Verbos da Crise

A 10 de Setembro,  José Eduardo Cardoso, o jovem de 28 anos que se cansou de enviar currículos, resolveu fazer greve de fome em plena Rua Santa Catarina no Porto, até conseguir arranjar emprego. Desejava até falar directamente com Passos Coelho, PM.

Cinco dias depois, dia da manifestação que ficará na nossa memória, um estudante com cerca de 20 anos imolou-se no edifício do Governo Civil de Aveiro.

Luísa Trindade, 57 anos e Ana Maria marcaram o 5 de Outubro: a primeira, «desesperada»,  irrompeu pelo Pátio da Galé enquanto Cavaco Silva discursava na celebração e a segunda, mais jovem e cantora lírica, invadiu também o evento e cantou pacificamente enquanto Luísa enfrentava um grupo de seguranças.

Ontem entrou em cena, empurrado para o palco, sem jeito para actor, Pedro Marques, o enfermeiro de 22 anos que decidiu emigrar para Inglaterra. Porém, a sua participação nesta «peça» ficou marcada pela redacção de uma carta dirigida a Cavaco Silva, PR: “Permita-me chorar, odiar este país por minutos que sejam, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país, envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do sol, da comida, dos campos da minha aldeia”.

Estas são apenas cinco personagens desta crise. Não são heróis, na minha opinião. Somente se viram mediatizadas pelas suas inciativas arrojadas e desesperadas a solo.

Aguardam-se novos e infelizes episódios.

«A elite portuguesa adora conversa da treta»

Paulo Baldaia, que dá a sua opinião regularmente no DN, ontem veio com uma treta que eu não gostei:  “Nos blogues, nas redes sociais e até no Congresso das Alternativas o desespero da senhora foi goleado pelos trocadilhos à volta da bandeira. A elite portuguesa adora conversas da treta.”

Ora é natural que, uma vez que escrevo num blogue, me sinta pelo menos indirectamente atingida  pelo comentário. Primeiro: porque quando escrevi sobre o grito de Luisa Trindade não quis, de maneira nenhuma, fazer conversa da treta. Este episódio triste das cerimónias tristes e vergonhosas do 5 de Outubro impressionou-me, mexeu comigo, «experimentei» os sapatos de Luísa Trindade… Segundo: não quero nem pensar ser da «elite» portuguesa». Quem sou eu? [Read more…]

O grito de Luísa Trindade

Não foi a bandeira ao contrário que me fez ligar o computador e escrever este post. Mas é certo que este país está ao contrário. Não me admira que Cavaco não tivesse reparado. Eles não percebem que este país não está no sítio, não enxergam que isto não está certo. Eles não vivem o país da crise e da austeridade, senão não tomavam estas medidas que nos esmagam e não deixam que os temas de conversa sejam outros que não a falta de dinheiro e os impostos que temos que pagar.

O que me fez sentar frente ao computador foi o desespero de Luísa Trindade, essa mulher séria, livre e honesta que marcou verdadeiramente, com toda a verdade, com todo o realismo, as cerimónias nojentas do 5 de Outubro.

Ainda têm cara de pau para comemorações.

Luísa gritou contra a actual situação do país láaaa do fuuundo da sala junto à entrada do Pátio da Galé. Gritava dizendo não ser incapacitada, não ter trabalho e não ter futuro.

Tenho uma pensão de cerca de 200 euros, estou farta de procurar trabalho, já tentei fazer limpezas, mas não consigo arranjar nada”, disse aos jornalistas Luísa Trindade, 57 anos. A mulher tentou caminhar pela passadeira vermelha dirigindo-se até aos representantes políticos, mas foi imediatamente bloqueada por vários elementos da segurança que estavam no local e que, de seguida, a agarraram e a colocaram fora do local onde estavam a decorrer as cerimónias. [Read more…]