Futebol sem adeptos? Não!

A perseguição aos adeptos dos mais variados clubes e a culpabilização destes por todos os males no futebol não são de agora. Mas, ultimamente, tem sido intensificada a ideia de que os adeptos fazem mal ao futebol. Seja pela comunicação social ou até pelos órgãos responsáveis pelo desporto. Paira uma ideia de que quem segue um clube é um fanático e nada tem de positivo, enquanto quem fica em casa é responsável. Esta ideia é transmitida até à exaustão. Os adeptos não podem continuar a ser tratados como criminosos, quando na verdade são eles que dão vida aos estádios. A alma dos clubes está nas bancadas, naqueles que ali dedicam uns instantes de vida a apoiar algo importante para eles. Do jovem que gosta de cantar no meio da claque ao senhor que não dispensa as pipocas na central. É nestes que reside o verdadeiro espírito da bola. Isto é assim para quem vai ao futebol, para quem assiste de perto a esta realidade. Infelizmente, em Portugal, é notícia qualquer má atitude de um adepto, mas não se condena um polícia que cega um adepto, um adepto do Boavista. Por outro lado, houve uma onda de solidariedade. Adeptos de todo o país ergueram frases de apoio ao Jota. Isto prova como há lutas que são de todos. Lutas que não têm cor, lutas que apenas têm como objetivo exigir respeito à massa adepta.

Frases de adeptos do FC Porto e Benfica em solidariedade ao Jota

Desta vez, a Liga quer continuar o Campeonato sem adeptos. Futebol sem adeptos não é futebol. Querer terminar o campeonato nacional nestas condições é matar a essência do desporto. Ver os estádios vazios vai ser o mesmo que comer uma francesinha sem molho, perde o sentido. A Liga, a Federação e até mesmo os clubes ignorarem isto é ignorar quem sustenta verdadeiramente o futebol. Quem está lá semana após semana, e por vezes a pagar mais por jogos médios do que na Liga Europa (Moreirense – FC Porto, 19 euros. Bayer 04 – FC Porto, 15 euros). Aqueles que continuam a ser desrespeitados e tratados como marginais. As condições para ir ao futebol continuam a piorar para aqueles que gostam de viver o jogo. Este é o país em que a corrupção é adiada e adeptos são julgados num dia. É o país em que adeptos comuns não têm direito a cerveja com álcool, mas os de camarote já têm. Em França, claques de todos os clubes já se uniram.

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Façamos o mesmo pelo futebol português.
Pelos adeptos de futebol de todas as cores:
Não matem o futebol, o nosso futebol!

EPzt3O4WsAErB8uFrase de adeptos leixonenses contra o estado do futebol

ESmfi1AXgAQHUqyMensagem solidária de adeptos do Bayern München

Música de uma banda de adeptos sportinguistas contra o futebol moderno

Má imprensa

A sugestão de injecções de desinfectante que Donald Trump fez há dias não foi a sua primeira irresponsabilidade quanto a indicar formas de tratar a covid-19. Já o tinha feito antes com a cloroquina, sem que houvesse uma base médica credível e, como agora se soube, com intenções duvidosas.

“And then I see the disinfectant where it knocks it out in a minute. One minute. And is there a way we can do something like that, by injection inside or almost a cleaning?

“So it’d be interesting to check that.”

Pointing to his head, Mr Trump went on: “I’m not a doctor. But I’m, like, a person that has a good you-know-what.” [BBC]

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Crónicas do Rochedo 38 – Tempos de Excepção, medidas de Excepção

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O que acontece se o sector da Restauração e similares (restaurantes, bares, cafés, confeitarias, etc) não recupera rapidamente?

Nenhum problema, eu sou agricultor e produtor de fruta e legumes, continuo a plantar e a mãe natureza encarrega-se do resto”. Errado: o sector da Restauração e Similares é o principal consumidor de frutas e legumes. Sem ele o agricultor terá de fazer como já se vê em muitos dos países atingidos pela pandemia: deixar na terra a maioria da sua produção por não ter quem compre. O mesmo no caso dos produtores de gado.

Nenhum problema, eu sou produtor de vinhos e as uvas continuam a nascer e o vinho a produzir-se”. Errado: o sector da Restauração e Similares é o principal comprador de vinhos a nível mundial. Sem restaurantes e bares bem que os produtores de vinho terão de reduzir em 75% a sua produção.

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O vírus e os governos do lado da ganância

O expoente máximo da ordem económica mundial canibalista* em que vivemos, drogada no lucro e na competitividade, é … o patrão e accionista maioritário da Amazon, Jeff Bezos. Esse monstruoso poço de egoísmo e cinismo, que não faz segredo de querer substituir os seus empregados por robots – e que como tais já os trata – recebeu em 2014 o título de “pior patrão do mundo” da Confederação Sindical Internacional. As empresas que se subjugam ao seu Marketplace são igualmente esmifradas e, se têm sucesso, arriscam-se a que lhes seja roubado o negócio pela própria Amazon. No início de Novembro, Bezos foi nomeado o homem mais rico do mundo pela revista norte-americana “Forbes” e pela plataforma de notícias “Bloomberg”.

Perversamente, a pandemia do coronavírus beneficia a empresa de Bezos como poucas outras. De acordo com o índice Bloomberg Billionaires, desde o início do ano os activos do chefe da Amazon aumentaram em 23,6 mil milhões, para 138 mil milhões de dólares. Nenhuma outra pessoa na lista da Bloomberg dos 100 mais ricos do mundo aumentou tanto os seus bens desde o início do ano, como Bezos. Já em plena crise, a Amazon contratou 100.000 novos funcionários nos EUA – e agora anunciou mais 75.000 posições.

Mas, em consonância com o seu implacável instinto predador, a protecção da saúde e segurança dos trabalhadores durante a crise do coronavírus é desprezível para Bezos. Nos EUA, três empregados que denunciaram falta de qualquer material de protecção foram de seguida despedidos por “repetidas violações das orientações internas”.  E na terça-feira passada, um tribunal francês decidiu que a Amazon não tinha cumprido devidamente as suas obrigações de protecção nos seus centros logísticos em França, tendo determinado que durante um mês a empresa só pode vender bens essenciais, enquanto elabora novas medidas de segurança.

20 anos após a entrada na bolsa, a Amazon tem um valor total de 457 mil milhões de dólares. Obviamente, Bezos aproveita também as manigâncias fiscais a que os governos fecham os olhos, pagando assim impostos minimalistas. Em 2017, a Comissária responsável pela concorrência, Margrethe Vestager, declarou em conferência de imprensa em Bruxelas, que, entre 2006 e 2014, a Amazon não tinha pago impostos sobre três quartos dos seus lucros na Europa, devendo 250 milhões de euros ao estado luxemburguês – coisa de que este último se mostrou inocentemente surpreendido (ou não fora um dos paraísos fiscais europeus).

Segundo os cálculos da Comissão Europeia, a taxa efectiva de imposto que pagam as grandes empresas tecnológicas é de, em média, 9,5% – enquanto a generalidade das empresas paga em média 23%. Mas a Europa continua a dar-se ao luxo do faz que faz, mas não faz, quanto ao imposto sobre os gigantes tecnológicos (GAFA) e deixou a França, que acabou por avançar sozinha, exposta às ameaças de aumento de taxas alfandegárias de Trump. Muito altos são os interesses a impedir que a cobrança de tal imposto venha dar uma ajuda ao financiamento desta crise que ainda tanto vai doer.

*(na expressão do sociólogo suiço Jean Ziegler)

Da Liberdade à Igualdade

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[Ilídio Marques]

Todos os anos, neste dia, volto aqui. E irei sempre voltar. Esta celebração deveria ser também uma celebração da independência das ex-colónias. Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Samora Machel desejavam não só a libertação dos seus povos mas também a libertação do povo português de um regime autoritário. O que nunca vimos, até hoje, foi o contrário: a grande massa do povo português, ou até alguns dos seus líderes da revolução, desejarem a independência das colónias. Vimos, sim, o desejo do fim da Guerra de África, que é uma coisa completamente diferente. As repercussões arrastam-se até aos dias de hoje. Liberdade sim, mas ainda estamos longe da plenitude dos seus valores básicos, de uma vida em democracia, para todos os que cá vivem. E poderemos começar por um pedido de desculpas diplomático às ex-colónias. Até lá, esta não será uma celebração para todos. Será apenas para os brancos. Quer se acredite ou não se acredite.

O 25 de abril nasceu em África e esta é uma verdade que custará sempre a admitir a uma grande parte da sociedade deste país.


Celebrem a liberdade, mas não desistam da igualdade. Ainda há um longo caminho pela frente.