Pedro Nuno Santos, a prepotência de António Costa e a cultura de traição no Partido Socialista

A social-democracia de mão estendida.

Ao fim de sete anos no Governo, Pedro Nuno Santos saiu. E saiu pela porta pequena. Depois de herdar uma das pastas mais difíceis, sabia-se, de antemão, que Pedro Nuno Santos ou faria um excelente trabalho ou um péssimo trabalho. Fez um péssimo trabalho. Entrou de peito feito, a prometer fazer tremer as pernas aos “banqueiros alemães” e saiu de pernas a tremer, com a Ferrovia em condições cada vez mais precárias, a TAP em piloto automático à espera de se despenhar e a Habitação pela hora da morte.

Apontado como um putativo sucessor de António Costa no PS, Santos nunca se afastou dessa hipótese, bem pelo contrário, dando-lhe força e arregimentando apoios nas bases do PS. Tal facto irritou, e continua a irritar, de sobremaneira, António Costa. Se o Primeiro-ministro é um político audaz, experiente e oportunista, Pedro Nuno Santos é o miúdo impertinente, com vontade de chegar aos lugares mais altos e desbocado que foi fazendo frente, umas vezes de forma assumida, outras com vergonha, ao líder social-democrata do PS. Prova disso foi a decisão, em nome próprio, sobre o novo aeroporto de Lisboa. E, desde então, PNS estava no fio da navalha, à espera de um novo “caso” que o obrigasse a sair pelo próprio pé.

Quando o agora ex-Ministro se prestou à figura de cão de fila, acedendo ao pedido de Costa e pedindo desculpa pela sua decisão uni-pessoal em relação ao aeroporto, sabia-se: era a gota de água e, mais tarde ou mais cedo, acabaria por sair. Assim foi. O novo caso que afecta a TAP é grave. Mais grave ainda é o facto do Secretário de Estado da pasta saber antecipadamente e não ter informado o Ministro. E ainda mais grave é um Ministro das Finanças dizer, em público, que não sabia nem foi informado. Pedro Nuno Santos ficou sem alternativas: ou se demitia, ou se demitia. Caso contrário, a sua carreira política queimar-se-ia ainda mais, o seu futuro dentro do PS ficaria hipotecado e a seriedade, a pouca que ainda tem, esfumar-se-ia num ápice.

Ficando sem alternativas, Pedro Nuno Santos escolheu a táctica. Deixar o Governo, passar uns meses “under the radar”, assumir o lugar de deputado para que foi eleito em Janeiro de 2022 e, mais tarde, ser oposição a sério ao próprio PS, internamente, assumindo-se como a principal solução quando António Costa sair; se Fernando Medina e Ana Catarina Mendes se afiguram como “a continuidade”, Pedro Nuno Santos sempre mostrou vontade de entrar em ruptura com as políticas económicas à direita que o PS escolheu adoptar desde 2019. Lembrar que foi PNS quem, entre 2015 e 2019, negociou os Orçamentos de Estado com a Geringonça, sempre com sucesso. Quando saiu e entrou, para essa função, Duarte Cordeiro, os acordos começaram a dar para o torto.

Quanto à demissão, é apenas mais uma e não será a última, sendo que, neste momento, qualquer demissão dentro do Governo já não surpreenderá ninguém. Com sorte, ficam as pastas vazias e António Costa assume o controlo total do Regnum Portugalliae et Algarbiae.

Aos Ministros do PS, aos deputados do PS, a Pedro Nuno Santos, a Alexandra Leitão, a Pedro Delgado Alves… e a todos os que estão muito enfadados com a prepotência do líder do seu PS e a cultura de traição dentro do partido, o líder da agremiação que em tudo manda já vos avisou: “Vão ser quatro anos, habituem-se”. Acham que António José Seguro já não se habitou?

Fotografia: Rodrigo Antunes/LUSA

Comments

  1. João Mendes says:

    A-fuckin-mém, camarada!

    • João L Maio says:

      Obrigado, Johnny!

    • Francisco says:

      Não percebi, nada: afinal, PNS foi “imolado” ou é (foi) “tacticista”? Fracasso na ferrovia? E a reactivação das oficinas de Gueifães? Fracasso na TAP?!? E o triunfo da recapitalização, contra tudo e contra todos aqueles sempre à espera de a ver “despenhar”?

  2. Rui Naldinho says:

    Excelente texto, João. Subscrevo.
    Até pareces o Pacheco Pereira.🤣😂🤣

    • João L Maio says:

      Agradecido, Rui.
      E pronto… entre o ser e o parecer… o Pacheco Pereira não é dos piorzinhos.

  3. Júlio Santos says:

    Pessoalmente tenho uma opinião contrária á do autor deste post sobre PNS. Acho que é um homem decidido dentro de um contexto onde todos são frouxos na tomada de decisões. Falou no aeroporto de Lisboa que leva muitos anos para se decidir a sua localização e aonde já se gastaram muitos milhões em estudos sobre estudos. Esta falta de decisão já atravessou vários governos e, só este, é que está a ser acusado de inércia, até pelos próprios partidos que foram governo. Só a hipocrisia pode explicar este atirar de pedras a quem queria decidir mesmo nas costas de um PM que o atirou às feras dos seus opositores. A história o julgará.

    • João L Maio says:

      Nesse aspecto, não o deixo explícito no texto, mas concordo.

      Mesmo discordando da decisão de PNS em relação ao aeroporto, uma coisa é certa: depois de 50 anos de “estudos”, o homem deu um murro na mesa e tomou uma decisão. E acho que tem espírito reformista – que é o que falta ao Centrão neste momento.

      Ainda assim, como aponto, o balanço destes anos é mais negativo do que positivo, em larga escala por culpa de quem o queimou deliberadamente e com pitadas de culpa própria também.

      • Paulo Oliveira says:

        Mais vale um má decisão que uma indecisão. Por este andar teremso os aviões a aterrar numa pista de terra batida com cabras a pastar ao lado.

  4. Anonimo says:

    Se há algo que não existe nos xuxalistas (e abunda no psd) é a cultura de traição. Rema tudo para o mesmo lado, em especial quando a gamela está disponível.
    Se há uns quantos em contra-mão, esses é que estão mal.

    • Paulo Marques says:

      Atão não, Sampaio, Guterres, Seguro, Alegre ou Gomes nunca foram traídos pelo aparelho, não senhora.

      • Anonimo says:

        Quem não joga em equipa tem que sair. Alegre… sim, que exemplo.
        O Paulo Marques deve ser dos que anda na autoestrada e se pergunta por que todos os outros estão a guiar em sentido proibido.

        • Paulo Marques says:

          Quem disse que não percebia? A carreira depende de acreditarem todos no mesmo, e funciona bem para eles.
          Infelizmente, tem um impacto um bocadinho diferente do que escolher uma convenção entre equivalentes, mas se acredita na garantia que empobrecer nas crises faz com que estejamos todos melhor, quem sou eu.

  5. Paulo Marques says:

    É a chamada estabilidade da maioria absoluta. Corre sempre bem.

  6. Anonimo says:

    Costa está sob ataque da matilha neoliberal, coadjuvada pelo tolo Ventura, e da pseudo esquerda Kaviar, em conluio com os ressabiados Ana Gomes e restante canga extremista.
    Mas resistirá, e Portugal sairá mais forte.

    • João L Maio says:

      Desculpe lá, mas se diz que o Costa está “sob ataque da matilha neo-liberal”, então está a dizer que está sob ataque dele mesmo e de uns quantos seus fiéis.

      Não é por ter uns sais de apoio ao Estado Social que este PS deixa de seguir a cartilha neo-liberal. É o partido que mais tempo esteve no poder e que mais liberalizou a economia portuguesa.

    • João L Maio says:

      Aliás, foi exactamente por seguir essa cartilha que a maioria dos partidos social-democrata europeus da família do PS foram morrendo aos poucos.

      Foi o PS francês, foi o PASOK, o SPD alemão andou anos na penumbra, em Itália desapareceram e fundiram-se naquela espécie de PS+PSD ala moderada que é o Partido Democrático, em Inglaterra o Partido Trabalhista andou anos à seca e começa agora a reerguer-se, etc, etc.

      O PS sobreviveu em circunstâncias especiais que toda a gente conhece, mas lorpa, porque se não tivesse levado o toque do PCP e do BE, mas sobretudo do PCP, não teria sido governo em 2015 e estaria, talvez, ainda em pior situação do que aquela em que o PSD está hoje. Da mesma forma, o PSOE resistiu “copiando” o que foi feito aqui, mas mesmo em termos de políticas, esteve sempre mais à frente que o PS.

      Não se pode querer sol na eira e chuva no nabal.

    • Paulo Marques says:

      O homem desregula o trabalho, aumenta o desemprego a bem da inflação, garante rendas na saúde, cria benesses para quem distribui um bocadinho mais de salário, dá borlas e borlas às lavandarias estrangeiras, etc, etc, etc, mas neoliberais são os outros. Tá certo, afinal, estamos na pós-verdade e as palavras são o que nós quisermos.

  7. JgMenos says:

    ‘Garbage in, garbage out’.
    História da governação em anos recentes!

    • POIS! says:

      Pois! Em contraste com…

      “Garbage out, garbage out”.
      História dos salazarescos em anos recentes!

    • António Fernando Nabais says:

      Ó menossauro, explica à gente quando é que Portugal foi bem governado, só para ver se coincide com uma coisa que estou aqui a pensar.

      • JgMenos says:

        Ó Nabo, se fores às estatísticas talvez fiques com uma ideia:
        – Começa pelo produto que viabiliza o rendimento que sustenta a saúde e o ensino.
        – A par disso olha para a dívida e ajudas externas.
        E quando acabares esse exercício, junta-lhe os teus preconceitos e logo chegas ao pasmatório que habitas.

        • Paulo Marques says:

          Tendo em conta que querem deixar a saúde e o ensino disponíveis para uma minoria, assim também eu.

        • António Fernando Nabais says:

          Ó menoridade, explicita, filho, explicita, faz-te um homenzinho, invoca frontalmente o nome do homem. Eu, que não sou admirador incondicional de ninguém, fico-me sempre pela frase do Churchill: “a democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros”.

  8. Marques Aarão says:

    Segurar Medina a todo o custo contra todas as evidências é forçoso para Costa.
    Se este acossado ministro cair, o nosso primeiro não tem lugar para mais tropeções e vai de sopro na molhada. Absolutamente.

  9. Anonimo says:

    Social-democracia de mão estendida, percebe-se agora a aliança com o Berloque.

    • Paulo Marques says:

      Engraçado, quando tinham que cumprir meia dúzia de alíneas para minorar os danos a quem trabalha não se espalhavam ao comprido. Coincidências.

      • Júlio Santos says:

        Não se aprende nada com estes comentaristas, todos acham que PNS é o maior mas todos teem vergonha de o admitir. Por mim, PNS podia ter feito o que os seus antecessores não fizerem , fazer avançar o aeroporto de Lisboa, se não tivesse um PM que se acovardou perante as críticas dos seus opositores. É preciso saber distinguir o trigo do joio e dar o valor a quem o tem.

        • Paulo Marques says:

          A vontade e empenho de PNS devia ser o mínimo exigível, mas a social-democracia de hoje é isto.

      • Anonimo says:

        Obra feita. Grandes reformas. Portugal parecia um canhão. Um tigre ibérico.

        • Paulo Marques says:

          O país está melhor, os portugueses que se fodam. Montenegro diria o mesmo; aliás, disse-o, embora com ainda menos razão.

    • João L Maio says:

      Anonimo,

      Isso pressupõe que o BE é social-democrata? A direita que o leia, diz-lhe já das boas.

      • Anonimo says:

        Qual “direita”?
        A do camarada Pacheco ou do colaboracionista Marcelo?

  10. Anonimo says:

    Rua com o extremista pns. Queria derrubar o líder legítimo, que se junte à Catarina e à Joacine mais a Ana Gomes e forme um pctp mrpp 2.
    Força Costa, estamos contigo.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading