O paradigma da Grande Mesquita de Cordoba

Mesquita de Cordoba 2

Interior da Mesquita de Cordoba

A história do Al-Andalus desperta sentimentos e emoções apaixonadas, discussões acesas e opiniões contraditórias.  E apesar de, numa visão superficial, ser uma história de antagonismos e conflitos, o Al-Andalus foi um espaço de aprendizagem de vida comunitária de várias realidades étnicas, religiosas e sociais, um espaço de convivência, de aplicação de modelos de organização social e política, de experiências espirituais, de florescimento cultural. Esta realidade esteve inclusivamente presente durante o processo de arabização da Península e também, de forma transitória, no período inicial do processo de conquista do Al-Andalus pelos Reinos Cristãos, conforme atestam inúmeros documentos da época.

Mas a realidade é que as disputas territoriais entre cristãos e muçulmanos terminaram invariavelmente com a demolição dos locais de culto de uns e outros. Inclusivamente na (erradamente) chamada reconquista cristã”, assiste-se invariavelmente à demolição das mesquitas e construção no mesmos locais de igrejas. Mesmo nos casos em que as mesquitas eram inicialmente “purificadas” (termo usado por alguns cronistas da época) para nelas se celebrar o culto cristão, e mesmo nas situações em que a vontade era a de adaptar a antiga mesquita a igreja, a mesquita acabava por ser demolida, salvo raras excepções. E demolida porquê? Simples ódio religioso, intolerância ou violência gratuita? Ou seja, apenas por razões ideológicas? [Read more…]

Ibn Qasi e os Muridinos

“Eu quero ser nada…para poder compreender tudo”

Shaykh Hisham Kabbani

A derrota dos Almorávidas na batalha de Ourique marca o início de um novo período de fraccionamento do Andalus em reinos independentes, que ficou conhecido como os segundos Reinos de Taifas.

É um período conturbado e de digladiação de várias facções muçulmanas e destas com os cristãos, já que os Almorávidas em declínio, os Reinos de Taifas que logram a independência e os recém-chegados Almóadas detêm o poder em diferentes áreas da região.

Durante este período o Sul do Gharb Al-Andalus constitui-se no Reino da Taifa de Silves, inicialmente governada pela família dos Banu Al-Mallah, mas posteriormente dominada por aquele ficou na história como o grande Mestre do Sufismo no Gharb Al-Andalus, Abu Al-Qasim Ibn Qasi.

Se o período das primeiras taifas constituiu o expoente da poesia Luso-Arabe, representada por figuras como Al-Mu’tamid e Ibn Amar, as segundas taifas ficaram como o expoente da filosofia Misticista Islâmica, representada por Ibn Qasi e o movimento Muridíno.

Natural de Silves, Ibn Qasi era provavelmente um muladi, ou descendente de cristãos convertidos, de origem romana, dado que se pensa que o seu nome de família viria do romano Cassius.

Funcionário da alfândega de Silves opta por uma vida de meditação e recolhimento, entregando metade dos os seus bens aos pobres e refugiando-se numa Zauia ou Azóia onde inicia um caminho na busca de Deus, fundando uma confraria designada por Movimento Muridíno.

Essa Zauia daria origem ao famoso Ribat da Arrifana, em Aljezur, que constrói com a restante metade dos seus bens, e que se torna sede da sua Cavalaria Espiritual, e incluía uma mesquita, celas para os seus discípulos e cavalariças. [Read more…]