João Costa e a vulgata antigrevista

Quando nos pisam os calos, no mínimo, exprimimos um gemido de desconforto. Se nos pisarem os calos demasiadas vezes, a coisa descambou para falta de cuidado ou para agressão.

Os professores já andam a ser pisados desde 2005, pelo que é natural que se queixem, que protestem. Talvez se possa mesmo dizer que os protestos são poucos para tanta pisadura.

Entretanto, são os professores e todos os outros profissionais da área que mantêm as escolas a funcionar de uma maneira exemplar, contra ventos e marés constituídas também pela incompetência e pelo desinteresse das sucessivas equipas ministeriais, que se limitam a cumprir instruções superiores, aprofundando um desinvestimento constante e ignorando problemas já estruturais (formação inicial de professores, atracção dos jovens), até porque não estão lá para resolver. Graças aos professores, os alunos estão, pelo contrário, sempre em primeiro lugar.

Tenho pelas greves um respeito quase religioso, mesmo quando não sou praticante, porque cada um deve reagir às pisaduras como muito bem entender. Permito-me duvidar de métodos de luta que não consigam ferir verdadeiramente o adversário, mas isso é outra questão.

Entres os políticos no poder, mesmo em democracia, há uma vulgata antigrevista a que João Costa não resiste, tendo afirmado que lamenta (que é diferente de lamentar) a convocação de greves, uma vez que os alunos deveriam estar em primeiro lugar. Trata-se de demagogia pura e tem por objectivo propagandístico transformar o grevista num irresponsável ou mesmo num agressor. O poder, mesmo em democracia, na verdade, sonha com a ditadura e a greve deveria, no máximo, existir em teoria.

A greve é, assim, uma resposta a uma agressão. Chega a ser cómico ouvir o agressor queixar-se da reacção do agredido.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    Como mero observador, e bem distante, parece-me acertado. Como me parece acertado o malfadado Nogueira a ter sempre em atenção a não perder os pais para uma luta que é de todos, mesmo os que acham que melhor é impossível até os dias de nevoeiro da salvação.
    Não sei se é bom ou mau o governo ainda não foi rezar à entidade superior para lhe dar a solução também neste assunto, porque dá-me ideia que também anda com falta de inspiração.

  2. JgMenos says:

    Pais de merda!
    Acabem com os milhares e milhares de inúteis e chulos pagos pelo orçamento.
    Nos próximos 4 anos, diz-se, o aumento de juros da dívida, vai levar o montante do famoso PRR.

    • Paulo Marques says:

      E o contabilista acha que isso diz mais sobre as contas, com a dívida a descer mais do que o seu sonho mais molhado, do que do PRR e da política monetária.
      Isto só vai estar bem quando o neoliberalismo conseguir que nada funcione, mas a culpa há de ser do socialismo, do Putin, e do Pinto da Costa; nunca os chulos a receber pelas JMJ ou juros parar tirarem ainda mais habitação do mercado e controlarem mais especulação.

    • POIS! says:

      Pois cá está!

      JgMenos, Superpastor da Igreja Universal do Reino do Pataco apela sempre a uma dada entidade na sua prédica dominical.

      Coube hoje a vez dos seus ascendentes, aos quais se dirigiu em tom de emocionada exaltação!

      Simplesmente comovente!

    • Tuga says:

      JgMenos

      Mas o que é que um guarda livros de Santo Tirso
      sabe de economia ?
      Está calado e cala-tr

      Deixa isso para quem sabe

  3. Luís Lavoura says:

    Quando a água bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão.

  4. Luis says:

    Tudo muito certo! Mas o que eu vejo é uma revindicação: o tempo de serviço. Pelos vistos a ausência de vinculações ao fim de mais de 10 anos, as deslocações para longe de casa sem qualquer apoio, desrespeito e agressões na sala de aula e outras, nada interessam. Só o tempo de serviço. Porque estamos perante uma classe onde todos, mas todos, tem de chegar ao topo da carreira. A conta é simples, 40 anos de serviço, promoções de 4 em 4 anos, 10 níveis e pronto, topo, porque são todos excelentes. É o que Mário Nogueira diz. O relatório de avaliação é para constar que existe qualquer coisa a que se chama avaliação.
    E ainda dizem que a restante função publica recuperou a totalidade do tempo congelado. Bem, algo eu sei, cá em casa não aconteceu, de 21 possiveis pontos, houve 7, ou seja, o minimo positivo. Istoem carreiras em que se progride com 10 pontos e atendendo às quotas o normal é progredir de 10 em 10 anos.
    Mas se calhar uns são filhos e outros enteados.
    Outra coisa também sei, com a pandemia e as greves desde 2020 não existe um ano letivo normal.
    E quanto “mantêm as escolas a funcionar de uma maneira exemplar”, aceito quando muito que fazem o melhor que lhes é possivel, e de certeza que não foi no ultimo ano letivo.
    É que isto das escolas terem alunos é uma chatice.

    • Paulo Marques says:

      A capacidade dos trabalhadores comerem o que lhes é vendido sobre os colegas do lado continua a ser uma excelente arma. Ser uma questão de “topo da carreira” é um puro disparate, e não é por cair onde cai que recebe mais um cêntimo pelo seu trabalho.

      • Luis says:

        Pode dizer isso ao Mário Nogueira, p.f.
        “A capacidade dos trabalhadores comerem o que lhes é vendido sobre os colegas do lado continua a ser uma excelente arma”, pois, é válido para todos os lados.

        • Paulo Marques says:

          Não o conheço, mas também não faço ideia em que declaração ou proposta é que quer encaixar isso.

  5. Figueiredo says:

    É preciso obrigar os Professores e Funcionários do Ensino Público a declarar se colaboram/pertencem à Maçonaria ou a outras sociedades secretas (Jesuítas, Opus Dei, etc.), depois de identificados terão de sair, e proibir os sindicatos e a actividade sindical no Estado.

    • Paulo Marques says:

      A maçonaria, o clube de póquer do 3º esquerdo, o grupo de orgias da foz, os alcoólicos anónimos, membros dos no name boys, tudo a declarar os grupos a que pertencem… tudo, não; os meninos do Bildeberg, Trilateral, financiadores de partidos ou de jornais, donos de fundos imobiliários gigantescos, esses que continuem que merecem, coitaditos.

  6. Anonimo says:

    Os pais (e alunos?) protestam das greves dos professores, como os “utentes” protestam das greves dos transportes (os que os têm à disposição), ou quem vai ao hospital protesta da greve dos médicos.

    Talvez mais que por desprezo, será por fadiga, é que as greves são constantes, e no entanto nada muda. Ou seja, passa a imagem de que fazem greve para nada… o que não será certamente por culpa do grevista.

    • Paulo Marques says:

      É culpa, como demonstra o Luis, de ser cada um por si, graças às mensagens do patrão comum e dos que querem vir a ser.

      • Luis says:

        “Cada um por si”, está a falar dos professores que insistem no tempo de serviço dizendo que as outras careiras recuperaram tudo, … é mentira. E admira-me que outras situações que não sendo professor, me parecem graves, terem passado para segundo plano, ou até esquecidas para já.

        • Sophie says:

          Houve carreiras que recuperaram sim! Não quer dizer é que tenham tido um benefício estrondoso com isso. “Descongelamento foi para todos, o tempo de serviço nem por isso
          Depois de terem estado congeladas durante sete anos (entre 2011 e 2017), as progressões dos funcionários públicos foram retomadas em Janeiro de 2018. Mas a solução encontrada pelo Governo para a recuperação do tempo de serviço não foi igual para todas as carreiras: nuns casos, o período de congelamento foi integralmente considerado; noutros, como os professores, os militares das forças armadas ou da GNR e as magistraturas, isso não aconteceu e apenas foi considerada uma parte dos anos de congelamento.”
          https://www.publico.pt/2023/01/24/sociedade/noticia/descongelamento-tempo-servico-2036143

          • Luis says:

            Parece-me que o que está em questão é o modo de progressão nas carreiras. As que progridem com base no tempo, foi considerado parte do tempo. As que progridem com base em pontos foi considerado parte dos pontos. Parece que a percentagem considerada foi 33%, segundo o que percebi da palavra “ponderação” proferida pelo governo à data. Não sei que carreiras foram integralmente recuperadas segundo o metodo de progressão. Razão pela qual o governo fala num valor elevado caso tivesse que recuperar o tempo dos professores e inerentemente todas as carreiras com as subsequentes progressões.
            Pelo menos esta foi a forma como entendi e bateu certo com o que aconteceu cá em casa.
            Segundo o presidente da republica há sectores mais prioritários que outros pelo acha que o tempo dos professores devia ser recuperado e os outros … que fiquem como estão.

          • Paulo Marques says:

            O tempo de serviço é o sonante e fácil de explicar, a realidade é que a carreira fica impedida de várias formas, e está em discussão, se calhar mais enfasiva nas negociações. Ser um conjunto com tanta gente ajuda a que a mensagem não fique perdida, se os outros representantes também tiverem entrevistas, não me importo de descobrir as suas especificidades, que as terão. E se combinarem uma greve geral, tanto melhor.
            Agora, há sempre “sectores mais prioritários” e, no fim, perdem todos, como perde o investimento público, acabando absolutamente nada a ser prioritário. A questão que se impõe é para que é que serve um modelo de governação em que quem governa foge a sete pés de governar e limita-se a gerir o declínio, mas parece que ainda falta muito.
            Dizer que o estado miserável e miserabilista da educação não é prioritário é desistir de ter futuro.

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