Não, senhor presidente. Não esqueceremos

Marcelo Rebelo de Sousa fez hoje uma declaração lamentável, indigna de um presidente de uma democracia liberal, a propósito das constantes violações de direitos humanos no Qatar, que reconheceu, para de seguida afirmar “esqueçamos isso”.

A gravidade desta normalização segue um padrão. E não se resume a Marcelo, ou a Portugal, abrangendo todos os ditos moderados que governam as democracias liberais. E é mais corrosivo para a democracia que mil populistas.

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Deputados e Professores

Fotografia: João Relvas/Lusa@DN

Há algumas semanas, a RTP apresentou uma reportagem sobre esse admirável mundo velho que são as mordomias principescas da classe política portuguesa, nomeadamente daqueles 230 servidores públicos que se sentam no hemiciclo, e que, para lá chegar, declararam amor eterno à causa pública, ao país e aos portugueses, como se nada mais quisessem em troca do que servir o país.

Porém, como ainda não é possível comprar carros de alta cilindrada ou pagar férias na Polinésia Francesa com amor à causa pública, muitos são os deputados que, por exemplo, tendo residência fixa em Lisboa há muitos anos, onde fazem toda a sua vida, declaram residir no local onde nasceram, apesar de raramente lá porem os pés, apenas para poder sacar uns trocos extra ao depauperado erário público. [Read more…]

Talvez o meu pai morra amanhã

fotografia
Fátima Marinho

Talvez o meu pai morra amanhã. Se Deus quiser. Se Deus for clemente e compassivo, sim, talvez o meu pai morra amanhã. Se as minhas preces servirem para alguma coisa, sim, talvez o meu pai morra amanhã.
Morre tarde, todavia.
Morre às mãos dos que, pela crueldade, para se livrarem de culpas, o obrigaram a tormentos impossíveis de imaginar, mesmo nos mais negros quadros de guerrilha e tortura.  [Read more…]

A deriva socialista do ministro Pires de Lima

Bruno Nogueira, esse perigoso humorista da esquerda radical que tantos historiadores e observadores da extrema-direita atormenta, trouxe hoje para o tubo de ensaio um ministro que há uns meses atrás se terá apresentado aparentemente embriagado no Parlamento, por ocasião daquele momento infanto-juvenil das taxas e taxinhas, quiçá inspirado nos contos para crianças do primeiro-ministro. Em declarações à TSF, Pires de Lima afirmou:

Seria importante que o Sporting tratasse com dignidade e decência aquele que foi o seu treinador no último ano. Toda a gente percebe que houve dificuldades de relacionamento do presidente com o treinador, é importante virar a página, ninguém compreende que o Sporting tenha 18 milhões de euros para contratar e pagar os salários de Jorge Jesus e que depois se negue a pagar aquilo a que tem direito o Marco Silva.

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Castas à prova de austeridade

Tacho Laranja

Escrevo estas palavras depois de ler o artigo de hoje da Carla Romualdo que me deixou ainda mais céptico relativamente às movimentações em Portugal e Espanha no sentido de reforçar o combate ao terrorismo (que por cá simplesmente não existe e, a existir, Durão Barroso seria com certeza o maior culpado: prendam-no) através de medidas que visam sobretudo amputar liberdades, abafar a crescente contestação social e proteger as castas que instrumentalizam o regime em função das suas ambições e da vontade daqueles que os sustentam e lhes garantem confortáveis cadeiras nos conselhos de administração das empresas frequentemente brindadas com isenções fiscais e outros privilégios garantidos com o dinheiro dos nossos impostos.

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“A dignidade dos portugueses não foi beliscada” (V)

A vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor“.

“A dignidade dos portugueses não foi beliscada” (IV)

Passos pede aos portugueses para serem ‘menos piegas’”.

“A dignidade dos portugueses não foi beliscada” (III)

Crianças chegam ao hospital doentes por terem fome“.

“A dignidade dos portugueses não foi beliscada” (II)

Portugueses mais pobres e a ganhar menos do que em 1974“.

“A dignidade dos portugueses não foi beliscada”

Um em cada cinco suicídios tem a ver com o desemprego”.

Dignidade

editorial

“O modelo de prova demonstra que os docentes tinham toda a razão em rejeitá-la. Quanto mais não seja, por uma questão de dignidade” (Editorial do Público).

Liberdade

Matias Alves, do terrear:

“Da natureza da função docente

Ora, a forma como se exerce o ensino (…) transcende a feição burocrática dos serviços públicos.
Não podem ser objecto de ordens, e reclamam antes uma fiscalização, até porque, em regra, nem são funcionários do Estado aqueles cuja acção é fiscalizada. E mesmo quando – como sucede com os médicos escolares, ou com os professores oficiais – esses indivíduos são funcionários, eles não estão sujeitos a determinações ou ordens relativas aos serviços que executam como os outros funcionários. A um professor nada se pode ordenar concretamente sobre o exercício das funções. Nenhum director geral pode dizer a um professor que ensine desta ou daquela maneira. Pode, porém, haver uma Inspecção que verifique se eles cumprem os seus deveres.
Um professor não pode deixar de ter liberdade.

In António Pires Lima (1945). Administração Pública, Porto: Porto Editora”

Da garrafa para o brinquedo

Verdadeiramente brutal porque nos confronta com as nossas práticas que são solidárias com esta violência!

Sólidos, líquidos e gasosos

Antes de reciclar o DN de quarta-feira, ainda fui a tempo de ler uma crónica discreta como é discreto o seu autor, Baptista-Bastos, escritor que não embarcou no novo Acordo Ortográfico.

O seu pai, o de B.B., ensinou-lhe que os homens se dividem em 3 categorias: sólidos, líquidos e gasosos.

“Poucos homens sólidos há, hoje. A época tem sido fértil em amolecer carácteres e em estimular e premiar a velhacaria e a malandrice. Gosto muito da palavra «sólido» (…) ainda hoje me surge como um significado de dignidade. Conheço, agora, muitos mais homens líquidos e gasosos de que antes.  (…) mentirosos sem remissão; infalíveis tratantes; uma congregação de gente moldada (…). O nivelamento por baixo atingiu todos os sectores da sociedade.” [Read more…]

O fosso que todos ajudamos a cavar

O fosso de que se trata neste post é aquele que “se cava” entre a política e a vida.

Não somos apenas nós, cidadãos comuns, que o dizemos (sobretudo sentimos). São também, pelos vistos, alguns políticos como o deputado do PS Francisco Assis, que escreveu ontem no Público: “Quando entre a política e a vida se cava um fosso, tudo pode acontecer”.

Eu quero e preciso acreditar que ele, enquanto agente político, está a ser sincero e a trabalhar no bom sentido ou de boa fé para o bem comum.

Ele reconhece a “profunda distância que separa o discurso prevalecente na política do mundo concreto da vida”.

Ele sabe, ou finge saber, ou isso lhe interessa (maquiavelicamente) que, para nós, homens e mulheres comuns,  os discursos políticos já não significam nada, que são «montados» de “palavras ocas”. Assis refere-se sobretudo aos homens e mulheres “que se limitam a viver uma vida sem esperança, sem futuro, sem projecto, quase sem dignidade”.

“Tudo pode acontecer”. Tudo pode acontecer quando se cava um fosso entre a política e a vida. Já conhecemos muitos exemplos disso mesmo.

O fosso está cada vez mais profundo.

Mas nós, às vezes, damos uma ajudinha e não é só pelo voto…

Um exemplo: foram criados 1008 movimentos na sequência da iniciativa do governo «O Meu Movimento». Ideias boas e reveladoras de um interesse genuíno dos portugueses em melhorar este país. 

Um apenas foi recebido pelo PM (eles a cavar com toda a força): o movimento denominado «Abolição das Corridas de Touros». Teve mais de 8000 apoiantes (a nossa ajudinha). Não havia causas mais importantes a apoiar? Porque ganhou esta? O que se passa connosco? De que estamos à espera?

Não sou contra os touros, mas os portugueses estão a precisar mais de serem ouvidos e atendidos… Foi desperdiçada uma grande oportunidade.  Mais de 1000 pessoas registaram as suas preocupações através da criação do «seu» movimento, para depois ser selecionado apenas 1. Entre os 4 primeiros com mais apoiantes, 2 manifestam preocupação pelos animais…

Para quando uma audiência com os graves problemas das pessoas?

Uma vergonha.

Natal é sempre que o Homem quiser, certo?

Então estou certo que a nossa direita tão moderna não verá qualquer problema se a Jerónimo Martins repetir a gracinha no dia de Natal, certo?

Temos que Valorizar Quem nos Dignifica

O que seria da jovem e madura democracia portuguesa sem a dignidade e elevação que lhe confere Alberto João Jardim?

 

Mais um 2010

(adão cruz)

O mais recente trabalho, que eu dedico à dignidade do ser humano.

Ser gente

(adão cruz)

Quando eu era criança, diziam-me os meus pais que eu tinha de fazer tudo para ser gente. Ser gente? Mas o que é ser gente?

Ao ver hoje o que se passa à nossa volta, ao ver a deterioração mental, a total ausência de escrúpulos, o desprezo da honra e da dignidade, a proliferação de criminosos, corruptos e vigaristas de toda a espécie, mais evidentes nos estratos superiores da sociedade e nos sectores da Administração e do empresariado, de onde deveria vir o exemplo e não o assalto miserável a quem trabalha, eu entendo o que os meus pais quereriam dizer, com o ser gente. Ser gente seria, porventura, ir mais além do que trabalhar com seriedade e honestidade. Ser gente pressuporia a construção de alguma coisa dentro de nós e fora de nós que assenta, a meu ver, em quatro pilares fundamentais: [Read more…]

Kissinger- Clínton

Kissinger-Clinton

A Newsweek traz um diálogo entre Kissinger e Hillary Clinton. Tudo paleio de chacha, daquele que estamos fartos de ouvir desde Nixon e mesmo antes. A conversa de Kissinger cheira a ranço. As tretas de Clinton cheiram a requentados em micro-ondas.

Mas numa coisa, apenas, me detive. Diz Kissinger, aquele Nobel da Paz (?!), amigo de Soares, que foi um dos principais responsáveis pelo vergonhoso e sujo golpe do Chile, e pelo assassínio de tanta gente bem intencionada, boa e pacífica, que, terminar a guerra, passou a ser considerado, segundo muitos, como a retirada das forças, única estratégia de saída. Ou então, segundo este santo estratega, após a vitória pelas armas, ou a vitória decorrente da diplomacia ou da extinção da guerra a pouco e pouco.

Coitados, andam todos a tentar sair de cara lavada, desta fossa onde se enfiaram e enfiaram o mundo. Mas não há detergente capaz de limpar a merda que vão deixar nas páginas da história. [Read more…]

Rendimento mínimo dos patrões

Querem os apoios, mas querem saltar fora do acordo para aumentar o salário mínimo. Será que o Paulo Portas não terá nada para dizer sobre isto?

Ou também é moderno dar dinheiro a patrões incompetentes que ficam com os descontos dos empregados?

Nota: distingo patrões de empresários. O da CIP é Patrão. Negar o direito a alguém que vive do seu trabalho o acesso a um miserável salário de 490 euros é do mais reaccionário e conservador. Até incomoda ouvir tal homem a falar.