FALANDO SOBRE TRANSPORTES. AS FALÁCIAS DO MOPTC ( 2ª PARTE) – VIII

Termino este texto com alguns breves apontamentos que me apraz registar:

O propósito de ligar a linha de Cascais com a de Cintura, em túnel, é uma medida altamente louvável dado que irá acabar com a actual solução de continuidade entre estas duas linhas; é uma hipótese que se estuda há algumas dezenas de anos, porém muito difícil de concretizar, porquanto:

  • haverá que rebaixar a cota da actual linha de c.f., no nó de Alcântara e, ainda, fazer a sua ligação com a linha de Cintura que sobe, em rampa, até Campolide; entalada entre a encosta dos Prazeres, a Avenida de Ceuta e o Caneiro de Alcântara, o que é um problema muito difícil de resolver na medida em que as inclinações admissíveis para uma linha ferroviária mista não deverão exceder os 15-18 por mil, preferencialmente os 12 por mil;
  • o tráfego rodoviário no nó de Alcântara também irá beneficiar, e muito; porém, durante a execução dos trabalhos, não podemos esquecer que o tráfego local e mais ainda o relativo a Lisboa/Cascais não poderá ser interrompido;
  • a triplicação da capacidade deste terminal para TEU’s ano irá gerar um tráfego muito intenso; e nestas condições, suponho, o c.f. não poderá ajudar muito na medida em que a sua principal função deverá ser a distribuição dos seus utentes na cidade, mediante a sua ligação com a linha de metro;
  • organizar um comboio de contentores envolve a existência de uma gare de triagem e as áreas necessárias e, também, canal horário disponível, praticamente impossível durante o dia;
  • hoje, por vezes, a movimentação dos camiões neste terminal atinge as muitas centenas, diariamente; aumentar ainda mais este tráfego, irá causar sérios problemas na cidade;
  • resta, pois a via fluvial que, essa sim, poderá(deverá) efectuar a maioria dos transportes, nomeadamente para as plataformas logísticas a montante a que já fizemos referência. Via fluvial esta que, de acordo com os argumentos atrás citados, corre o risco de obrigar a um desassoramento constante em virtude da implantação do viaduto Chelas-Barreiro; operação cara, tanto mais que irá decorrer num troço de intenso tráfego fluvial;
  • não posso deixar de observar que a SET, sem razões sólidas conhecidas, propoz-se permitir o acesso ao cais de Alcântara de navios porta-contentores com o calado máximo de 15,50 m. Antes de mais, lembro a definição de calado – distância que vai da quilha de um navio até à linha de flutuação; por razões de segurança, admito a folga de um metro, o que significa no caso vertente fundos da ordem dos 16,50m.

Sucede, salvo erro, que este cais ficou operacional à volta do ano de 1900; posteriormente, foram efectuados trabalhos de beneficiação e requalificação o que permitiu, em 1984 a sua actual utilização.

A dúvida – tecnicamente inevitável – resulta de se ignorar com exactidão as condições em que se encontram as fundações do cais e sabendo-se, por outro lado, que ele está assente em terrenos com condições geológicas muito difíceis. Por isso, lanço as perguntas:

Será que ao escrever, junto ao cais, para se obterem os fundos pretendidos pela SET, ficará comprometida a estabilidade da obra? A muralha aguenta? Se afirmativamente, a que preço?

Estes comentários, sinceramente, pretendo-os construtivos na medida em que levianamente se prometem mundos e fundos … até ver. Haja em vista o pacote fenomenal de obras públicas já apresentadas ou a fazer até 2017, representando um investimento de 40 mil milhões de euros, incluindo estradas, auto-estradas, barragens, hospitais, plataformas logísticas, caminhos de ferro convencionais e de alta velocidade, o novo aeroporto de Lisboa, etc, etc.

Aconselho acalmar e tomar fôlego. Deste modo, ainda antes da assinatura dos Memorandos de Entendimento ou dos Contratos PPP que se avizinham, sugiro que se mande estudar muito bem os dossiers para evitar, mais tarde, pedidos de indemnizações dos empreiteiros por atrasos nas obras (mal coordenadas) ou, então, por expectativas falhadas.

A título de exemplo: suponha, Srª SET que o “desfazer” do nó de Alcântara (ainda sem projecto definitivo) se atrasa? E muito? Ou se as obras no terminal de contentores se revelam dificeis, demoradas e muito caras?

São meras hipótese que devem ter uma resposta atempada pois não ignora certamente, que um bom técnico é aquele que sabe encontrar soluções correctas … e económicas. Pondo de parte estes bons princípios, não se admirem que as obras públicas possam atingir o dobro do orçamentado ou, então, que os empreiteiros façam valer as cláusulas mais aberrantes.

Quando, na realidade, o negócio só é bom quando é bom para ambas as partes.

E os nossos filhos e as gerações vindouras agradecerão.

PSD: Que programa?

Já sabemos alguma coisa mas muito pouco, por enquanto. A primeira coisa a saber é, se ganharem as eleições, que PSD vai governar?
O de Manuela Ferreira Leite, social-democrata, com uma grande preocupação social? Ou o PSD de António Borges, liberal, com uma grande preocupação de afastar o Estado da Economia?
Creio que assumir como grande bandeira do programa a defesa e o apoio das PMEs junta ambos. O país não pode continuar em ciclos de grandes obras públicas, que dão trabalho e negócios a uma máquina ávida e insaciável, mas que deixa o país na cauda dos país desenvolvidos.
As PMEs representam cerca de 70% do emprego, produzem bens e serviços transaccionáveis e dirigidos para a exportação. Exige inovação, novas tecnologias e capacidade competitiva, únicos méritos que produzem riqueza.
A promiscuidade do Estado com os bancos e as grandes empresas é um dos mais fortes factores para a fragilidade da nossa economia.
Na Educação, acredito que é pacífico que só uma Escola pública autónoma, entregue aos professores e a quem nela trabalha e estuda poderá criar as condições para uma escola de sucesso, assente no mérito. Há que tirar o Ministério e os Sindicatos do centro do Sistema!
Na Saúde,o objectivo andará para fatias do número de hospitais da ordem dos 50% para o SNS, 30% para os Privados e 20% para as Instituições Sociais. Aqui, há que ter em conta que a componente mais Liberal do PSD lutará por um Estado Financiador e o menos possível Prestador de Serviços.
Não creio que o País, pobre e desigual, esteja em condições de seguir este caminho. Há que assegurar um SNS exigente,
não sub-financiado e com capacidade para manter entre si os melhores, pagando condignamente, segundo o mérito.
Na Segurança Social MFL já veio dizer que nos próximos anos o que está é para manter. A sustentabilidade está assegurada. Mais uma vez o país pobre e desigual não permite tentações liberais.
Na Justiça, para além do trabalho em curso da desmaterialização e de uma melhor cobertura territorial, o “excesso de garantismo” só beneficia quem tem dinheiro para pagar as elevadas custas. E há que introduzir o mérito na progressão carreiras.
Ao nível da arquitectura Política, há que avançar para uma maior aproximação do eleito com o eleitor, princípio caro desde sempre ao PSD, até pela implantação que tem ao nível Autárquico.
Muitas destas questões vão estar em cima da mesa e sabemos que há sensibilidades dentro do PSD que apresentam soluções mais ou menos aprofundads num ou outro sentido.
O PSD tem que abrir a jogo e dizer ao que vem!

Além de cega, a justiça não tem vergonha na cara

justica_0707

Ele batia-lhe repetidamente. Foi assim durante anos. Ela, por qualquer motivo, medo, falta de coragem, dependência económica ou apenas amor, embora não se saiba que tipo de amor, não o deixou. Aguentou, sobreviveu assim durante anos, à espera de melhores dias, ou dos dias menos maus.

Um dia, há cerca de dois anos e três meses, no dia 2 de Março, ele – 47 anos de maus fígados -, regou-a com álcool e ateou-lhe fogo, utilizando um isqueiro. Aconteceu na casa que ambos partilhavam, em Barroselas, Viana do Castelo.

Ela sofreu queimaduras em 30 por cento. Resistiu até ao limite. Morreu dois meses depois.

Cerca de dois anos e três meses, o Tribunal Judicial de Viana do Castelo condenou-o a oito de prisão por homicídio da companheira. Os juízes não consideraram provada a intenção de matar. Condenaram-no por crime de ofensa à integridade física qualificada, agravada pelo resultado morte. A moldura penal varia entre quatro e 16 anos. Optaram pelos oito. Pelo meio deram como provado que ele a agredia de forma reiterada e continuada.

Confesso não saber o valor da vida para o colectivo de juízes. Talvez considerassem ser este o castigo mais adequado. Como se compreende, as mentes que julgaram este processo têm alguma dificuldade de interpretação do que é ou não intencional. Para eles, alguém que rega com álcool uma outra pessoa e lhe chega fogo não tem intenção de matar. Talvez magoar só um bocadinho. Talvez causar algum dano. Talvez castiga-la, vá se lá saber porque razão. Matar é que não.

O walkman faz 30 anos

Lembram-se de comprar cassetes áudio virgens (metal ou chrome?) e ouvir fielmente a mesma estação de rádio à espera de poder gravar as vossas canções favoritas? O sentimento de triunfo quando conseguiam fazê-lo sem interrupções parvas do locutor, ou o jingle publicitário de um refrigerante ou uma indicação de trânsito de última hora? E para que faziam isso? Para que investiam tanto tempo a gravar cassetes? Para ouvi-las no walkman, claro! Em qualquer sítio, a qualquer hora, enquanto as pilhas chegassem, a música acompanhava-nos. Quando queríamos ouvir aquela canção uma e outra vez, o melhor era gravá-a várias vezes na mesma cassete, que sempre era mais fácil do que passar o tempo a fazer “rewind” e gastava menos bateria. Ouvir as músicas por ordem aleatória (o agora banal “shuffle”) era um luxo que nem nos ocorria. Para quê? A rádio democratizava o acesso à música e havia sempre a possibilidade de gravar os discos dos amigos. Mas a graça estava em fazer de cada cassete uma compilação única, uma sequência que dependia do gosto e do estado de espírito de cada um e que seria sempre original. Lembrei-me de tudo isto a propósito deste artigo. A BBC propôs a um miúdo de 13 anos trocar o Ipod por um Walkman durante uma semana e escrever sobre a experiência. Não sei se o texto foi escrito por ele (parece bastante retocado por um adulto), mas vale a pena ler, quanto mais não seja para lembrar-nos desses artefactos jurássicos que nos fizeram tão felizes. Falo por mim.

Concursos de Professores: a matemática do Engenheiro

Ao longo desta longa noite de mais de anos (Sócrates tomou posso em MARÇO de 2005, creio), Maria de Lurdes e os seus meninos procuraram vender a ideia de que era possível fazer (tudo!) mais, com (muito) menos.
E neste muito menos, claro, pensavam em Professores.
Uma espécie de galinha dos ovos de ouro: mais meninos na escola, mais oferta educativa, mais novas oportunidades, mas, caros leitores, tudo isto com menos professores.
Acontece que às vezes o gigante consegue apanhar o ladrão da galinha dos ovos de ouro e pimba – lá se foi a gatunagem (verdade, caro leitor, verdade verdadinha é que nunca percebi porque é que o gigante tinha que ficar sem a galinha dos ovos de ouro, que ele tratava como sendo um canário. Parece-me um pouco violento, não?).
Assim, os resultados (tardios) dos concursos de ontem provam é que a única força motriz desta gente é o dinheiro. Dos candidatos, mais de 99% está por colocar. E destes, cerca de quarenta mil são já do quadro e ainda estão de fora – o ME não colocou ainda, metade dos professores que precisa para o próximo ano. Tão simples, quanto isso.
E, a dureza dos números mostra que o desemprego é o destino mais certo para muitos milhares, quando nas escolas estamos a precisar de gente… Um exemplo:

Na educação pré-escolar, no primeiro ciclo e em todo o segundo ciclo os lugares ontem a concurso foram todos, sem excepção, ocupados por gente que já era do quadro – o ME não vinculou ninguém de novo, neste caso: com o número esmagador de gente que se tem vindo a aposentar (fogem da Ministra! Como os invejo! A propósito, reportagem, hoje no P2 do Público) imaginem o que vai acontecer.

Últimos colocados em cada grupo (Pré, 1º e 2º ciclos)

Últimos colocados em cada grupo (Pré, 1º e 2º ciclos)

Não estou com este post a procurar que o ME arranje emprego para quem não precisa – e decididamente não são, ainda, necessários todos os candidatos… Não são!
Mas, a Escola Pública precisa de mais gente… muito mais gente!
E o país precisa de saber a verdade!
O que esta gente está a fazer na educação é um crime que vai demorar muitos anos a resolver.