Quando os pais mandam nas escolas

Que os Encarregados de Educação tenham uma palavra a dizer sobre o funcionamento geral de uma escola, ainda vá que não vá. Bem, uma palavrinha será mais adequado. Agora, que os Encarregados de Educação mandem nas escolas e se intrometam até nos critérios de avaliação definidos pelos professores já me parece demais. Aliás, durante este ano lectivo, tenho vivido situações verdadeiramente inacreditáveis na relação com aqueles que se julgam os donos das escolas.
Já sei que os professores são sempre os culpados de tudo. Não são os pais que educam os miúdos, são os professores. A este tipo de gente, Maria de Lurdes Rodrigues foi beber as teorias que aplicou durante a sua passagem pelo Ministério da Educação. E sei também que a figura do Director está mais sujeita às influências que vêm de fora da escola, a fragilidade do cargo que ocupa leva a esse tipo de permeabilidade.
O caso que vou descrever passa-se numa escola básica do Grande Porto. No Regulamento Interno da escola, está escrito com todas as letras que o professor não pode escrever no teste a entregar aos alunos a cotação do mesmo, mas apenas a nota qualitativa. Não concordo, mas é o que está lá. Em reunião de Conselho Geral, os Encarregados de Educação propõem que os professores sejam obrigados a colocar as cotações. Nem sequer que fica ao critério de cada professor. E como hoje em dia os pais é que mandam nas escolas, os professores, infringindo o Regulamento Interno, irão passar a colocar sempre a cotação dos testes.
Como é óbvio, é ilegal. O Conselho Geral de uma Escola não pode ir contra o seu Regulamento Interno, da mesma forma que um Conselho de Ministros não pode ir contra a Constituição. Por isso, eu, que desde sempre pus a cotação nos testes a entregar aos alunos, estou a pensar em deixar de o fazer. Quando for chamado à atenção, como fui na altura em que colocava a cotação, direi apenas que estou a cumprir o Regulamento Interno.