Temos a janela sempre aberta, até fazem pouco de nós, as acaloradas, mas chega-se a uma idade em que é mesmo assim. E porque temos a janela aberta ouvimos a música dos vizinhos o dia inteiro. Naquele dia, era uma colectânea de êxitos dos anos 50 e 60 e passamos a manhã a ouvir o «Oh, Carol» e o «Sweet Caroline», que são canções que até dispõem bem. Só que depois o vizinho trocou o disco por uma colectânea do Elvis. Ui, o Elvis, disse a Filomena.
Começou a tocar o “Hound Dog” (conheço-as todas), e foi então que o espírito dele, do Rei, subiu por entre o quarteirão de escritórios, entrou-nos pela janela, muito pesadão, com o fato branco e a capa (capa!) dos concertos de Las Vegas, quando ele cantava com olhinhos de carneiro mal morto, e se lhe via o suor a pingar para cima das quarentonas na primeira fila, e lançava ursos de peluche para a plateia. E então as paredes do escritório estremeceram, o chão começou a vibrar, as pastas de arquivo saltitaram nas prateleiras, o fax começou a despejar páginas e páginas em branco, e o espírito do Elvis materializou-se naquele espaço entre as secretárias onde metemos a máquina do café. [Read more…]
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