E se…

E se desse jeito haver um tema que desviasse a atenção da discussão do Orçamento de Estado?

Sei lá, por exemplo uma proposta possivelmente inconstitucional, como por exemplo meter a policia a ver as apps que a malta instalou no telemóvel.

Conan Osíris…

está dispensado de instalar a app StayAwayCovid.

Leis e multas, a pseudo-solução do costume – agora com agravante

É um filme que se repete a cada novo problema. O governo em funções faz uma lei, define multas exageradamente altas e considera-se o problema resolvido.

Todos os governos têm recorrido a esta pseudo-solução. O governo de Costa, sendo reincidente, dá agora um passo além da habitual sonsice do faz de conta.

A ideia de colocar em lei a obrigação de instalar software no telemóvel pessoal faz lembrar o pior de regimes totalitários como a China.

Além das questões da eficácia desta tecnologia, há duas questões profundas associadas.

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Na Bélgica,

a aplicação equivalente à portuguesíssima StayAway Covid chama-se Coronalert. EfectivamenteExactamente.

Nótula sobre o estado actual da relação entre o Governo da República Portuguesa e a língua portuguesa

I don’t know why.
— Kurt Cobain, “Stay Away

Se me não ponho a milhas lixo-me: não fica aqui
mais ninguém senão eu.
— António Lobo Antunes, “Memória de Elefante

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O Governo gosta de mandar na forma como grafamos as palavras. E, só para não abdicar desse imenso e intenso prazer, até ignora pareceres de quem, ao contrário dele, percebe da poda. Outros, mais pequenos, mas com poder, são extremamente afoitos e, embora não saibam que uma rosa pegada pelos espinhos não é bem a mesma coisa que um touro pegado pelos cornos, mostram sem medo o mesmo apetite voraz dos muito poderosos pelo policiamento dos hábitos linguísticos dos falantes. Ia rematar este longo parágrafo com um breve comentário sobre o Manifesto 2014, mas convém que não nos desviemos ainda mais do assunto.

Em matéria linguística, o Governo lá vai andando, tem-te-não-caias, rumo a lugar nenhum. Por um lado, manda-nos grafar para em vez de pára, ação em vez de acção, maio em vez de Maio, diapnoico em vez de diapnóico, etc., tudo em nome do reforço do “papel da língua portuguesa como língua de comunicação internacional“. Por outro lado, o Governo manda-nos descarregar uma aplicação portuguesa com nome em língua inglesa (StayAway Covid). Provavelmente, o Governo da República Portuguesa prefere reforçar o papel da língua inglesa como língua de comunicação internacional. Assim sendo, há esclarecimentos a prestar.

Convém lembrarmo-nos deste triste episódio, quando membros do Governo voltarem a defender o Acordo Ortográfico de 1990.

Nótula: Luiz Fagundes Duarte dá-nos algumas ideias para pormos o vírus a léguas em português — e alguns dos comentadores têm feito aditamentos. A lista vai longa. Até agora, todas as propostas são melhores do que a promovida pelo Governo.

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