Inadmissível atentado ao Pingo Doce na esquina do Bonjardim

  (Porm. Ribeira Negra de Júlio Resende)

A pobre mulher tinha lágrimas nos olhos.

Pudera!

Encostada à carrinha da polícia, aguardava a elaboração do auto, que o agente escrevia, com ar de gozo. [Read more…]

A noite em que o George Clooney jantou lá em casa

E contra todas as probabilidades, à hora marcada, a campainha soou. Tirei o avental, admito que possa ter dado uma última espreitadela ao espelho, e fui abrir a porta. Lá estava ele, com o sorriso estudado e o fato aprumadíssimo, mas no seu olhar pareceu-me entrever alguma desconfiança. É natural, pensei, não é todos os dias que uma estrela de Hollywood vem jantar à Rua do Bonjardim.

Dei-lhe as boas vindas, agradeci a previsível garrafa de vinho e conduzi-o à sala. Ele mostrou um interesse diplomático pela casa, apreciou à distância alguma das fotos dispersas pela sala, olhou mais de perto uma peça de cerâmica, sem contudo se atrever a tocar-lhe, ensaiou uma espreitadela à varanda, mas desanimou-se e acabou por ir sentar-se no sofá. Movia-se com à vontade, num exercício de informalidade muito trabalhada.

Eu sentei-me no outro extremo da sala e a conversa foi avançando aos tropeções, em grande parte graças à minha fraca habilidade para evocar filmes nos quais ele tivesse contracenado. Depois um arranque titubeante, comigo a falar-lhe de filmes protagonizados por outros actores, perdi a paciência e confessei-lhe que sempre o vira como um Cary Grant dos tempos modernos, com a mesma subtil combinação de charme ingénuo e de atrevimento pouco picante. Ele gostou da ideia e, aproveitando o momentâneo idílio, resolvi servir o jantar. [Read more…]