Um caso de James Marlowe, Chico Nelo para os inimigos.
O telefone tocou. Suspirei. Um caso, finalmente, o primeiro desde Fátima. Uma voz rouca, sensual, lenta perguntou-me se já tinha almoçado. Respondi, irritado:
– Mãe, já lhe disse que não me ligasse para o emprego!
A voz rouca, sensual insistia na necessidade de que me alimentasse convenientemente, acrescentando que eu não tinha propriamente emprego. Despedi-me o menos educadamente possível, tendo chegado a deitar a língua de fora ao bucal, de modo a que não se ouvisse.
Alguém mais atento poderia notar a inverosimilhança da ausência de um telemóvel, como se fosse possível um detective anacrónico usar objectos crónicos.
O telefone voltou a tocar:
– Mãe, outra vez?!
Claro que não era a minha mãe e não vale a pena insistirem no telemóvel que me permitiria saber quem me estava a ligar.
Do outro lado, estava uma voz tão inconfundível como a da minha mãe, ainda que menos sensual: era aquele que, doravante, por razões de segurança, passaremos a designar pelo nome de código “Presidente da República”.
– Estou a ligar-lhe confidencialmente para lhe pedir que, de modo discreto, me arranje o número de telefone do novo programa da senhora Cristina Ferreira, aquela da SIC. É para um amigo. [Read more…]
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