Crónicas de Timor-Leste – XI

António José

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Esta nota, baseia-se numa leitura e sendo assim a fonte é Xanana… é uma história entre milhentas, similares, sibilares…

Uma coluna da guerrilha estava a atravessar dois postos de vigilância indonésia. Era noite. Com a guerrilha estavam também civis. Um casal com uma criança de nove meses, ao colo da mãe. À frente da mãe seguia o marido, pai da criança. A coluna ía em silêncio absoluto com os exploradores à frente. As únicas palavras que podiam pronunciar, caso encontrassem algum obstáculo como um buraco, um precipício ou tronco atravessado no caminho eram:

– Precipício à esquerda! Passa a palavra!

A frase era uma ordem de comando que se deveria passar a todos até ao último caminhante da coluna. Naquela noite, a criança que também fazia parte da coluna chorava e não se calava. O choro podia atrair a atenção de soldados indonésios. Para não causar perigo à coluna ouviu-se a voz de comando que dizia:

– Liquida a criança! Passa a palavra!

E a ordem de comando foi passando de boca em boca e chegou também ao pai da criança. Este ao ouvir a ordem de comando, ficou calado. A mulher que se lhe seguia, com a criança ao colo, curiosa em saber a ordem, perguntou ao marido:

– Que é que disseram?

– Disseram para liquidar a criança porque está a chorar demais.

A mãe fez todos os esforços que podia para acalmar a criança. Atravessaram os postos de vigilância e chegaram ao local do acampamento. No dia seguinte, quando todos estavam a descansar, a criança brincava como de costume e a mãe toda amuada e ofendida com o acontecimento da noite anterior ficou de lado a brincar com a criança. Alguns guerrilheiros foram brincar com a criança e queriam dar-lhe mimos lembrando-se de seus próprios filhos ou irmãos. Mas a mãe toda ofendida pela ordem do comando da noite anterior disse aos que iam brincar com a criança:

– Deixem a criança em paz e ninguém brinca com ela.

Outros guerrilheiros vendo os gestos e atitude da mãe fartavam-se de rir.