Se me chamasse Sara Azera de Almeida

My other callers are all professional. Banal psychiatrists and grasping second-raters. Pencil-lickers.
Hannibal Lecter

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Efectivamente, se me chamasse Sara Azera de Almeida, garanto-vos, processava a presidente do júri e impugnava o concurso.

Como se trata de assunto grave, fica aqui o pdf ao dispor dos interessados.

Continuação de uma óptima semana: com muita saúde e sem infecções.

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Embargar a China? Why not?

CH

Não querendo entrar em teorias rebuscadas sobre a origem do novo coronavirus, de natureza conspirativa, parece-me inegável que a China foi desonesta com o resto do mundo, ao ocultar, deliberadamente e durante várias semanas, a gravidade do problema que tinha em mãos.

Vai daí, é meu entendimento que o mundo deve exigir à China compensações financeiras pelo caos que a sua opacidade aprofundou. Vou ainda mais longe: parte significativa do Plano Marshall que a Europa e o mundo vão precisar, quando a crise económica que já se sente ocupar o primeiro plano das nossas preocupações, deve ser assumido por Pequim.

Caso a China decida não colaborar, defendo que deve haver coragem, pelo menos do mundo democrático, em impor sanções pesadas, e, eventualmente, um embargo total. De caminho, e pensando apenas no espaço europeu do qual faço parte, parece-me que estamos perante o momento ideal para um plano ambicioso de reindustrialização da Europa, capaz de, simultaneamente, gerar emprego e acabar com a dependência das importações chinesas. Isto será absolutamente crítico em sectores como o têxtil ou o automóvel, apenas para citar dois exemplos.

Naturalmente, tal intenção enfrentará poderosas forças de bloqueio, não só da própria China, como do sector financeiro e da grandes multinacionais ocidentais, cujos lucros, estratosfericos, dependem dos baixos custos de produção e de matérias-primas que a grande fábrica do totalitarismo chinês lhes proporciona. Mantendo o actual status quo comercial, é praticamente impossível ao Ocidente competir com um regime que explora a mão-de-obra, ignora direitos laborais e não respeita direitos humanos.

Ainda no campo dos interesses do modelo económico ocidental, importa realçar que a China é hoje um dos maiores mercados de consumo a nível mundial e um dos maiores clientes de produtos de luxo produzidos pela Europa e pelos EUA. Um embargo total à China resultaria numa perda significativa de vendas para inúmeras marcas, do sector da moda ao automóvel entre muitos outros. E o capitalismo, que não se deixa abalar por contradições éticas ou morais, dificilmente cederá. É o lucro que importa, não os direitos humanos. Muito menos a democracia.

Assim, encontramo-nos numa encruzilhada. Por um lado, estamos reféns de um regime comunista totalitário, que controla e comanda parte significativa da economia mundial, incluindo empresas estratégicas na Europa e EUA. Por outro, estamos nas mãos de multinacionais e instituições financeiras, que se deitam com qualquer oligarca ou autocrata que lhes pague o preço certo em euros. Ou dólares. Ou yuans. Talvez precisemos de uma revolução. E os ares de Abril costumam ser propícios para derrubar ditaduras. Why not?