Existe um instrumento linguístico, de comunicação, usado pela classe política, que se sustenta numa lógica já conhecida: quanto mais se falar de um assunto, mais se afasta o interesse por via da exaustão ou, pura e simplesmente, banaliza-se o que deveria ser importante. As pessoas ficam cansadas e desistem. Tanto mais que têm as suas difíceis vidas para viver.
Faz parte dos velhos manuais de táctica de guerra política, as duas principais manobras a fazer quando se quer pôr fim a um certo assunto incómodo: a par de uma outra: cria-se uma comissão de inquérito o mais complexa possível.
Nada de novo, portanto.
A isto, soma-se a manipulação de conceitos, de acordo com as conveniências.
E, assim, temos um jargão, usado e abusado.
Nos últimos 10 anos, nunca a classe política usou tantas vezes o termo “responsabilidade”, ora no singular ora no plural. Usou e usa sistematicamente o termo que define aquilo que nunca é devidamente apurado neste país: obrigação de se responder pelas acções próprias ou de terceiros, ou por aquilo que nos é confiado.
No entanto, não deve haver dia que não haja um político a falar de “responsabilidade”.
Como se pode ver num claro exemplo, partindo daquele mesmo termo, “responsabilidade”, sempre cheio de actualidade:
Aquando das eleições legislativas de 2005, o apelo do PS à maioria absoluta, para fazer face a “tempos difíceis”, foi insistente, e a fórmula era simples:
Maioria relativa = responsabilidade relativa.
Maioria absoluta = responsabilidade absoluta.
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