Críticas leva-as o vento

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[Anabela Laranjeira]

Hoje, por curiosidade, estive a ver as duas “aulas” para o 1ºCiclo na RTP Memória. Fui apanhando também, sem surpresa, a chuva de críticas às professoras que lá apareceram.
Concordo que, para actrizes, são bem canastronas, mas eu não faria melhor figura. Não sei que imagem têm vocês, os das críticas, da figurinha que fazem frente a câmaras.

O Matias viu comigo a professora Isa e gostou muito da história da Mosca Fosca; até já conhecia a história, e respondeu com ânimo às perguntas que ela ia fazendo. As crianças, em geral, identificam-se com a figura dos professores. Têm-lhes respeito e manifestam empatia, a empatia que vocês, os das críticas gratuitas a quem trabalha, não têm.

Li muitos comentários parvos por aqui, tenham juízo! A professora Isa não é contadora de histórias, também não é animadora de festas de anos, não critiquem a forma autêntica como se vestiu e como leu a história. Ela é isso mesmo, uma professora, não é a Xana Tok Tok! Mudem para o Canal Panda se querem mais ânimo amigos.

A Professora Isa, além do sacrilégio de “se vestir de preto”, usava qualquer coisa parecida com Doc Martens “amarelas, meu Deus!” !
Dizia “Ok’s” a mais; e a pronúncia era a que ouço na rua do meu bairrinho “ljboeta” que adora comer sílabas e falar à pressa.
Para uma professora que pretende dar uma aula de português, não se saiu da melhor maneira, tudo certo. Mas já se gravaram a falar? Já ouviram os professores e os auxiliares dos vossos filhos a falar? Eu já discuti com o meu petiz , de 5 anos, que não se dizia ” Há-des” mas “hás de” , não se dizia “amandar a bola” mas “mandar a bola”. Alguém lhe tinha explicado na escola que “Há-des” e “amandar” é que havia de ser. Um Hades na Terra!

Há ainda alminhas a criticar a divisão silábica e a explicação do “Á” aberto e do “A” fechado. Bem…Ela podia escolher outro CAMINHO. Em vez de falar da CAMA logo às nove da manhã, que ainda estava tudo com sono a norte de Portugal Continental, onde não percebiam muito bem como é que o #CRL. da “cáma” não começava pela mesma sílaba da “cása”, dizia outra ” Ca” . Mas também não lembra tudo… Que querem?

De acordo com outros críticos, mais de metade da “aula” foi “dada para os pais”, com palavras caras, que as criancinhas não percebem, a falar do “livro como objecto”, “que deve ser pequeno e fácil de manusear”, a explicar como é que se podiam fazer os cartõezinhos com as palavras e as imagens… Mas quem é que pensam que vai pôr as criancinhas a executar?! Acham que toda a gente andou na Superior de Educação da Professora Isa? Quero ver se amanhã têm tudo: as fichas e as listas da divisão silábica da coruja rabuja, e do bolo rabelo e do urso que comia o bolo das amoras! Fosca-se a Mosca!

Agora a sério, um Governo e um Ministério, que expõe assim gente séria, à chacota de um país inteiro, não merece o respeito dos seus professores.
A professora Isa talvez faça parte daquelas poucas centenas de colegas minhas que, gostando de chafurdar na mediocridade, se puseram ao portão da escola a ver se as auxiliares faziam greve e a escolinha fechava naquele dia. Ou talvez seja das que se sindicalizavam naquele que ajudava a pagar a casita e dava os certificados da formação, ou das que até iam às “Manifes da Fenprof” se lhes dissessem respeito mas nunca punham os cotos num Primeiro de Maio, ou dessas que foram lá nos últimos da Lista do PPD na terrinha para fazer número e tirar o dia.

Espero que não, espero que não…Dava-me algum gosto vê-la lado a lado com os querem outro país, outra escola, outra vida! Ainda vamos a tempo colegas, assim creio eu. Mas é unidos, não é a comer o bolo todo sem o partir às fatias como o urso da mosca.

 

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    Eu diria que, mais do que criticarem a figura que fazem os professores que dão aulas na televisão, as pessoas têm agora uma excelente oportunidade para criticarem os professores que dão aulas aos seus filhos. É que eles dão agora aulas online, que os pais podem visionar conjuntamente com os filhos. E o espetáculo por vezes é da pior qualidade. A minha mulher tem assistido aos aulas de um dos nossos filhos (no décimo ano) e tem ficado pessimamente impressionada. Diz que os professores sobrecarregam os alunos com trabalhos para casa mas não explicam praticamente nada. Diz que é uma perda de tempo assistir àquelas aulas – não se aprende nada.

  2. Carlos Almeida says:

    ” É que eles dão agora aulas online, que os pais podem visionar conjuntamente com os filhos.”

    Está tirar conclusões precipitadas sobre o comportamento das pessoas de modo geral em dois ambientes completamente diferentes:
    Uma coisa é estar em ambiente privado num aula com os alunos e outra coisa é estar perante uma câmera e microfone a falar para uma multidão.

    A segunda situação é muito mais “intimidante” para o formador e provavelmente devido à falta de tempo para que isso fosse feito, nenhum dos professores teve a formação adequada para ministrar a formação “ONLINE” .
    Isso chama-se “Formação de formadores” e isso é levado muito a serio em empresas para seleccionar os formadores das matérias tecnológicas que tenham que ensinar. E digo-vos que não são cursos fáceis.

    É claro que as pessoas não são todas iguais. Uns impressionam-se mais do que outros com a presença do microfone e câmera.

    Mas só que já passou por isso pode ter alguma ideia da situação.

    Mas se os críticos se quiserem rever, façam uma “aula” nem que seja de fazer um bolo e coloquem no Youtube para toda a gente ver. Não é fácil !

    • Luís Lavoura says:

      o comportamento das pessoas de modo geral em dois ambientes completamente diferentes

      A mim o que me preocupa não é o comportamento das pessoas, mas sim o que elas ensinam. É isso que me preocupa na Telescola, é isso que me preocupa nas aulas que eu dou online, e é isso que me preocupa nas aulas que os meus filhos recebem online. Lá se os professores têm um comportamento ideal (uma boa dicção, uma pronúncia standard, não coçam o nariz, não dizem àpartes, não hesitam antes de cada palavra, etc) ou não, é para mim muito secundário. Eu o que gostaria seria que os professores ensinassem bem.

  3. Carlos Almeida says:

    Sr Lavoura

    “A mim o que me preocupa não é o comportamento das pessoas, mas sim o que elas ensinam. ”

    O que elas ensinam não é da responsabilidade dos formadores, mas sim do seu patrão, no caso o Ministério da Educação.

    Mas num País em que o ensino da “língua Inglesa” é feito por professores a falar português e preocuparem-se principalmente com a gramática, estamos conversados quanto a ensino.

    “Lá se os professores têm um comportamento ideal (uma boa dicção, uma pronúncia standard, não coçam o nariz, não dizem à partes, não hesitam antes de cada palavra, etc) ou não, é para mim muito secundário”

    Tem razão, mas olhe que segundo o autor do post, são essas as criticas que são feitas pelas “experts”.

  4. Julio Rolo Santos says:

    Criticar é fácil, fazer é mais difícil. É natural que os professores que enfrentam as câmaras de televisão, alguns pela primeira vez, não se sintam tão á vontade como estando do lado de cá, sentado no sofá. Deiem-lhes tempo.

    • Carlos Almeida says:

      Concordo completamente. Mas hoje em dia temos um povo que lhe basta ter conta no “fakebook”, para ser técnico de informática, telecomunicações e agora também é especialista em dar aulas. e ou formação de modo geral
      Nunca deram aulas, nunca estiveram em frente a mais do 5 pessoas em directo e muito menos por detrás de um microfone ou câmera de vídeo para uma multidão, mas dão palpites. Haja paciência !

  5. tão feio ler todas estas críticas, sobre detalhes e subjetividades totalmente arredadas do essencial, a pessoas que se esforçam tanto e que nunca imaginaram que teriam de dar aulas desta forma. minha vénia aos professores e à telescola.

    • tão feio ler não, corrijo: tão feias as críticas totalmente descabidas de respeito por profissionais que dão o seu melhor.

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