É uma tendência interessante

Além do previsível sujeito nulo (“eu estou orgulhosa”), o verbo nulo (“eu estou orgulhosa”): “Orgulhosa de ser oradora portuguesa convidada”.

Pela criação de uma Entidade Reguladora da Charlatanice

Se estamos numa de apelar, queria aqui apelar à criação da Entidade Reguladora da Charlatanice, para supervisionar vendedores de curas milagrosas a troco de dízimos, personal coaches de cenas cósmicas, que garantem que ficamos milionários se quisermos muito, e burlões populistas com santos no calçado e lágrimas de crocodilo. São mais perigosos que a unipessoal do André Ventura. Porque André Ventura, honra lhe seja feita, diz ao que vem. Os charlatões são mais dissimulados. Todo o cuidado é pouco.

Como assim, o Big Brother deu merda?

Como assim, o Big Brother é um degredo que não tem razão de ser sem polémica e violência?

Como assim, o Bruno Carvalho é tóxico e conflituoso, e foi precisamente por isso que foi escolhido para o programa?

Como assim, o modelo de negócio da TVI assenta no sensacionalismo, no escândalo e na exploração de emoções primárias?

Como assim, a Cristina Ferreira indigna-se e denuncia de casos de violência doméstica na sua revista e no programa da tarde, para depois pactuar com eles enquanto membro do Conselho de Administração da TVI, Directora de Entretenimento e apresentadora do Big Brother? Querem ver que a self made woman da Malveira é uma hipócrita?

Fui apanhado de surpresa, confesso. Não estava nada à espera destas informações dramáticas. Serão verdadeiras?

A transferência de Cristina Ferreira e o capitalismo subsídio-dependente

CFe

Foto: Expresso

A Plural Entertainment, empresa de produção audiovisual detida pela Media Capital, dona da TVI e da Rádio Comercial, entrou em lay-off em Abril, situação que se prolongou por dois meses. Escusado será dizer que, durante esse período de tempo, foram os contribuintes portugueses quem garantiu os salários dos trabalhadores da Plural – que perderam, em média, 30% dos seus rendimentos – a que acrescem 3,3 milhões de euros do pacote de 15 milhões que o governo destinou para apoiar a comunicação social com compra antecipada de publicidade. [Read more…]

Quando a civilização recua

Santana Castilho*

  1. Nos Estados Unidos da América, dirigidos pelo homem que popularizou a expressão fake news, diz a Gallup que 18% dos cidadãos acreditam que o sol gira em torno da terra, 42% afirmam que Deus nos criou há menos de 10.000 anos e 74% dos republicanos no Senado negam a validade das mudanças climáticas, apesar das evidências científicas aceites no mundo.
    Com os olhos postos nisto e nas previsíveis campanhas de desinformação em ano de eleições, o PS propôs a discussão do assunto no plenário da Assembleia da República, defendendo um projecto de resolução que recomenda ao Governo a adopção do plano de acção contra as fake news, aprovado pela Comissão Europeia em Dezembro passado. Tratando-se de matéria em que o Governo é exímio especialista, o êxito está garantido. Dêem-lhe espaço de manobra e, agora que já temos uma agência espacial, Pedro Marques ainda anunciará que seremos os segundos a pôr o pé na Lua.
    Factos que se contradizem deixam-me perplexo. O que será falso? O desvelo com que o Governo recentemente se ocupou das mulheres, a propósito do seu dia mundial e da violência de que são alvo, ou o ódio que dispensa a duas classes profissionais maioritariamente compostas por elas (professoras e enfermeiras)?
    Não será igualmente falso um primeiro-ministro falar das vítimas de Pedrogão enquanto pica cebola para uma cataplana, porque o que procura é a popularidade que o avental da Cristina lhe confere? Não será falso o homem pensar que assim se aproxima dos cidadãos, quando o problema seria fazer algo para que os cidadãos se aproximassem dos políticos (quase 50% de abstenção)? [Read more…]

Engate a terceira

Fernando Venâncio

A apresentadora Cristina Ferreira terá assegurado ao primeiro-ministro alguns suplementares milhares de votos quando retoricamente perguntou: «Ai, ele era engatatão?». Estava-se no programa da dita, na SIC, com António Costa de cozinheiro e a mulher de indiscreta confidente.

Pergunta retórica, sim, mas também supérflua. Todo o político de sucesso é excelente no engatar. Porque, pensando bem, é num contínuo e descarado engate que se condensa a actividade política.

“Engatar”, um verbo feliz. Lembra todos os tipos de engrenagem, de enganchadura, de engalfinhamento. Origina-se no valor “grampo” do vocábulo “gato”. Por isso se adequa tão bem às mudanças da caixa de velocidades. A gente engata, engrena, engancha, ok engalfinha a primeira, depois a segunda, e há quem tenha assentado o rabo numa máquina que mete a sexta. Não sei para que serve, ou qual seja a sensação, mas alguma há-de ter.

Um brasileiro fica em branco com os nossos “engates”. Falarem-lhe em “sites de engate” é atormentá-lo de perplexidades. E, contudo, “engate” é gramaticalmente uma formação de primeira escolha, como deverbal regressivo que é. Eleva o trivial “engatar” ao patamar da abstracção. Pede um tirar de chapéu, e ao menos uma vénia. [Read more…]

Alcouce, sim, mas com cedilha, claro

I’m a scientist. I never apologize for the truth.
Sheldon

***

Depois de uma introdução com terramotos para encher chouriços, Cristina Ferreira disse a Marisa Matias que não se conseguia fixar o nome da localidade onde a entrevistada cresceu.  Note-se que Ferreira não disse “é um nome difícil de eu memorizar/é um nome difícil para mim de memorizar/é um nome que eu não consigo memorizar”. Não. Ferreira disse: “é um nome difícil de memorizar” — ou seja, para ela, para mim, para si, caro leitor do Aventar. E Ferreira terá alguma razão, pelo menos, no que diz respeito à equipa daquele programa, a julgar pela memória grafémica do autor daquele Alcouçe, que não terá lido com cuidado qualquer biografia da entrevistada e, pior, não aprendeu a regra cacecicocu [kasɛsikɔku]. Isto é inadmissível, num programa em que o salário da apresentadora parece ser o assunto mais candente. em vez de se discutir o salário (ou a péssima remuneração) e o curriculum (ou a licenciatura na University of Westfield Online) do redactor dos rodapés e dos oráculos.

Quanto ao sítio do costume,

tudo bem.

***

Dial C for Cristina

Um caso de James Marlowe, Chico Nelo para os inimigos.

O telefone tocou. Suspirei. Um caso, finalmente, o primeiro desde Fátima. Uma voz rouca, sensual, lenta perguntou-me se já tinha almoçado. Respondi, irritado:

– Mãe, já lhe disse que não me ligasse para o emprego!

A voz rouca, sensual insistia na necessidade de que me alimentasse convenientemente, acrescentando que eu não tinha propriamente emprego. Despedi-me o menos educadamente possível, tendo chegado a deitar a língua de fora ao bucal, de modo a que não se ouvisse.

Alguém mais atento poderia notar a inverosimilhança da ausência de um telemóvel, como se fosse possível um detective anacrónico usar objectos crónicos.

O telefone voltou a tocar:

– Mãe, outra vez?!

Claro que não era a minha mãe e não vale a pena insistirem no telemóvel que me permitiria saber quem me estava a ligar.

Do outro lado, estava uma voz tão inconfundível como a da minha mãe, ainda que menos sensual: era aquele que, doravante, por razões de segurança, passaremos a designar pelo nome de código “Presidente da República”.

– Estou a ligar-lhe confidencialmente para lhe pedir que, de modo discreto, me arranje o número de telefone do novo programa da senhora Cristina Ferreira, aquela da SIC. É para um amigo. [Read more…]

República das bananas…

Parolice, nacional-parvoíce, populismo, é difícil baixar mais o nível…

Por falar em Marcelo Rebelo de Sousa,

depois de interromper, acabar e recomeçar, que tal, finalmente e como prometido, (re)abrir?

«As contas nas redes sociais e o blogue de Cristina Ferreira ficaram nativos»

Aliás, e nativos. Perdão: inativos.