A senhora dos Messies barrou-me o caminho, rua abaixo, obrigou-me a parar, a tirar os óculos de sol, a dar a última sacudidela ao sono, e a ouvir-lhe a suspeita:
-Esta chave… Devem ter andado a roubar…
Na sua mão reluzia uma chave que ela encontrara no chão enquanto passeava os Messies. Esperava em silêncio que eu lhe completasse a história, mas eu fui sempre lenta para enredos policiais, ainda que tanto os aprecie.
-Eles têm andado a roubar… e deixaram cair esta chave… Os ladrões daqui do bairro, sabe?
Estávamos frente à porta de um edifício em ruínas, com um cadeado na porta carunchosa e já sem pingo de tinta, e um cartaz da imobiliária a ponto de cair. Os Messies, resignados, sentaram-se no chão.
-Pode ser que alguém tenha perdido a chave… – aventei.
-Não! Eles roubam de noite e depois atiram as chaves para onde calha… Olhe, de certeza que a chave é daqui.
Avançou a mão trémula para a fechadura do prédio em ruínas. O formato da chave e da fechadura eram tão distintos que não valia a pena, mas era preciso deixá-la experimentar.
-Não é daqui…
Que desconsolo. A pobre senhora suspirou. Os Messies deitaram-se. Havia que fazer qualquer coisa. Fechei-lhe os dedos à volta da chave e dei-lhe as instruções que o caso pedia:
-Guarde a chave, guarde-a bem segura, e comece a perguntar aqui no bairro. Pode ser que se descubra a quem pertence. Mas tenha cuidado, os ladrões não podem desconfiar!…
Assentiu com a cabeça, subitamente consciente da gravidade do caso e do perigo da sua missão. Estava feliz.
Despedimo-nos com um aceno cúmplice, muito nosso e sigiloso.
Os Messies, dois Yorkshire Terrier que se passeiam pelo bairro com as suas camisolinhas do número 10, levantaram-se e seguiram a dona, também eles, antes, tão pachorrentos, e agora vigilantes e desconfiados. Quem vir aquele trio nem imagina que ali vão os melhores detectives do bairro.
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