Davos – bailando com os vampiros

Lá começou hoje pela 50-ésima vez o Fórum Económico Mundial em Davos – o “Baile dos Vampiros” como o sociólogo suíço Jean Ziegler o denomina – onde os CEOs das multinacionais e gigantes “abutres”, como a operadora de activos e gestão de riscos Blackrock, se encontram com os políticos dos governos pressurosos em abrirem as portas a negócios chorudos. Isabel dos Santos, afinal, não vai lá estar, mas não faltará gente que conhece bem e aplica, sempre que possível, idênticos estratagemas.

Há quem defenda que, especialmente numa época em que o multilateralismo está periclitante, o Fórum é importante para juntar actores que não têm outra ocasião de trocar ideias; acrescenta-se ainda, que o Fórum se abriu à sociedade civil, pertencendo, este ano, um terço dos 3.000 participantes a organizações como a Oxfam e Greenpeace. O lema deste ano: Responsabilidade e Sustentabilidade.

Pois sim, se isso der para aumentar os dividendos… Do que não há dúvidas, é de que os resultados para um mundo menos desigual e predador têm sido nulos. Como habitualmente, a organização não governamental britânica Oxfam publicou o seu relatório pouco antes do início do Forúm – a desigualdade voltou a aumentar no ano agora findo, 1% detém 45% da riqueza, para os 99% ficam os restantes 55%. O sistema é enviesado e enquanto as regras não mudarem, bem podem falar.

Em contraste com os helicópteros dos magnatas, mais de 500 activistas pelo clima marcham 40 quilómetros até Davos pelo seu próprio pé. Entretanto as autoridades suíças proibiram os activistas de percorrerem a última etapa até Davos, com a justificação de que a estrada cantonal também serve de via de emergência neste trecho. O que não os impedirá de tentarem.

Também do lado de fora estarão activistas da campanha europeia stopisds, que pretendem entregar a petição, com as subscrições recolhidas, contra a justiça paralela privada que permite às multinacionais processarem os governos. 700.000 cidadãos europeus já se juntaram à iniciativa, que está prestes a terminar. Ainda está a tempo de subscrever aqui.

Trump abriu hoje o evento, pespegando os “great results” do seu governo; no outro extremo, Greta lá está e, caso consiga dominar o desespero, lá puxará mais uma vez as orelhas aos poderosos.

Os quais, se realmente quisessem dar um passo para uma ordem económica mais justa, em vez de floreadas declarações e caros banquetes, bastaria que, respectivamente, adoptassem/se submetessem a uma política fiscal menos brutalmente injusta.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    as autoridades suíças proibiram os activistas de percorrerem a última etapa até Davos, com a justificação de que a estrada cantonal também serve de via de emergência neste trecho. O que não os impedirá de tentarem.

    Fazem muito mal.

    Há autocarros públicos até todas as aldeias suíças (e Davos não é uma aldeia), pelo que não há qualquer justificação para se ir a pé. E ir a pé impedindo o tráfego automóvel, em particular impedindo os veículos de emergência, é totalmente injustificável.

  2. Luís Lavoura says:

    contra a justiça paralela privada que permite às multinacionais processarem os governos

    A Ana Moreno seja razoável e pense no que aconteceria se essa justiça paralela privada não existisse: muito simplesmente, as multinacionais não investiriam em nenhum país que a não tivesse. O que causaria imensos prejuízos à população desse país – porque, como a Ana Moreno bem sabe, pior do que ser explorado pelas grandes multinacionais capitalistas é não ser explorado pelas grandes multinacionais capitalistas.

    Eu não sei se a Ana Moreno conhece bem a justiça portuguesa e se tem confiança nela. Eu não tenho. E compreendo perfeitamente que uma qualquer multinacional se recuse a colocar-se sob a alçada da justiça portuguesa. Muito mais ainda se deve recusar a colocar-se sob a alçada da justiça, sei lá, vietnamita ou colombiana…

    • Ana Moreno says:

      O Luís Lavoura fique a saber, que isso de que “as multinacionais não investiriam em nenhum país que a não tivesse.” não passa de uma daquelas alegações neoliberais que é dada como premissa, mas não é comprovada empiricamente; há estudos que dizem que sim e outros que não, não havendo uma conclusão generalizada a esse respeito. Só para sua informação, o Brasil nunca assinou um acordo que incluisse ISDS; o que não o impede de ser um país em que as multinacionais andam felizes da vida a fazer os seu negócios.

      Quanto à justiça dos países não ser de confiança, se está a insinuar que os países da UE não são estados de direito, pois deviam ser, que é isso que alegam. De qualquer modo, justiça, é para ser igual para todos. Em vez de se andar a sustentar a alegada perda de lucros de multinacionais e a pagar indemnizações multimilionárias, que se invista na justiça nacional.
      Parece-lhe bem que os cidadãos e as PMEs se lixem nos tribunais nacionais e que os poderosos se despachem à margem, com direitos suplementares e com os contribuintes a pagarem as custas desses processos privados?
      Estranho muito.

      • Luís Lavoura says:

        o Brasil nunca assinou um acordo que incluisse ISDS

        Acredito, mas o Brasil é um país com 200 milhões de habitantes, tem um grande mercado interno, e pode-se dar ao luxo de impor às multinacionais regras que países mais pequenos não podem.

        • Ana Moreno says:

          Pois, e a UE tem 513 milhões de habitantes.
          Mas isso tanto faz, para ser Justiça, é igual para todos, que é o que dizem as consituições dos países e internacionais.

    • Paulo Marques says:

      Não consta que a Islândia tenha ficado com grandes problemas depois de mandar a banca estrangeira dar uma volta, só para pegar num exemplo, enquanto também não consta que tenham vindo a correr para a tugalândia depois de aumentar a precariedade e a oferta de subsídios.

  3. JgMenos says:

    ‘1% detém 45% da riqueza, para os 99% ficam os restantes 55%’

    O orgasmo da esquerda continua assegurado!

    • POIS! says:

      Pois!

      Ora aqui está um bom exemplo, ou não viesse de um orgulhoso direitrolha dos quatro costados, que deixa os Venturais, Abascais e outros Salvinais e Lepenais roídos de inveja!

      Num exemplo imponente de supremo altruísmo moral, JgMenos deixa o gozo orgásmico para os hedonistas esquerdalhos! E preocupa-se afincadamente com a boa saúde sexual dos mesmos.

      Mas não fica por aqui: dá o exemplo, siliciando o bestunto com profuso arame farpado!

      Isto sim, senhores! Isto é coerência!

    • Paulo Marques says:

      Tudo graças a idiotas úteis como tu, que ganham quanto menos percebem.

  4. Rui Naldinho says:

    https://www.odi.org/sites/odi.org.uk/files/resource-documents/11145.pdf

    O Bangladesh é um país com uma área aproximada de 145.000km2, tendo uma população de 160.000.000 de habitantes. Estamos a falar de 2016.
    A densidade populacional do Bangladesh é superior, actualmente, a 1000 habitantes por Km2. É com toda a probalidade a maior densidade populacional do planeta, como país. Exclui-se como é óbvio as cidades Estado.
    Se olharmos com atenção para a geografia do Bangladesh, este é atravessado por vários rios e deltas, o que diminui significativamente o espaço físico para a fixação de populações em condições condignas. Se considerarmos que este sempre foi um país agrícola, onde a densidade populacional, apesar de tudo, é mais baixa, imaginemos como se vive nas cidades. Muitos vivem como ratazanas.
    Cidades como Daca, a capital, esta tem uma população de 13.000.000 de habitantes (metro), para uma superfície de 1350km2 . Significa isto, que a cidade tem uma densidade populacional superior a 9500 pessoas por Km2. Um horror!
    Não sei se os quarteirões de Manhattan, em Nova York, albergam tanta gente, ainda que grande parte sejam escritórios.
    Isto para chegar até aqui.
    No Bangladesh, crianças com pouco mais de seis anos de idade trabalham 64horas por semana, a fazer as roupas que compramos, para sobreviverem. Ganham pouco mais de 3€ por dia.
    Sim, a cimeira de Davos é tudo isto, mas nós também não nos podemos esquecer que em boa parte contribuímos para que toda esta gente se deleite a “pensar no nosso futuro”.
    É o nosso consumismo que os alimenta. Eles agradecem-nos.

    • Rui Naldinho says:


      “Um relatório do OverSeas Development Institute (ODI) revelou que existe um número preocupante de crianças com idades inferiores a 14 anos, no Bangladesh, que abandonaram a escola e têm empregos a tempo inteiro. Em média, estas crianças trabalham 64 horas por semana.

      Os investigadores estudaram quase 3000 agregados familiares desprivilegiados dos bairros degradados de Dhaka, no Bangladesh, e descobriram crianças de apenas 6 anos com empregos a tempo inteiro. Outras chegavam a trabalhar 110 horas por semana. Estas crianças recebiam, em média, pelo seu trabalho, menos de 2€ por dia.
      A prevalência do trabalho infantil no Bangladesh é preocupante”, declarou Maria Quattri, uma das autoras do estudo. De acordo com o que descobriu, dois terços das raparigas com empregos trabalham na indústria do vestuário, o que levanta sérias questões sobre a roupa exportada e o trabalho infantil. Os rapazes têm ofícios mais variados: alguns trabalham nas obras e no fabrico de tijolos e outros em lojas ou vendem produtos na rua. 13% deles trabalham também em fábricas têxteis ou em outras partes do sector têxtil.

      “[As crianças] estão a trabalhar principalmente para subempreiteiros em fábricas de vestuário informais que produzem uma parte do produto que é depois vendido a empresas formais. E estas empresas exportam o produto”, explica a investigadora.
      36,1% dos rapazes e 34,6% das raparigas declararam sentir fadiga extrema. Outras crianças relataram ter dores de costas, febre e feridas superficiais.
      Ridoy tem 7 anos e trabalha numa fábrica, em Dhaka, que produz utensílios de metal.
      Amina (nome falso para proteger a sua identidade) tem 14 anos e só concluiu o 4º ano da escola primária. Quando o seu pai ficou doente, há três anos, Amina começou a trabalhar para ajudar a pagar as contas médicas. Hoje em dia, trabalha 12 horas por dia (com duas curtas pausas) nos serviços domésticos. “Perdi muito por não ir à escola. Mas a minha família é pobre e o meu pai está doente”, disse. Pelo seu trabalho, Amina recebe 30€ por mês.

      Embora a idade mínima de admissão para prestar trabalho no Bangladesh seja de 14 anos, as crianças com 12 ou 13 anos podem realizar “trabalhos leves” limitados a 42 horas por semana. Este tipo de trabalho não está claramente definido, mas exclui o trabalho nos caminhos de ferro, em portos ou fábricas e os turnos noturnos. No entanto, estas leis são, em grande parte, ignoradas e o governo carece de inspetores de trabalho ou de outras autoridades necessárias para as fazer cumprir.

      À semelhança de outros estudos, o relatório do ODI sugere que haverá milhões de crianças com menos de 14 anos a trabalhar no país asiático. O Bangladesh, com os seus 150 milhões de habitantes, tem feito progresso, nas últimas décadas para reduzir a sua taxa de pobreza, que passou de 50% da população para um terço, mas, mesmo assim, milhões dos seus cidadãos continuam a viver em favelas.

      Só a escola primária é gratuita e obrigatória no país e muitas famílias carenciadas afirmaram ter colocado os seus filhos no mercado do trabalho e não na escola devido ao valor das propinas escolares. Os investigadores descobriram que a maioria das crianças “trabalhadoras” tinha dificuldade em ler uma frase simples como “a menina está a brincar” em bengali. Houve muitas que não a conseguiram ler de todo.

      “O trabalho infantil representa um sintoma da pobreza e uma causa da privação educacional. Transmite a pobreza pelas gerações, aprisiona as crianças num ciclo de pobreza e compromete o crescimento económico nacional. O que o nosso estudo descobriu em Dhaka é um microcosmo de um problema global que deveria estar no centro da agenda internacional”, disse Kevin Watkins, coautor do estudo.
      As crianças que trocam a educação pelo trabalho mal remunerado dificilmente reunirão as qualificações e habilidades necessárias para quebrar o ciclo da pobreza entre as gerações.”

      • JgMenos says:

        Vai daí…o que haveria de ser feito?
        Quando subirem os salários, incrementa-se a concorrência e descem as encomendas,e uns milhares ficam a zero de rendimento.
        A china começou por limitar o número de filhos…

        • Paulo Marques says:

          Sim, porque há falta de coisas para fazer no Bangladesh.

        • POIS! says:

          Pois muito bem!

          “Quando subirem os salários, incrementa-se a concorrência e descem as encomendas,e uns milhares ficam a zero de rendimento.”

          A Ciência Económica acaba de ganhar mais um génio! A Lei de Menos está a provocar um tal furor nos meios académicos que, acredite-se ou não, umas toneladas de manuais de Economia tiveram de ser mandados para a reciclagem! E não foi tudo: milhares de teses de doutoramento tiveram de ser reformuladas (parece que o próprio Cavaco Silva já está a reformular a dele, coisa que, aliás, se fartou de fazer durante a vida).

          A Academia Sueca já está atenta! Temos Nobel, pela certa!

          • POIS! says:

            Coincidência genial, pois!

            Bem vistas as coisas o título (Lei de Menos) está perfeitamente ajustado ao conteúdo!

    • Ana Moreno says:

      “Sim, a cimeira de Davos é tudo isto, mas nós também não nos podemos esquecer que em boa parte contribuímos para que toda esta gente se deleite a “pensar no nosso futuro”. É o nosso consumismo que os alimenta. Eles agradecem-nos.”
      Como tem razão, Rui. Há dias aconteceu o seguinte: em princípio não compro roupa na Zara, mas acompanhei a uma loja uma pessoa que comprou uma camisola. Já que lá estava, perguntei onde podia informar-me sobre as políticas de responsabilidade social e sutentabilidade da empresa, se seria online. Olhos esbugalhados da empregada. Que não sabia, ía perguntar. Ao fim de um bom tempo lá voltou, com uma resposta lapidar: Não têm política nenhuma, as informações que dão estão nas etiquetas, mais nada. Claro que esta arrogância resulta de não terem de se preocupar com o volume de negócios – 18 mil milhões em 2018. A quem interessa Rana Plaza, não é?
      Abraço!

  5. Pedro Vaz says:

    Foi nestes clubezinhos que se decidiu que os povos Europeus tem que ser substituidos por escravos de África, Médio Oriente e Ásia Central. Por estas e por outras e que quem for contra estas pessoas dever apoiar o Chega porque todos os outros partidos servem esta escória (incluindo o PCP que se vendeu e se tornou em um BE com foice e martelo)