O ataque aos independentes

Subitamente, donde menos se esperava, os independentes são alvo de ataque sistemático, pois passaram a ser um enorme perigo para certas organizações políticas estáticas, retrógradas, paradas no tempo, incapazes de pensar o mundo e contribuir para aquilo que é mais nobre na política que é mudar o mundo.

Os independentes passaram a ser um enorme problema, algo a combater, mesmo por aqueles que em tempos afirmavam a sua independência e respetivas virtudes. Esquecem que ser independente é uma forma de estar na vida, com convicções, claro, com opinião assertiva, claro, com ideias políticas e alinhamentos políticos, claro, sabendo bem onde se está e o que se é, claro, mas sendo livre na forma de pensar e na capacidade de o fazer.

Os independentes são um enorme perigo porque não há nada mais revolucionário do que pensar de forma livre. Francisco Sá Carneiro, um homem que tinha a vertigem do risco e viveu antes do tempo, tinha uma definição fantástica de independência. Dizia ele: “Saber estar e romper a tempo, correr os riscos da adesão e da renúncia, eis a política que vale a pena”. É sintomático que muitos, demasiados, daqueles que agora descobriram que não gostam de independentes, que têm nojo dessa forma de estar, sejam de esquerda. É sintomático, muito revelador e muito triste.

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O disfarce e a circulatura do quadrado

[Santana Castilho*]

A interacção e a interdependência das sociedades modernas são cada vez maiores e provocam um interesse crescente pelos instrumentos que influenciam os seus diferentes sistemas. A Saúde, a Justiça, a Educação e a Economia, para citar apenas as áreas que de modo mais evidente marcam a nossa qualidade de vida, estão sob escrutínio constante de instrumentos de comparação e de grupos de pressão, que nos dividem entre “bons” e “maus”, segundo encaixemos ou não no que determinam ser politicamente correcto. No contexto da discussão pública, tais realidades acabam por se impor e contaminar a análise de outros factores.

Em Educação, as medidas de política têm estado demasiado ligadas à ideologia dos grupos dominantes. Melhor dizendo, aos convencimentos dos que, em cada momento, governam em nome desses grupos. As últimas alterações que o sistema de ensino sofreu oscilaram entre concepções anglo-saxónicas, de raiz empirista, e ideias construtivistas, de inspiração piagetiana. Estas, hipervalorizando as ciências da Educação. Aquelas, hipervalorizando o conhecimento. E quando novos líderes recuperam medidas de líderes passados, que a prática mostrou estarem erradas, contam sempre com o apoio dos prosélitos da tribo, convenientemente esquecidos das evidências que viveram. Muitos deles são autores, nas redes sociais, quase sempre sob anonimato, de intervenções onde a injúria substitui a troca civilizada de argumentos e falseia a percepção do que se discute. Nesta espécie de bordéis de cobardes, a ignorância é o menos. O mais é a subserviência infame ao interesse do momento. O mais é impor como politicamente correcta uma visão ideológica que já foi testada e falhou. Assim vamos, em meu sentir, no prólogo de mais um ano escolar, sob o policiamento disfarçado do pensamento livre, rumo a uma pedagogia totalitária. [Read more…]

Talvez o meu pai morra amanhã

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Fátima Marinho

Talvez o meu pai morra amanhã. Se Deus quiser. Se Deus for clemente e compassivo, sim, talvez o meu pai morra amanhã. Se as minhas preces servirem para alguma coisa, sim, talvez o meu pai morra amanhã.
Morre tarde, todavia.
Morre às mãos dos que, pela crueldade, para se livrarem de culpas, o obrigaram a tormentos impossíveis de imaginar, mesmo nos mais negros quadros de guerrilha e tortura.  [Read more…]