Nem só de *fatos e *contatos se vive no Diário da República

Aucun énoncé pris en lui-même (sauf, bien sûr, s’il appartient à un metalangage) ne peut remplir la signification d’adverbes comme «aujourd’hui », «demain », « ici », de pronoms comme « je » et « tu », de formes comme le présent de l’indicatif, d’un verbe aux deux premières personnes.
— Michel Foucault (2023: 22)

L’histoire s’écrit désormais depuis la partie occidentale de l’Amérique, qui voit s’éloigner d’elle « l’Europe aux anciens parapets », pour la nommer avec les mots de Rimbaud, à la vitesse d’un corbillard emballé».
— Michel Onfray (2023: 377)

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Todos conhecerão o “agora facto é igual a fato (de roupa)” e saberão que o autor anda há anos a fugir com o rabo à seringa, ajudado pela conivência de uma comunicação social portuguesa apática, sorridente e serena. Alguns ter-se-ão mesmo aventurado pelos labirintos da veracidade dos fatos e dos contatos e do contato social (e outros contatos).

Por seu turno, a seção é um elemento igualmente presente no imaginário dos deputados portugueses (pdf), dos leitores do Aventar, dos leitores do Público e até, imagine-se, da comunidade portuguesa na Bélgicaefectivamente.

E hoje, dia 6 de Junho de 2023, tudo continua exactamente na mesma:

A culpa disto não é minha. A culpa é de quem anda há imensos anos a alimentar, a comentar, a perder-se em (e a fazer-nos perder tempo com) «“casos e casinhos”, “horas e horinhas”, e outros “inhos” deprimentes», em vez de:

  1. Assumir que criou um problema grave
  2. Resolver o problema.

Até breve.

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“Começaste por dar um rico exemplo…”

Nos inícios de carreira, o meu pai, que partilhava um gabinete de arquitectura com outros colegas, decidiu forrar de novo a prancha do seu estirador, com o seu habitual meticuloso cuidado.

Dava gosto ver aquele forro liso, imaculado, de vincos e dobras perfeitos, a contrastar com os estiradores dos demais colegas, já cheios de esquissos, apontamentos, contas e outras anotações sarrabiscadas.

De modo a evitar que o mesmo se passasse naquele primor de forro acabado de fazer, colocou no canto superior direito o seguinte aviso: “É favor não escrever neste forro”.

No dia seguinte, quando se sentou frente ao trabalho, apercebeu-se do seguinte escrito, logo abaixo do predito aviso: “Começaste por dar um rico exemplo…”.

Lembrei-me deste episódio, que o meu pai contava com um sorriso próprio de quem aprecia o humor, mesmo quando se é o alvo, quando este fim-de-semana ouvi António Costa dizer que os políticos têm de respeitar a maioria absoluta conferida pelo povo ao PS. [Read more…]

Quem destruiu a barragem de Nova Kakhovka?

O ataque à barragem de Nova Kakhovka, na zona de Kherson, não parece ter cabimento na estratégia russa. Por grotesco e desumano que o regime de Putin seja – e é – tem muito mais a perder do que a ganhar porque a Crimeia será uma das zonas mais afectadas. E tudo o que o Kremlin menos precisa é de mais um foco de tensão no território ucraniano ocupado.

Isto traz-me à memória o atentado contra o Nord Stream 2. Inicialmente a narrativa oficial do Ocidente assentou na garantia absoluta de que o atentado teria sido conduzido por Moscovo. Hoje, a versão oficial fala num grupo de rebeldes ucranianos, mas todos sabemos que está por trás do ataque. Estaremos perante um novo embuste?

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