com a cena dos direitos: ‘quem tem qualificações adquiridas no estrangeiro tem que chegar cá e ser reconhecido’”

      O caríssimo acha mal. ?
      E se for no sentido contrario, achava bem ?

      Ele há cada um ?

      Ficaste mesmo nos anos 70.
      Mantém-te por lá

      A bem da Nação

      Carlos Almeida

      • JgMenos says:

        Mais um palerma com o acha bem, acha mal!
        O ‘reconhecido’ em final sempre se traduz em ser pago pelo que se diz achar dever ser reconhecido, ainda que faça o que valha metade.

        Típico da idioteira vigente.

        • Copacabana says:

          Oi ?

        • POIS! says:

          Pois tá bem, ó Menos abelhão!

          Já pensou (1) Vosselência que o problema não seja tanto o que o imigrante (que até pode ser um português…) faz, mas sim o que não faz?

          Sim, o que não faz por não lhe reconhecerem as habilitações! Não será?

          (1) Sim, talvez possa abrir uma exceção. Mas, por favor, não exagere. É preciso poupar a esforços os três neurónios que restam a Vosselência.

          • JgMenos says:

            Mais um palerma|
            Logo se há-de montar o negócio ou o serviço onde sempre caibam todos os talentos, porque isso é direito dos tadinhos, que de outro modo ficam frustrados, tadinhos, incapazes de tratarem de vida de outro modo!

          • POIS! says:

            Pois…afinou Vosselência, ó Menos? Então é porque foi “na mouche”!

            Mas, por outro lado, Vosselência até revela ter seguido os meus conselhos. A avaliar pelo comentário, os neurónios que lhe restam foram poupados!

    • Paulo Marques says:

      Um direitolo ouve uma ideia com a qual não tem problema nenhum que nos enfiem na goela, e acha que é mesmo a sério que seja para aplicar aos escurinhos, invés de para enganar tolos do outro lado.
      Mas o que quer para os portugueses já todos sabemos, quem precisa de o dizer alto e bom som são as chagas e as ilusões.

  5. Figueiredo says:

    Por favor, Portugal já tem teorias da conspiração e pseudo-ciência que chegue.

    • Paulo Marques says:

      Que parte de não haver água é que não percebe? É falta de sentido de permanência dos objectos, e como sai hoje da torneira, não há problema?

      • Luís Lavoura says:

        não haver água

        Não há água, mas há capacidade de a criar (através da dessalinização).

        Uma coisa é não haver de todo, outra muito diferente é haver mas ser caro.

        Há quanta água nós quisermos que haja, embora seja (muito) caro produzi-la.

        • Paulo Marques says:

          Simplificando grandemente a coisa, e onde é Portugal vai buscar os recursos, com que é que os paga, e, sei lá, não era melhor não ultrapassar por muito a possibilidade de o fazer sem continuar a piorar gravemente a situação?
          Não é que não vá haver, e não seja preciso, dessalinização e gamas de consumo. É que é manifestamente muito, muito pouco, e manifestamente tarde, e ainda nem começamos.

  6. British says:

    What ?

  7. Anonimo says:

    O milagre económico do lince ibérico é sustentado pelo turismo (aka “exportações”, aka “entradas de capital estrangeiro”), logo, mais hóteis e resorts precisam-se…

  8. Miguel Leao says:

    Na Alemanha, França e Holanda, há muito que existem planos de emergência para a água. O consumo de água já não é deixado ao mercado e ao preço. O Estado intervém com proibições para determinados grupos de utilizadores, por exemplo, agricultura, áreas públicas, jardins privados/domésticos… Na Alemanha, o uso indevido repetido pode resultar em multas de até 50.000 euros e, em França, são já utilizados drones para fiscalizar e verificar o cumprimento.

  9. Paulo Marques says:

    Até parece que os humanos têm a capacidade de alterar uma coisa assim tão grande. Agora até nos querem convencer que consomem tanto que até entornam a terra.

    https://edition.cnn.com/2023/06/26/world/pumping-groundwater-earth-axis-shifting-scn/index.html

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