Imagine que era vermelho em vez de amarelo

escola de todas as cores

Imagine o seguinte cenário: estamos algures durante a vigência do anterior governo, período durante o qual foram efectuados cortes profundos na Educação. Revoltados com a situação da escola pública, dirigentes escolares e associações de pais de todo o país decidem iniciar um processo de luta mas não se ficam pelas manifestações. Entre os mecanismos adoptados, vem a público que a estratégia inclui pressionar os alunos a escrever cartas-protesto para o ministério da Educação, instrumentalizadas por adultos com interesses no sector da escola pública, e recorrer a psicólogos com vista a “instruir” as crianças para uma luta que a maioria não percebe. Estão a imaginar?

Continuemos. Imaginem que, no meio da confusão, e tendo os indignados adoptado a cor vermelha para efeitos de comunicação ou para a eventual manufactura de t-shirts, inúmeros jornalistas começavam a surgir vestidos com essa mesma cor, elas de vestido vermelho, eles de gravata vermelha, no horário nobre dos telejornais. Estão a imaginar os gritos de revolta contra o estalinismo que tomava conta das redacções e dos estúdios de TV?

Finalmente, imaginem que, perante toda esta revolta e indignação, deputados e autarcas dos partidos de esquerda, aparentemente sem qualquer tipo de instrução partidária, decidiam juntar-se aos protestos e às manifestações. Conseguem visualizar a histeria à direita, com dedos acusadores em riste a denunciar o processo revolucionário em curso?

Pois bem, são estes os relatos que nos têm chegado através dos poucos canais de informação que ousam esmiuçar o que se está a passar na guerra civil que o ensino vive por estes dias. Dirigentes do ensino privado que incitam os seus alunos a entupir o ministério de cartas, aulas interrompidas para sessões de doutrinação leccionadas por psicólogos, a inesperada moda do amarelo entre os vestidos e as gravatas dos mais distintos pivots e vários deputados e autarcas do PSD e CDS-PP que estarão hoje nas manifestações agendadas. São opções que os intervenientes são livres de fazer e só alinha nelas quem quer. Só se lamenta que tantas crianças sejam manipuladas por pais e professores sem escrúpulos, nestes jogos que há muito deixaram de ser uma questão educativa para passar para o campo político e ideológico. Convinha era que nos poupassem à hipocrisia. Não somos todos parvos.

Imagem: Rui Bebiano

Comments

  1. Ana Moreno says:

    A direita sempre soube organizar-se melhor e como é sabido tem os media na mão…

  2. Nightwish says:

    Já se fosse encornado, da côr da mais maior grande instituição do país era apoio do país inteiro.