Earth Overshoot Day

Queira ou não queira, uma pessoa é obrigada a constatar a exiguidade do espírito humano. Temos os media cheios de conversa fiada sobre nomes sonantes de personalidades da actual corte política, vereadores, presidente, blá, blá, blá. Para não falar em futebóis.

Já uma notícia verdadeiramente dramática, à escala planetária, como a de se terem oficialmente esgotado, no passado dia 1 de Agosto, os recursos naturais da Terra disponíveis para 2018, não interessa nada, não interessa a ninguém.

Os cidadãos sempre prontos a consumir, os políticos a promover o comércio livre, as multis a enfunar-se de oportunidades, o espírito do negócio a modelar as relações, uma orgia alienada e indiferente às gerações futuras.

A WWF afirma que “hoje, precisaríamos de 1,7 Terras para satisfazer as nossas necessidades”. Mais do que necessidades, precisamos de mais Terra por egoísmo, falta de amor e de responsabilidade. Sobre os crimes dos nazis, muitos alemães contemporâneos diziam que de nada sabiam. Saberiam ou não. Nós, hoje, é que não podemos dizer que não sabíamos, pois a informação está disponível – só não sabe quem não quer. E nós até sabemos, não temos justificação. Somos uma reles espécie.

“Vem aí a guerra, prepara-te”

cartazobedecerchefe

«Doce inocência, tranquila ignorância… (…) É este encolher de ombros que levou o historiador Ian Kershaw a escrever que “a estrada de Auschwitz foi construída pelo ódio, mas o seu pavimento foi a indiferença.» Por Ester Mucznik, na sua crónica no Público

A gentileza dos estranhos

Será porque a vida se vai fazendo mais dura, com a famigerada crise, a precariedade laboral, o aumento da violência, a fragmentação do tecido social, a desestruturação da família, será por tudo isto que nos fomos esquecendo da amabilidade?

Há dias, no supermercado, uma senhora em cujo rosto se viam as marcas de muitas aflições, sorria docemente aos comentários que o meu filho ia fazendo e insistiu em que passássemos à sua frente, porque a fila era prioritária para idosos, grávidas e pessoas com crianças. E era, de facto, mas eu nem me lembrava disso porque raramente alguém me havia cedido passagem mesmo quando eu estava grávida ou quando o meu filho ainda era um bebé de colo.

E muito menos se havia visto por ali quem cedesse passagem a alguém por ter apenas um ou dois artigos ou por parecer debilitado, ou simplesmente porque se tem tempo e atrás está alguém que aparenta estar genuinamente apressado. Desconfiamos das intenções de quem pede alguma coisa, tememos ser tomados por parvos e já nem ouvimos, levantamos a mão, abanamos ligeiramente a cabeça, em jeito de quem diz “dispenso” e passamos ao largo.

Há uns anos tive a experiência de estar noutro continente, numa cidade de milhões de habitantes, a distribuir panfletos à saída do metro. [Read more…]