Este Governo é o ópio do Povo

Desde o 25 de Novembro de 1975 que, em Portugal, a Democracia nunca esteve tão comprometida. Não estamos a falar de indícios ou de teorias da conspiração. Já passámos essa fase. Estamos a falar de factos públicos e notórios. O que já era muito bem perceptivel antes da pandemia, teve uma evolução exponencial e, neste momento, estamos quase num regime de partido único.

Relembrei algumas coisas que escrevi há uns anos e duas delas pareceram ganhar uma gritante actualidade. Numa afirmava que Costa, em termos políticos, era bem mais desonesto que Sócrates. E noutra, sobre a eleição de Rio para Presidente do PSD, constatava que estava criada a “tempestade perfeita”.

E não venham com a história que se não houvesse democracia, eu não podia escrever isto. O despotismo nestes tempos não precisa de cercear liberdades como a de expressão. Não precisa de impedir algumas pessoas de falar. Basta-lhe conseguir que as pessoas não liguem ao que lêem e ao que ouvem.

O truque não está no autoritarismo desenfreado, mas no fomentar do torpor generalizado. E temos um Governo e um PR (o putativo líder da oposição além de alinhado, é quase insignificante) que compreendem como ninguém o poder da comunicação e do entretenimento. E fazem disso a sua principal actividade.

Ora num País de “brandos costumes”, pois, ou seja, num País de indolentes e de fracos em que o marasmo é um objectivo de vida, basta algum ilusionismo com a informação para que este Povo fique completamente sedado. É quase como dar “valium” a quem está a morrer de sono.

A isto junte-se o sequestro do Estado de Direito e “voilà”. E se por acaso alguma dúvida subsistir sobre o definhar do primado da lei, lembrem-se da PGR que foi nomeada para acabar com as investigações a políticos, o número (zero) de condenados por corrupção, a passividade perante transgressões que passam a ser entendidas como privilégios aceitáveis ou excepções naturais, a descarada impunidade do benf… dos coisos (fazem lembrar aqueles cartéis colombianos que cometiam os mais hediondos crimes à frente de toda a gente, mas que ninguém tinha a coragem de afrontar), etc.

O que mais me espanta, o que mais me choca, não é um governo socialista comportar-se desta forma. Nunca tive grandes dúvidas acerca da ética democrática da esquerda. Pior que muita parra e pouca uva, é muitíssima parra e esquecer a pouca uva. Para o que não estava, definitivamente, preparado era para esta indiferença. Para esta indolência.

“Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.”

Berthold Brecht (Intertexto, versão de um original de Martin Niemöller)

Bem vindos ao século XIX

Porque não ter uma base de dados central com todos os acórdãos, disponível on-line!? Acórdão do caso Freeport não ficará disponível antes de Setembro. Os senhores meritíssimos(?) juízes estão de férias…