A nova inclusão é a negação; um desabafo linguístico

Aprendam de uma vez e desculpem o desabafo:

“Todes”, “alunes” ou “brasileires” não é linguagem inclusiva e/ou neutra. É a desvirtuação de uma ciência que se chama linguística. Querem incluir? Crie-se políticas públicas de inclusão que realmente façam a diferença na vida de pessoas todos os dias violentadas, ignoradas e abandonadas. A linguagem não é neutra, não queiram fazer dela aquilo que ela nunca poderá ser.

Estudaram linguística? Não? Então deixem-se de merdas e falem correctamente. Fala-se cada vez pior em Portugal, cada vez há menos ligação entre o cidadão e a sua língua. Não queiram agora “impor”, a quem já pouco sabe da sua língua uma outra linguagem, anti-científica, dissimulada e irracional. Quem não estudou medicina também não está capacitado para administrar receitas médicas.

Esta questão da linguagem neutra é muito simples: não se assume o género de ninguém à partida. Se surgir na conversa, fale-se sobre isso, com espírito aberto, tolerância e empatia, como deve ser em todo e qualquer caso que envolva pessoas. Quem se identificar como A ou B, no que ao género diz respeito, há-de afirmar-se como tal. E nós, como boa gente que somos, respeitamos, apoiamos e defendemos.

Menos wokice.
Mais políticas públicas de inclusão.

É pedir muito?

Adepto

 

O futebol é responsável por uma das maiores mutações do mundo contemporâneo: a transformação do ser humano em adepto. Aparentemente, o segundo parece pertencer à mesma espécie do primeiro, mas as semelhanças exteriores disfarçam mal as enormes diferenças essenciais. Trata-se de uma transformação semelhante à dos vampiros que estão na moda, tirando a parte dos caninos desenvolvidos, embora com a mesma sede de sangue.

 O homem é um indivíduo. O adepto não existe enquanto indivíduo e, por isso, nunca usa a primeira pessoa do singular. Se o fizer, não estará a ser adepto, podendo, inclusivamente, ser posto de lado pelos restantes elementos da tribo. Aliás, um dos primeiros sinais da transformação do homem comum em adepto é, exactamente, a passagem do “eu” ao “nós”, como se pode verificar no exemplo que se segue em que o cidadão ainda pré-adepto pede uma cerveja ao filho, no momento em que o árbitro marca um penalty contra a nossa equipa: “Ó filho, chega-ME aí uma cerveja. Pronto! Já ESTAMOS a ser roubados!”.

O adepto diz, portanto, “ganhámos” ou “somos os maiores”, entre muitas outras expressões sempre na primeira pessoa do plural. Só há uma palavra que um adepto nunca pronuncia: “perdemos”; em seu lugar, surgirá sempre uma expressão como “fomos roubados”. Aliás, mesmo quando “ganhámos”, “fomos roubados”, o que dá às vitórias um sabor semelhante às épicas batalhas travadas pelos reis fundadores com mais mouros do que estrelas tem o céu. Mesmo que, por vezes, a “nossa” equipa ganhe à custa de um erro de arbitragem, esse será um acontecimento tão fugaz como a passagem do cometa Halley e constituirá uma fraquíssima compensação para os milhares de vezes em que “fomos roubados”. [Read more…]