A nova inclusão é a negação; um desabafo linguístico

Aprendam de uma vez e desculpem o desabafo:

“Todes”, “alunes” ou “brasileires” não é linguagem inclusiva e/ou neutra. É a desvirtuação de uma ciência que se chama linguística. Querem incluir? Crie-se políticas públicas de inclusão que realmente façam a diferença na vida de pessoas todos os dias violentadas, ignoradas e abandonadas. A linguagem não é neutra, não queiram fazer dela aquilo que ela nunca poderá ser.

Estudaram linguística? Não? Então deixem-se de merdas e falem correctamente. Fala-se cada vez pior em Portugal, cada vez há menos ligação entre o cidadão e a sua língua. Não queiram agora “impor”, a quem já pouco sabe da sua língua uma outra linguagem, anti-científica, dissimulada e irracional. Quem não estudou medicina também não está capacitado para administrar receitas médicas.

Esta questão da linguagem neutra é muito simples: não se assume o género de ninguém à partida. Se surgir na conversa, fale-se sobre isso, com espírito aberto, tolerância e empatia, como deve ser em todo e qualquer caso que envolva pessoas. Quem se identificar como A ou B, no que ao género diz respeito, há-de afirmar-se como tal. E nós, como boa gente que somos, respeitamos, apoiamos e defendemos.

Menos wokice.
Mais políticas públicas de inclusão.

É pedir muito?

Trump, Chomsky e as línguas

Quem quer ouvir pintar em inglês do Mali?
— GNR

I’ll tell you what I want, what I really, really want
So tell me what you want, what you really, really want
I wanna, (ha) I wanna, (ha) I wanna, (ha) I wanna, (ha)
I wanna really, really, really wanna zigazig ah
— Elijah Wood (o original é este e eis um bónus)

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Segundo a versão do Politico («Without the US, the French would be speaking German»), Donald Trump terá escrito que, sem a intervenção dos EUA na Segunda Guerra Mundial, hoje em dia, os franceses estariam a falar alemão — como língua dominante no território francês, entenda-se. Já agora, fica aqui uma nótula informativa a indicar que a paisagem linguística do hexágono é extremamente complexa e interessante e, já agora, há vida francófona além do hexágono.

Adiante.

Com esta asserção do presidente dos EUA (a veiculada pelo Politico, a original encontra-se no chilreio), depreende-se que Trump não lê, não escuta, não ouve (ou — existe sempre esta hipótese — não concorda linguisticamente com) Chomsky. Há uns anos, perante a pergunta de  Al Page “porque é que a língua francesa é tão diferente da alemã?”, Chomsky criticou implicitamente o ‘tão’, retorquindo que Page estava a partir do princípio de que a língua francesa era diferente da alemã.

Além desta pequena provocação, deixo-vos uma linda imagem do sítio do costume, desta vez, sem fatos, sem contatos, mas com um belíssimo panorama de um aspecto que só tenho difundido em dias de Orçamento do Estado. Tradutores Contra o Acordo Ortográfico, obrigado pelo mote.

Efectivamente, ontem, no sítio do costume.

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Do meu linguista favorito

(…) pensam que hoje se escreve como no século XIX, que nesse se escrevia como no XVI e que, nos tempos de Machado, todos escreviam como ele e falavam como ele escrevia.”

Sirio Possenti

Um parágrafo por dia

«A paragraph a day»
– Michael Everson

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Acordo Ortográfico: a opinião de António Guerreiro

António Guerreiro, crítico literário do Expresso, escreveu um texto lapidar no suplemento Atual: aí faz a História do AO e deixa algumas críticas. Entre muitas citações possíveis, escolho uma: “Em várias e competentes instâncias, o AO foi criticado, desautorizado enquanto documento técnico-científico, considerado inepto e nefasto. Em sua defesa, porém, o mais que pudemos ler foram artigos em jornais, refugiados nas questões genéricas das supostas vantagens de um acordo, sem responderem aos argumentos dos críticos. É fácil perceber que a impermeabilidade à crítica e a imunidade do AO estavam garantidas pelo facto de se tratar de um instrumento político para servir a estratégia ideológica da lusofonia.” Para ler o texto completo, basta entrar por aqui na biblioteca do João Roque Dias.

Evolução linguística pós 12 de março

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Já não se diz: “vão trabalhar malandros! a minha política é o trabalho!

Agora berra-se: “vão mas é criar uma empresa, seus calaceiros, moinantes; querias subsídio de desemprego! Toma!”

Arte Nova e amabilidades entre vizinhos (Memória descritiva)

Não sei se já repararam que os países com fronteiras comuns, como o caso de Portugal e de Espanha ou de França e Inglaterra, ainda que hoje em dia vivam em paz, tiveram ao longo da História guerras e conflitos que hoje ecoam em picardias e se extravasam quando dos jogos de futebol ou de rugby ,no caso de francos e anglos. Problemas que vêm do passado. Só uma das guerras entre França e Inglaterra durou cem anos. Os confrontos entre portugueses e castelhanos forma também numerosos. Tudo isto deixa marcas e se prolonga em pícaras alfinetadas, anedotas, aforismos, expressões.

Não vou fazer uma análise exaustiva aos aforismos, que depreciam castelhanos em Portugal e portugueses em Espanha – Apenas um exemplo: para os castelhanos usa-se muito o termo «portuguesito» no sentido pejorativo, como sendo o país pequeno, todos fossemos apequenados pela baixa dimensão territorial. Lógica segundo a qual um luxemburguês nunca poderia ser maior do que um russo.

Há uma coincidência engraçada. Experimentem abrir um dicionário espanhol em «Portuguesada», Vou consultar o da Real Academia. Cá está: «portuguesada, f. Dicho o hecho en que se exagera la importancia de una cosa».(“Diccionario de la lengua española”, p.1645). [Read more…]