
@luadepapel
Não consigo precisar com toda a certeza, mas penso que a primeira vez que li um livro que se enquadre na categoria de “auto-ajuda” ou de “desenvolvimento pessoal” foi por volta dos 13 anos. Na altura “O Segredo”, de Rhonda Byrne.
Fiquei fascinado com toda uma série de conceitos como a lei da atracção, a força do pensamento e tantos outros que, estando mais ou menos atentos, já ouvimos falar pelo menos uma vez.
Nestes 12 anos que se passaram, fui do fascínio por estes livros à crítica profunda e ao rótulo de “banha da cobra” e adjectivações semelhantes. Posso dizer que atingi o equilíbrio no que à perspectiva sobre estes livros diz respeito (será que eles ajudaram?).
O último que li foi o “Pense e Fique Rico”, de Napoleon Hill, tido como um clássico da categoria, um manual de como atingir riqueza financeira. Não pude deixar de sorrir várias vezes, durante a leitura, com paralelismos com o mundo actual, seja pela vertente profundamente capitalista do livro, seja porque todos os exemplos de sucesso são homens, enfim, senti-me um verdadeiro censor moderno, a espaços.
E foi precisamente esse sentimento que me permitiu, por paradoxal que pareça, absorver várias ideias do livro.
De alguma forma, todos os livros de auto-ajuda dizem variações da mesma coisa. E provocam dois tipos de fenómenos muito interessantes: aqueles que endeusam, que mistificam, que tomam as palavras destes livros quase como fenómenos paranormais; e aqueles que, em reacção a essa atitude, rotulam tudo de balelas, de tretas, de chalupice.
Ah, o século XXI. A virtude pode estar no meio, como diz o povo, mas sentir-se-á profundamente sozinha, por estes dias.
Numa leitura séria desta literatura, e colocando de lado a gordura, há lições que podemos retirar. Alguns dirão que estes livros dizem coisas que toda a gente sabe. Talvez seja verdade, mas não o é que toda a gente aplique.
Eu não acho que o dinheiro caia do céu ou que o sucesso bata a porta enquanto batemos o pé sentados numa cadeira. Mas acho que, e principalmente nos dias que correm, em que somos inundados de informação, termos a capacidade de organizar os nossos pensamentos, de definir concretamente objectivos a atingir e de termos confiança em nós próprios para os atingir, são ferramentas fundamentais.
A digitalização do mundo e da vida fez-nos perder a capacidade de escrever em papel. Quando foi a última vez que escreveram algo? Conheço pessoas que não sabem responder a esta pergunta.
Longe vão os tempos dos diários que escondiamos dos outros porque eram demasiado pessoais e privados. Verdadeiros exercícios de auto-reflexão, retratos próprios e interiores que não partilhávamos porque, até para nós próprios, eram assustadores. O diário servia como que uma purga fechada à chave para a qual não tínhamos de olhar.
Hoje o diário, além de ter perdido o lugar no papel e ter passado para o digital, passou também, muitas vezes, para o formato de rede social, em que já não é uma purga mas um exercício de vaidade, uma teatralização da realidade que, contrariamente ao confronto com os nossos erros que o diário permitia, empurra-os para o fundo do tapete digital, mascarando-os até ficarem irreconhecíveis.
Não será, por isso, ao acaso, que a maioria dos livros que prometem sucesso, riqueza, e bem-estar, digam ao leitor que deve escrever os seus objectivos. Contém exercícios de pergunta e resposta que levam, em teoria, a um maior conhecimento de nós próprios. Ainda não li um livro que diga “escreva um estado no Facebook para perceber porque é que você e o seu pai não se dão bem”. Todos os que li dizem o mesmo: escreva. Responda a estas perguntas com honestidade. Leve o seu tempo.
Escrever é um acto de catarse. Acalma a alma e permite uma reflexão com a nossa consciência, com o nosso “eu” interior, com a categorização que melhor aprouver. Talvez signifiquem todas as mesmas coisa. Talvez não. Mas com certeza que muitas dúvidas se esclarecem nesse acto de diálogo próprio que é a escrita.
O livro termina com a frase, adaptada de Emerson, “Se estamos interligados, através destas páginas encontrámo-nos”. Partindo desta adaptação, diria que o processo de escrita é interligarmo-nos connosco. Não sei se pensar e ficar rico têm alguma causalidade (o livro é enigmático), mas sei que escrever traz sempre qualquer riqueza.
Como falar fácilmente e interessar pessoas em negócios – Dale Carmegie – 1952
Cá em casa, este é um dos livros que nunca li!
Pois é|
Pois, para V. Exa., esse não deve servir de grande coisa. O Dr. Oliveira de Santa Comba bem o leu mas, o melhor que conseguiu, foi tornar a sua voz de soprano um pouco mais maviosa. Não sei se lhe interessa.
É como o do post. Para V. Exa, claramente não serve. A avaliar pelo título, o caminho para ficar rico não está mesmo ao alcance de V. Exa. O melhor é tentar o Euromilhões, que eles tiram-lhe uma chave automática da máquina.
Escusas de dizer que não pegaste num livro, a gente sabe que nunca leste nenhum.