Juventude frustrada

Viver, estudar e trabalhar em Portugal parece um conto de fadas que rapidamente se destrói. Aos custos associados à vida de estudante, para além das propinas, transportes e alimentação, soma-se os preços inflacionados da habitação precária e das residências. Cada vez mais jovens, desistem dos cursos que outrora sonharam porque não têm capacidade para suportar todas as despesas que a vida académica e pessoal acarreta. Aqueles que conseguem terminar, vêem-se num desespero para encontrar estágios profissionais e primeiros empregos, passando, muitas vezes, por arranjar outros biscates, que nada têm haver com o que estudaram, para ganhar alguma migalha e sobreviver. Pergunto: Como é que é possível termos os jovens mais qualificados, e, ao mesmo tempo, termos a maior taxa de desemprego jovem na UE? Como é que é possível que exista tão pouco suporte para aqueles que saem da vida académica e tentam integrar-se no mercado de trabalho?

Nos dias de hoje, assiste-se a uma descrença por parte dos jovens, no que respeita a ter uma vida digna, com grandes estudos e trabalho devidamente remunerado. Já para não falar das pouquíssimas expectativas em sair de casa dos pais antes dos 25 anos, ou mesmo em comprar ou arrendar casa a preços acessíveis. A suposta solução encontrada por muitos é emigrar à procura de melhores condições de vida e salários, deixando Portugal como um país insípido onde os jovens não atingem o potencial que tanto anseiam por falta de apoios. 70% dos jovens desempregados portugueses (entre os 20 e os 34 anos) são os que estão mais predispostos a emigrar para outro país à procura de emprego, comparativamente com os jovens de todos os países da UE, de acordo com um relatório da Eurostat.

Pergunto: até quando continuaremos na cepa torta?

É urgente pensar-se em habitação académica a preços acessíveis para todos e todas, para que ninguém fique de fora ou para trás, nesta fase tão importante da formação. É urgente pensar-se na abolição das propinas, é urgente pensar-se num melhor estabelecimento de contactos entre as universidades e as empresas, para integrar pós universitários no mercado de trabalho. É urgente pensar-se em aumentar o salário mínimo. É urgente pensar-se em reconhecer os jovens e dar-lhes as oportunidades necessárias, para que possam singrar dentro de Portugal e não queiram sair.

Comments

  1. Luís Lavoura says:

    as pouquíssimas expectativas em sair de casa dos pais antes dos 25 anos

    Na minha aldeia conheci há uns tempos uma jovem de 18 anos que trabalhava aos sábados como ajudante no cabeleireiro onde eu cortava as melenas.
    Nos dias da semana, trabalhava numa fábrica.

    Depois desapareceu do cabeleireiro. A cabeleireira informou-me que, conjuntamente com o namorado, também ele trabalhador fabril, tinham arrendado uma casa numa aldeia mais longínqua.

    As contas são fáceis de fazer: duas pessoas, cada qual com um ordenado de 700 euros, podem ser dificuldade arrendar uma casa que, por ali, está disponível por preços a partir dos 300 euros.

    Portanto, como eu disse, essa jovem saiu de casa dos pais aos 20 anos de idade.

    • JgMenos says:

      Casal?
      Família?
      A cultura esquerdalha e todo o cenário político correspondente estão dirigidos a que o indivíduo, por si só, se possa organizar em plena autonomia e ter meios de dar realização às suas ambições que, naturalmente, incluem intensa socialização com outros autónomos, acesso a entretenimento e meios culturais, e ócios, e férias, naturalmente.
      O colectivismo esquerdalho woke, exprimem-se nesses agregados de indivíduos autónomos, itinerantes, multifacetados, universalistas… na luta por mais e melhor.
      A receita para a frustração completa-se com a certeza de que se tal cenário não é viável, é porque a exploração capitalista o impede, donde se conclui, que são vítimas do sistema!
      À luta, camaradas!

      • Paulo Marques says:

        Pois, nem toda a gente tem a capacidade de ouvir duas frases sobre alguém que nunca se conheceu para concluir tudo sobre o seu percurso de vida adulta que ainda mal começou. É um dom que não me assiste, deve ser falta de acreditar nos pastorinhos.

    • Anonimo says:

      Centro de Estudos Estatísticaos Lavoura. Nunca falha.

  2. JgMenos says:

    É urgente pensar-se…em obter!?!?!?!?
    Urgente mesmo é fazer contas.
    Como criar a riqueza de que possa obter-se melhoria do nível de vida, é que requer que se repense todo um modelo virado a que se obtenha olhando para onde o haja, sem cuidar de saber como se houve e haverá.

    • Paulo Marques says:

      Ora, é fácil, camarada. Tendo a certeza que o dinheiro acaba no Panamá e volta num RERT para reinvestir em carros, iates, e mansões, enquanto quem cria valor continua a agradecer ao dono que lhe disparem a renda até ter que fazer uma deslocação diária Beja-Lisboa.
      Amén.

      • JgMenos says:

        Sempre «olhando para onde o haja» consome-te a mona….

        • Paulo Marques says:

          Consome, pá, não gosto de olhar e ficar a desejar o que nunca vem; nem aqui, nem em lugar nenhum, que anda tudo à procura do mesmo, seja na Califórnia ou em Amesterdão. E não gosto de ficar dependente dos outros, coisa que não sabe o que é com tanta baba para as botas.

  3. Paulo Marques says:

    “Como é que é possível termos os jovens mais qualificados, e, ao mesmo tempo, termos a maior taxa de desemprego jovem na UE? ”

    Porque a UE existe para que os mais qualificados da periferia sejam obrigados a ir para o centro puxar o custo laboral para baixo. Sim, também na província as prioridades podiam ser diferentes, e as políticas mais competentes – não que o sejam nalgum lado quando se vai para além da propaganda – mas a economia é o que é, não o que se acha.

    • Paulo Marques says:

      E os que se dizem aliados, muito menos. Uma lição que a Alemanha aprende a mal.

    • JgMenos says:

      ‘termos os jovens mais qualificados’
      Sempre me dizem isso, mas a pergunta é: ‘qualificados para fazer o quê’?
      … logo se verifica que é preciso que alguém tenha tomado uma iniciativa, definido um projecto, criado um modo de executar, obtido um mercado – para que haja uma oportunidade de manifestar a qualificação.
      Pois, mas o Estado também… produz nada que não serviços, a custos que não cuida de apurar, para um mercado que ou não paga ou não pode deixar de pagar; onde a qualidade individual é traduzida em salário por classe, onde a produtividade não é medida.

      Ou seja, que oportunidades temos, na economia?

      • Paulo Marques says:

        Olha, para serem contratados por todo o tipo de empresas, domésticas e estrangeiras, onde muitos chegam ao topo, e muitos mais são elogiados. Eu sei, pá, poucochinho comparado com os anos do império.
        Não, o estado não produz grande coisa porque decidiu-se que não devia produzir, a bem de deitar dinheiro fora para criar rendas em contractos mal definidos onde as empresas agem em conluio porque não são burras. E, no entanto, coisas como a renovação das carruagens da Arco estão aí, com qualidade por quem se importa.
        Ou então faz-se o populismo de achar que os fundos europeus são para ficar parados na conta do estado e não para estimular a oferta do mercado, e festeja-se poder dizer umas coisas com índices manhosos, martelados, e contraditórios.

  4. Anonimo says:

    Por momentos pensei estar na década de 90…

  5. Júlio Santos says:

    São verdadeiros estes desabafos de uma estudante, mas esqueceu-se de acrescentar, que a vida não é um mar de rosas sobretudo para quem não tem possibilidades de fazer do estudo o seu único modo de vida. Sempre foi assim ao longo da vida em que muitos estudantes, sem qualquer apoio social, conciliaram trabalho e estudo e foram esses que singraram na vida. Esqueceu-se de dizer que uma parte significativa dos estudantes que recebem bolsas de estudo gastam o dinheiro na boémia do dia a dia sem qualquer aproveitamento escolar. E, são estes, os que mais se queixam da falsa falta de apoio.

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