É certo que já poucos são enterrados, é uma questão prática, de higiene, resolve problemas de espaço, só prejudica as floristas. Cremados os restos mortais, despejadas as cinzas no jardim mais próximo, não há encargos com coveiros, lápides, flores frescas ou de plástico, círios ardentes.
Mas ainda há – e talvez sejam necessárias uma ou duas gerações mais para que o hábito se perca – os que teimam em enterrar os seus e peregrinar depois à campa, pelo menos durante os cinco anos que vão do funeral à primeira tentativa de desenterramento.
A família do Sebastião enterrou-o não por vontade expressa do falecido antes de sê-lo, mas por hábito, tradição, horror ao fogo (reminiscências dos sermões admoestativos do padre, talvez) e partir de então passou a haver “a campa do Sebastião”, lugar de romagem nas primeiras semanas após o óbito inesperado, depois tarefa distribuída pelas mulheres da família, e logo incómodo despachado de uma para outra, recebido com um invariável “outra vez? Ainda há pouco fui eu!” [Read more…]
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