Crónicas de Timor-Leste – XI

António José

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Esta nota, baseia-se numa leitura e sendo assim a fonte é Xanana… é uma história entre milhentas, similares, sibilares…

Uma coluna da guerrilha estava a atravessar dois postos de vigilância indonésia. Era noite. Com a guerrilha estavam também civis. Um casal com uma criança de nove meses, ao colo da mãe. À frente da mãe seguia o marido, pai da criança. A coluna ía em silêncio absoluto com os exploradores à frente. As únicas palavras que podiam pronunciar, caso encontrassem algum obstáculo como um buraco, um precipício ou tronco atravessado no caminho eram:

– Precipício à esquerda! Passa a palavra! [Read more…]

Crónicas de Timor-Leste – X

António José

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DepoisDoSol… dois mundos… após as 19h quase tudo o que é vida em Dili deixa de funcionar ou melhor o ambiente é claramente outro. O trânsito apressa-se e não tarda, desaparece o frenesim diurno. Não é que não haja vida para lá dessa hora, mas tudo muda de figura. Não é apenas a luz que muda, é o comportamento das pessoas. Todas sem excepção ou com as quais me cruzo e que desenvolvem o assunto, o dizem: “não vale a pena andar por aí.” Parece um jogo de sombras… mas faz-me imensa falta a luz da noite. Poder andar nela, senti-la, solto de receios e imposições. Por pouco que seja é ela que dá descanso ao imenso ruído visual, intenso, do dia. Ok, o fruto proibido, aqui. Pelo que vejo, a maioria respeita-o. Tentarei não lhe dar espaço por muito que me apeteça sair da norma. [Read more…]

Crónicas de Timor-Leste – IX

António José

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Foi nesta casa que foram assassinados os chamados “5 de Balibó”… não será necessário tecer grandes palavras…
Tony Stewart, Brian Peters, Greg Shackleton, Gary Cunningham e Malcolm Rennie.
Eu tinha 14 anos e também não me esqueço.

Crónicas de Timor-Leste VIII

António José

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Eu queria que a nota 8 fosse sobre Ataúro mas não vai ser… Ataúro fica a marinar pois merece tempo e a calma necessária para soltar os sentidos. Sentidos retraídos não é solução mas tem que ser. Não há pedal. Preciso de tempo. Dar-lhe-ei atenção em devido tempo. Sentidos, coisa que por aqui não escasseia mas volto a dizer, para mim claro, não é nada fácil. Pela segunda vez, em pouco mais que 15 dias, levar de xofre com mais uma partida… desta vez, ontem, a mãe do Ivo Rosa… e tinha adorado estar, dias antes, numa amena cavaqueira com o pai. É denso. Eu que me digo agnóstico, respeito mas a este ritmo, é complicado. São momentos tristes e dos quais não escapo, por querer estar.
Amanhã, se tudo estiver conforme, saio de Dili… vemo-nos por aí!

Deixo aqui esta imagem para o Ivo e para o Helder e para quem a apanhar… e muita força, como Sempre!

Crónicas de Timor-Leste VI

António José

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Ontem pelo final da tarde, atrasado com um stock de mercearia… acabei por não conseguir tomar bom café no único local em Dili, que eu conheça, em que o preço do café é 0,50 cêntimos… pois fecha pelas 18h… Sinto o trânsito mais rápido aos finais de tarde. Se souberem de outro, digam a ver. Peace Coffee. Até o nome tem pinta. É que os preços da “bica”, “expresso” ou mesmo a “aguadilha” que muitos (não timorenses) servem nesta cidade, é matéria para custar em média 1,5 USD, 2 USD… já os vi a 3’USD. No Peace Coffee há bom som, muito bom café, de Same e a melhor preço. [Read more…]

Crónicas de Timor-Leste V

António José

Estive à conversa com dois ex-guerrilheiros… delícia, mas não conto. O que posso contar é que conheci o Bosco. Pintor. Com atelier em Manatuto. Ignorância minha, desconhecia. Apenas lhe disse conhecer alguma coisa sobre “Dom Bosco”. Ele, que não… era só Bosco.

Ora leiam a narrativa que acompanha a ilustração… julgo que o texto será de José Amaral, músico, timorense. Posso estar enganado. A ilustração é do Bosco. Eu gostei.

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Crónicas de Timor-Leste IV

António José

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Não tenho muitas palavras para descrever ou sequer escrever sobre o que se passa hoje. Vem-me à memória uma frase batida… “a morte saiu à rua num dia assim”… O pai do meu amigo Aboly partiu… ontem. O Aboly é, digamos o meu guia, o meu tradutor, um companheiro. Conhecemo-nos em Coimbra há muito… Recorro a ele quando preciso. Um amigo. Até agora, recorri pouco. Disse-me, quando cheguei, que de noite “não vai sozinho toze”. Não vim apesar de… Esta manhã, cedo, fiz-me à estrada. Direcção, bairro de Sta. Cruz, onde habitava… telemóveis desligados. Dou com a casa apenas porque fui ajudado. Um jovem dialogante em PT que aguardava microlet para escola, decide perguntar-me “precisa de ajuda?”. Sim, muita. Tinha passado já por ela, a casa, sem saber, sem reconhecer os traços.

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Estou aqui como se fosse família. Indescritível… não vou contar ou mostrar mas siga, queria escrever umas palavras para chegar a este último pormenor que infelizmente, não vai acontecer.

Aboly contou-me que tinha falado de mim ao pai… e que recuperado, estaríamos então juntos… para ouvi-lo, para guardar para memória futura… “Cheguei” tarde demais… de nó na garganta…
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Crónicas de Timor-Leste – III

António José
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Não me apetece muito usar a net, confesso, pelo que aí vai, duma assentada, provavelmente muita palha mas é a que tenho…

na madrugada de Sábado para Domingo, uns valentes estrondos e uma impressionante enxurrada… seriam 1h… Chuva a potes. Tudo natural. Durou que fartou. Dum salto acorda-se. Trovoada das grandes e o barulho seco sem décalage de som… e sem fazer aquelas contas entre “a luz e o som” percebe-se, caiu ali, a menos de 50 metros… Dá para entender que as “fases” tinham ido abaixo… o poste transformador ficou com o dito fora “de jogo”. Entra em serviço o barulho de geradores, quem os tem, claro. O resto imagina-se. Uns vizinhos timores afinam com precisão vassouras e outros adereços para mudarem o curso à água que rola com o que transporta, montanha abaixo. Barrenta, quase vermelha, sem paragem, até ao mar. É como uma dança. Lanternas “mãos livres” na testa, eficazes. Devia ter saído e dado uma mão, melhor duas mas via-os calmos naquele tráfego. Voltei ao abrigo da cama e lá continuou o ribombar afastando-se lentamente. Com a luz do dia, percebe-se que o percurso da água da montanha, se fundiu por caminhos de terra batida. Invade a estrada pavimentada. Limpa o pó que estava, para recolocar substituto de outras paragens. Está-se em época de chuvas. A água como vem, rápida se vai. Aqui pelo menos. [Read more…]

Crónicas de Timor-Leste II

António José
#2 – Quanto acordo é isto…

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ou isto se deslizar umas escassas dezenas de centímetros… [Read more…]

Crónicas de Timor-Leste – I

António José

Nota prévia:

O meu amigo Tozé é, há uns bons 30 anos, o mais ardente defensor da causa timorense que em Portugal houve. Anarquista e libertário, dos verdadeiros e dos sete costados, passou de Tozé Fotógrafo ao Tozé por Timor. Não abraçou a causa, como tantos fizemos, porque entre ele e a causa houve mais fusão que dialéctica.

Um dia, tantas vezes o esperámos, Timor tinha de conhecer o Tozé, e o Tozé não se importava nada de conhecer Timor. Já lá está, Coimbra emprestou-vos o Tozé, é favor devolverem intacto e bem disposto, e aqui vou adaptar o que nos vai contando no Facebook; são crónicas de um fotógrafo, as imagens não me chegam nas melhores condições, mas faz-se o que se pode e a mais não somos obrigados.

João José Cardoso

 

25/2/2015

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Há coincidências engraçadas… acabo de me cruzar com Adelino Gomes. Não resisti e incomodei-lhe a leitura. Uns dedos de conversa … “lembra-se nuns Dias do Desenvolvimento?”… Em que o encontrei mais de três décadas depois de o ouvir falar pela primeira vez, sobre Timor-Leste … tinha a Indonésia invadido Timor e dizimava… Obrigado Adelino Gomes. Foi consigo que a ilha encantada começou aqui “por dentro”. [Read more…]