Esquerdofrenia

[João L. Maio]

O pior da esquerda é a constante falta de unidade. A dar tiros nos pés somos os maiores.

Num momento em que a esquerda precisa de estar unida, debater e chegar a consensos sobre a melhor forma de reagir (não gosto da palavra, mas é a correcta neste caso) ao avanço de uns certos iluminados sem luz, eis que prefere medir a pilinha do “eu sou mais anti-fascista do que tu” com os outros camaradas do mesmo espectro político.

As sondagens que vão saindo valem o que valem (ainda para mais quando as próximas Legislativas são apenas em 2023). No entanto, são sempre sintomáticas de alguma coisa, não fossem elas… amostras representativas. E essas dizem-nos que os desventurados vão galgando terreno. Um deputado fascista na Assembleia da República é um empecilho que temos tentado combater e desconstruir; agora imaginem fazer esse trabalho com quinze ratazanas lá metidas por outros milhares de ratazanas que os elegerão. Tudo isto se torna mais urgente quando ouvimos o líder da oposição dizer que não põe de parte uma coligação com os mini-hitleres cá da rua. Não acordes, esquerda…

Unam-se. Não se arruma com um fascista atirando o tiro para o ar. Separados e de costas voltadas não se combate o presente e muito menos se constrói o futuro.

“Tudo depende da bala e da pontaria/Tudo depende da raiva e da alegria”.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Cada um dos partidos políticos portugueses tem hoje o seu “nicho de mercado”, acabando por estar refém desse eleitorado para sobreviver como força política. O Chega não é diferente dos outros. O que o partido de André Ventura fez foi acordar uma série de ultra conservadores, grande parte deles xenófobos e racistas, que andavam perdidos no meio da “manada”, sem voz activa. Com a fragmentação da direita, mais tarde ou mais cedo eles iriam aparecer. Até porque a descolonização deixou sequelas profundas em muita gente, saudosismos serôdios que só se apagarão nas gerações vindouras, cujas vidas já nada tenham a ver com o velho Império.
    O tempo em que os dois maiores partidos eram na sua essência interclassistas, já lá vai. Mesmo o velho CDS tinha uma forte componente provinciana, mais a Norte, onde uma boa parte do mundo rural, anticomunista, votava. Já PSD e PS dividiam entre si a disputa entre o sector terciário da economia, ao nível do eleitorado. Nos outros sectores repartiam com o PCP esse eleitorado, nomeadamente a Sul e nos grandes centros industriais. Bastava perdermos algum tempo a olhar as sucessivas eleições para a AR, para verificarmos como muita coisa mudou desde então.
    É verdade que desde essa época o número de deputados se reduziu em 20. Antes eram 250. Agora são 230. Nessa altura, só a UDP com 1 deputado estava fora do sistema. Quer isto dizer, PS, PSD, CDS e PCP dividiam entre si os 249 deputados restantes. Hoje há 25 deputados divididos, ainda que de forma desigual, por mais 5 partidos. O BE, PAN, Livre, Iniciativa Liberal e Chega.
    Olhar o Chega sim, como um fenómeno político que devemos combater com argumentos, mas acima de tudo como medidas políticas que lhe retirem espaço de crescimento eleitoral é o mais importante. A ação política deve ser pautada, não pela a demagogia constante com que este governo nos tem brindado, na sequência dos anteriores governantes do PSD/CDS, que fizeram o mesmo. Não basta ter um PM filho de pai Goês, nascido em Moçambique, como António Costa, ou um ex PM casado com uma mestiça de ascendência negra, infelizmente já falecida, como Pedro Passos Coelho, para afirmarmos que Portugal não é um país recheado de racistas.
    O nosso tecido legislativo está construído para a permissividade. Não está construído para a exigência e eficácia dos métodos, como acontece com países, como a Alemanha, por exemplo, ainda que esta também tenha os seus rabos-de-palha. Uma coisa é aligeirar processos, para não burocratizar, outra é facilitar a promiscuidade e a permissividade. O nosso tecido legislativo está construído para que a Justiça não funcione. Está construído para que os fenómenos de corrupção se sucedam ano após ano, seja em contratos de adjudicação do Estado, seja em compadrios entre o Estado e alguns monopólios privados, como por exemplo, as rendas da energia, auto estradas portajadas, isto para não me alongar. Tudo isso não parece ter solução à vista. O desencanto cresce. Mas há que perceber onde reside o problema, não confundindo as coisas.
    Portugal tem hoje mais de 500.000 emigrantes de vários continentes, ou descendentes directos, já cá nascidos, em primeira geração. A pergunta que se coloca é simples:
    Criámos as condições para os integrar nas nossas comunidades, garantindo-lhes um conjunto de ajudas temporárias para os sociabilizar, do apoio ao emprego à habitação, da assistência sanitária à escolaridade, deles e dos filhos, mas exigindo ao mesmo tempo o cumprimento das regras estabelecidas para todos os cidadãos nacionais e estrangeiros?
    Não. Construímos sim uma narrativa assente na falsidade. Aquilo que fizemos foi demagogia. Abrimos as portas abertas “à Lagardère”, sem percebermos se não estaríamos de facto a criar guetos, onde a criminalidade acabaria mais tarde ou mais cedo por entrar à força toda, de ser exponenciada pela falta de perspectivas de uma vida digna.
    Trabalhei em Lisboa alguns anos. A minha experiencia com os emigrantes é penosa. Não por eles, mas pelas condições de trabalho que lhes eram propostas pelos empregadores. Tive a fiscalizar empreitadas de obras publicas, onde os subempreiteiros eram também eles emigrantes. Além do empreiteiro, branco, a generalidade dos trabalhadores eram todos africanos ou brasileiros. Nalgumas situações ainda havia um Ucraniano ou Moldavo pelo meio, como encarregado. O normal era não fazerem descontos para a segurança social. Trabalhavam “ao negro”! Tive de ameaçar com autos e multas, alguns empreiteiros por não terem os seguros de acidentes de trabalho em dia. Uma pouca vergonha.
    Um familiar meu que trabalhou vários anos na loja do antigo combatente, em Lisboa, um gabinete de apoio criado pelo antigo Ministro da Defesa, Paulo Portas, “para dar uma esmola”, aos antigos combatentes do ultramar, com um subsídio anual que não ultrapassava, no valor máximo, 180,00€, o mínimo eram 90, 00€, dependendo das situações e do tempo de serviço em campanha, contava-me que lhe apareciam muitos ex combatentes negros, das guerras coloniais, a solicitar o subsídio. Tinham lutado pelas nossas tropas. E tinham direito a ele. Mas quando se ia á base de dados do sistema, eles não constavam dos ficheiros. E não constavam porque nunca tinham feito qualquer desconto para a Seg. Social. Como o Subsidio ao Antigo Combatente é pago como complemento da pensão de aposentação, não a tendo, fica automaticamente eliminado.
    Este é o verdadeiro Portugal que temos, e não aquilo que os políticos apregoam.

    • Rui Naldinho says:

      Onde se lê emigrantes, deverá ler-se imigrantes. Uma vez que estando cá dentro, para nós eles são imigrantes, e não como erradamente está escrito, emigrantes. São-no sim, mas na terra deles é delas.

    • Esses são problemas para que nunca se encontram ‘activistas’.

      Essa canalha só aparece com um olho no foguetório mediático e outro no orçamento de uma qualquer força-tarefa montada pela cambada de cobardes que se dizem dirigentes políticos.

      • POIS! says:

        Pois tem toda a razão mas…

        Do que é que V. Exa. está á espera!

        Vá, Menos! Já para as obras! Caça!!!

  2. POIS! says:

    Pois sim senhor!

    Sobretudo não compreendo que não sejam possíveis coligações de esquerda nas eleições autárquicas quando seja essa a vontade das estruturas locais.

    E compreendo ainda menos que uma larga maioria na AR continue a colocar entraves às candidaturas de grupos de cidadãos, que poderiam consubstanciar iniciativas alargada de acordos à esquerda para candidaturas de gente decente. O único partido que tem batalhado para que tal seja possível é o BE e pouco conseguiu. Para se apresentar uma candidatura a uma capital de distrito podem ser necessárias 3000 assinaturas ou mais, todas do concelho (para um partido são necessárias 7500 a nível nacional…).

    Mas ainda podemos estar a tempo, se houver pressão dentro e fora das estruturas partidárias, por militantes e simpatizantes das boas causas.

  3. Julio Rolo Santos says:

    Infelizmente os partidos políticos teem-se, sobretudo os de esquerda, agarrado demasiado á ilusão de que a ultra direita nunca os vão ultrapassar e, quando menos se espera, eles estão aí de garras afiadas para levarem tudo á sua frente. Os nazistas estão a tomar-nos o pulso e, se a reação não aparecer rapidamente, adeus democracia.

  4. Rita A. says:

    Faço parte da imensa multidão que não vota.
    Não voto porque não me sinto representado por nenhum partido, pois não nenhum partido de direita em Portugal.
    Eis que aparece o CHEGA, que não sendo ainda um partido 100% de direita começa a incomodar os comunista. Como o Chega vai ter a possibilidade de reduzir a cinzar a esquerda radical, eu e outros como eu que não votavam irão votar no Chega pois é uma oportunidade de acabar com estes comunas que tem destruído a nossa economia ( Uma banca rota 15 em 15 anos ) e apenas fazem o que melhor sabem – produzir pobres ( ou criando racismos ,xenofobias e homofobias em qualquer canto)que lhes garantam os votos que precisam para sobreviver

    Rita A.

    • Rita B. says:

      Tu não és a irmã Tuga, da Lucinha Pissaro?
      Se não és, pareces!

    • Paulo Marques says:

      Então precarizar o trabalho, privatizar o que tem lucro, fechar hospitais e escolas, desregular rendas imobiliárias e fomentar o rentismo capitalista é comunista e eu não sei?

    • POIS! says:

      Pois tá bem!

      Afinal o chega ainda não chega?O chega ainda não é 100% de direita? O que é que lhe falta Herr Rita? O Venturinha deixar crescer o bigodinho? Ou antes rapar a cabeçorra?

      Como é que vão “reduzir a cinzar” a esquerda radical? Onde vão meter os “pobres” entretanto “produzidos”? Tem algum palpite?

      E se o chega chegasse ao poder passariam a produzir ricos? Ou ficariam pelos remediados?

  5. esteves ayres says:

    Todos, mas todos, temos culpa do que se tem passado em Portugal.
    Os sucessivos governos, são os principais responsáveis, mas não só. O BE o PCP, tudo fizeram para combater a esquerda ou seja os verdadeiros marxistas (homens e mulheres de esquerda), e a maioria deles foram censurado, ameaçados e presos. Ou já se esqueceram?!
    A “comunicação social” deixou de fazer o seu papel, sendo tb responsáveis, porque ao longo dos anos a (maioria), fez (e continua a fazer) propaganda à direita, extrema-direita salazarista. E fico por aqui…
    Nem fascismo nem social-fascismo!

    • Rita A. says:

      Ainda mais esquerda, já não basta esta que temos à decadas?
      Só ficais satisfeitos quando ficarmos uma venezuela ou uma cuba ou até Coreia de Norte ou China. Emigrem para lá…

      Rita A.

      • Paulo Marques says:

        Políticas de esquerda em quê? Em seguir a parte de respeitar o outro da bíblia? É que de resto, não vejo nada.

  6. Julio Rolo Santos says:

    Nem fascismo nem social fascismo. Plenamente de acordo. No meio é que está a virtude mas essa às vezes também nos desilude.

  7. O que a Manada quer é CIRCO e PÃO SECO… Deixem a Manada ter aquilo para que vota.

    • POIS! says:

      Pois tá V. Exa bem enganado!

      PÃO SECO? Isso já lá vai! Agora tudo o que seja menos que croissants com “paté” de esturjão da Lapónia atropelado por elefantes já não marcha! A Manada anda muito fina, são outros tempos!

  8. Chamar ratazanas aos eleitores que elegerão os eleitos ratazanas é, na minha opinião, muito baixo nivel. Então a democracia, a expressão do voto só é bom se votarem no que você gosta e acha bom ? Francamente!

  9. Temos agora um esquerdalho pronto a puxar da pistola!
    Como toda a restante cretinagem nunca lhe passa pela cabeça que seja a idiotia esquerdalha, a sua doutrina dos coitadinhos que alimenta a tribo dos activistas, que inventa o que necessário seja que lhes active um orçamento – desde logo e sempre em busca de um destaque noticioso.

    Agora temos o ridículo de um suposto grupo radical se dirigir aos «anti-racistas e anti-fascistas»!.
    Que radicalismo tão ilustrado!
    Que ódios tão respeitosos!
    E querem-nos fora do país!
    Nada de tiros, quiçá um destino cosmopolita!

    Será que ‘esquerdalho não temente ao ridículo’ já contagiou a direita?

    • POIS! says:

      Pois é um facto!

      Veja lá V. Exa. que até retintos direitrolhas salazarescos se deixaram de expressões como “mamões”, “coirões”,”treteiros”, etc., para se meterem a ditar respeitosos sermões com vírgulas, parágrafos, pontos de exclamação e tudo!

      Um horror! Tá tudo contagiado!

    • Paulo Marques says:

      Quando os racistas puxavam da pistola, do cacetete, da moca, do carro, do que fosse, tava o Menos caladinho e contente. Como caladinho e contente está perante o peditório constante para que os criadores de emprego sejam salvos.

      • Essa cena de não te aumentarem o ordenado….

        • Paulo Marques says:

          E se ainda fosse funcionário público, muito mal pago e desrespeitado, qual era o problema?

          • Desde que a mama fosse pública já te sentirias melhor…

          • POIS! says:

            Pois cá está!

            Em matéria de mamadas, JgMenos perfere exercer no sector privado. É uma opção ideológica que temos de respeitar.

          • Paulo Marques says:

            Sentir-me bem por servir a comunidade invés do meu umbigo é pecado, e Jesus não sabia?

    • esteves ayres says:

      Se tivesse no tempo do fascista Salazar (PIDE/DGC) , nem se quer tinha tempo para respirar, hoje tem o tempo todo , e aqueles que tu desprezas com o seu cinismo, nunca te vão bater à porta.. como faziam no tempo da PIDE/Salazar, e seus colaboradores…. Nem fascismo nem social-fascismo… Rua com os Miguéis de Vasconcelos!

    • abaixoapadralhada says:

      Negativo Sa Lazarento

      “Será que ‘esquerdalho não temente ao ridículo’ já contagiou a direita?”

      Mas não a extrema direita, como tu, representante serôdio do Salazarismo, aqui demonstra

  10. Paulo Marques says:

    Como diz o Rui, estar unidos em quê? Criar leis é fácil, até mudar procedimentos e criar organismos se faz rapida e facilmente. E nem um tachozinho se pede por esse entendimento.
    O complicado é mudar a estrutura que impõe a existência de vencedores e perdedores (na verdade, perdedores e falidos) que leva às velhas divisões entre nós e os outros. Entre um partido que acha eternamente que a próxima reforma europeia é que vai ser e é mais papista que o papa a implementá-las, e os outros que reconhecem que são um desastre (sem tirar as devidas consequências), vai-se acordar o quê? Ainda para mais quando os eleitores, da esquerda à direita, estão maioritariamente bem com o faz de conta que estaria tudo bem se não fossem os mauzões incompetentes do outro lado a atirar areia para a engrenagem, e que está tudo fundamentalmente bem.
    E vamos ser sérios, concordar que as migalhas do péssimo programa de “recuperação” vão resolver alguma coisa invés de aumentar a miséria não é um programa vencedor nem a curto prazo.

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