O senhor doutor arquitecto chegou a casa, descalçou-se e, sem mais nada, cumpriu a rotina do dia arreando na mulher.
Pousou os pés em cima da mesa, ordenando à arreada que lhos lavasse, senão levava mais. A senhora lavou-lhe os pés, como bem manda a lei e porque é bem mandada. Saraiva, o senhor doutor arquitecto, calçou depois as suas pantufas peludas, dignas de um homem com vários h capitais, como deve ser. Serviu um copo de vinho e, ao terceiro, arreou na mulher – estava com fome e o jantar ainda ao lume. “Para que me serve a mulher senão para me cumprir horários?”, exclamou, enquanto a pobre coitada, dolente e cansada, pousava os tachos na mesa.
O jantar era arroz de cabidela. O senhor arquitecto gosta dele salgadinho e com um bom travo a vinagre. Colhe a primeira garfada, sopra-lhe um bocadinho com a ponta dos lábios – mas à homem, com letras capitais! – e… falta-lhe sal. Nisto, porque não há duas sem três, pousado o garfo, o senhor arquitecto olha de soslaio para a sua fiel mandatária doméstica, como quem avisa: não há duas sem três.
Depois de arrear pela terceira vez na mulher doméstica e devota do seu amor batente e de terminar o seu jantar – já devidamente temperado, à força, pela que não tem nome sequer – Saraiva senta-se no seu cadeirão acolchoado, enquanto usufrui do seu “dois dedos com uma pedra” servido pela obediente do sexo feminino que mora lá em casa. Vê a bola, é dia de jogo. É um Portugal x Holanda (agora Países Baixos, mas o Saraiva mantém tradições, não fosse ele Saraiva e arquitecto). Por azar, ao tomar atenção mais de perto, repara que este encontro europeu do mais alto nível, não está a ser jogado por homens altos, fortes, rápidos e esculpidos ao mais ínfimo pormenor corporal, como o senhor doutor Saraiva aprecia, mas sim por umas dedicadas, talentosas e corajosas raparigas, o que o senhor doutor Saraiva abomina.
“Futebol!”, exclama o senhor arquitecto, “futebol não é para gajas!”. Furibundo, grita pela esposa e ordena-lhe que apanhe umas pela Selecção dos machos, porque qualquer dia, ao nível a que isto chegou, estamos a deixar que as mulheres votem, usem calças, paguem as contas e, pior, exijam direitos iguais! “Direitos iguais!”, diz, horrorizado. Nisto, uma atleta do sexo feminino remata a trinta metros da baliza, colocando a bola onde dói mais: no ângulo da baliza adversária e na alma dos machistas que não gostam de mulheres. Pumba! Razão mais do que suficiente para o dia do senhor doutor arquitecto estar desfeito.
No dia a seguir, bem cedo, cumprindo a sua rotina matinal, o senhor arquitecto Saraiva vestiu as suas calças justinhas, o seu pólo Lacoste, os seus mocassim cor-de-burro quando foge e pousou um chapeuzinho na cabeça, para proteger a fronte do sol forte de Fevereiro e lá foi, cantando Gene Kelly, ter com as amigas ao golfe.
Ó sô Saraiva, esteja calado e aprecie lá a qualidade técnico-táctica das jogadoras e… como diria o saudoso: ripa na rapaqueca! O arquitecto Saraiva “é um pouco como as ciclovias”: tiveram de o “fazer à força”. “Caminhamos, pois, para uma ditadura. E isso já começa a sentir-se”, uma vez que as mulheres já podem eleger, já podem ser eleitas, já podem usar jeans e cuspir no chão, tal e qual os homens (!) e, pasmem-se, até já podem jogar futebol! O que se segue? Obrigarem os homens a aprender a cozinhar?
Pela escassez de comentário deduzo que, mesmo entre os lelés da cuca que para aqui andam, ninguém tem cara para vir defender que a qualidade do futebol feminino é proporcional à sua exposição mediática (só mais uma prova do casamento feliz entre a agenda “woke” e os capitalistas dos média, que se babam por novos “conteúdos” e pela capacidade de monetizar aquilo a que ninguém dá valor). PS: há muitos golos a 30 metros da baliza (e de cabeceamentos na pequena área) porque as guarda-redes são péssimas (desculpa Inês). PS2: vi, do princípio ao fim (enfim, no último desisti a meio), os jogos da nossa selecção, não estou para aqui a cagar postas de pescada.
Eu quero lá saber disso. Deixem as miúdas jogar. E o senhor Saraiva que veja Wrestling, mas só com homens.
Ou então não sabem quem é o arquitecto Saraiva. Um tipo que bate na mulher? A metáfora de que qualquer um que acha o futebol feminino fraco é um potencial aplicador de violência doméstica?
Do Euro, tenho visto quase todos os jogos, nenhum completo. Realmente é fraquito. Então as GR, parecem dos anos 70.
Já os mundiais de Eugene, é não binário: tanto se vê eles como elas. As senhoras que aproveitem, o futuro é a inclusão, tudo ao monte numa só competição. Até porque há quem ja não consiga definir masculino e feminino…
Claro que não é, leva décadas de atraso, investimento, incentivos, aceitação, e por aí fora. Não acontece é a disparidade sozinha.
A diferença é a mesma que noutros desportos: o nível de espetáculo proporcionado. Por exemplo, MMA com mulheres tem bastante sucesso, porque elas realmente proporcionam um bom espetáculo, ao nível dos combates masculinos. Dão e levam como qualquer gajo.
O problema do futebol feminino e da WNBA é que as mulheres (ainda) não conseguem jogar basket ou futebol ao nível dos homens. Não quer dizer que tal não venha a acontecer, só nessa altura é que os fans vão aparecer e os rendimentos vão aumentar.
Mas eu nem sequer comparo. Não entro em comparações, quero lá disso. Cada um terá a sua qualidade, nos seus termos, dentro das limitações de cada um.
O resto, a crónica machista mascarada de “preocupação” e “argumentos” bacocos que tentam justificar o ódio às mulheres do Saraiva, é isso: resto. Não acrescenta, não ajuda, só atrapalha. É pôr os Saraivas no lixo.
Nem percebo, sequer, por que é que alguém se havia de falar com isto. Deve ser falta, só pode.
No último parágrafo, queria dizer *ralar e não falar, como está escrito.
Como é evidente. Voleibol (não, não é por causa dos calções) e andebol até são mais espectaculares na versão feminina (ou se calhar é porque não acompanho as modalidades) com pontos muito mais longos e jogadas muito mais elaboradas do que na versão masculina, “desfigurada” pelo incremento brutal na altura e na potência física dos atletas. Já a ideia só um marialva que bate na mulher é que acha futebol feminino um espectáculo pobre (e o destaque que lhe é dado, um artifício de mercado e a ideia de que a Jéssica deve ganhar o mesmo que o Ronaldo uma perversão maoista do conceito de igualdade), isso é só um mais um daqueles pequenos fascismos “woke”.
Volei, andebol, atletismo, ténis, natação, canoagem, remo, são exemplos de desportos muito interessantes no feminino.
Futebol e basquete, só para os fãs. Então a wnba, eles bem tentam vender, mas não é a mesma coisa, não. Isso não tira o direito à Ticha de jogar, mas “obrigar” pessoas a ver em nome de uma igualdade inclusiva…
Hum, a inveja é uma coisa muito feia…
Uma história idiota com um protagonista miserável – a mulher que lava pés e enfarda – para trazer a questão idiota do desempenho de mulheres em desportos tradicionalmente usando capacidade física e atitude típica de machos.
Masculinizar fêmeas e feminizar machos é a idiota missão de uma ideologia idiota.
Texto lamentável.
Obrigado. Mas isto não é um muro. Não se lamente aqui.
Que artigo tão idiota…, imagem do autor?