Poltugal, um país do calalho

Isto sim, é um país do calalho! Chama-se Poltugal.”

Imaginemos por um momento o ministro Álvaro. Sentado, a ler. Sobre o regaço, os poemas de Álvaro de Campos. A sua atenção fixa-se, pensativamente, na estrofe final de um deles: “Ah, todo eu anseio / Por este momento sem importância nenhuma / Na minha vida, / Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos / Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma, / Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender / E havia luar e mar e solidão, ó Álvaro”. O Álvaro na sua solidão. E então… aconteceu. O momento. Aquele momento em que compreendeu “todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender”. Porque se deveu a uma graça divina. Apenas. Aquele Deus que, na sua obra “Diário de um Deus criacionista”, o mesmo Álvaro tanto houvera amargamente questionado pela demora preguiçosa em criar o mundo! E, bruscamente, com o efeito de uma revelação, um golpe de génio. Que haveria de mostrar a Portugal e ao resto do mundo o ministro Álvaro como o grande ministro da Economia! O momento traduzido num verso, para citar Manuel António Pina, um só verso que, no fundo, vale por uma epopeia inteira e que, na sua simplicidade, acabava por sintetizar seis meses extenuantes no domínio da acção governativa. Disse ele então que Portugal “tem falhado” no que se reporta às exportações de produtos nacionais, “tal como as natas”! O famoso “ovo de Colombo” miraculosamente transformado em pastel de nata.
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o pastel

Pastel de Vouzela

O pastel de Vouzela conjuga dois ingredientes que apenas estão ao alcance dos melhores entre os pasteleiros: o creme de ovo, essa bomba proteínica capaz de levantar um doente da cama (ou mandá-lo de vez para o lado de lá) e a finíssima massa folhada, leve como uma pluma, a desfazer-se contra o céu-da-boca.

Vouzela, situada na região de Lafões, no distrito de Viseu, é famosa pelos seus pastéis, cuja versão original apenas lá se pode encontrar, acreditem, e muito enganados andam os que se contentam com a caixinha da estação de serviço.

Retrato da terra e das gentes que a fazem, reflexão sobre o passado e o futuro da região, assente num equilíbrio delicado entre o olhar enternecido sobre um passado histórico cuja memória se deve resgatar, e o espírito crítico que siga com lucidez o rumo que a vila leva, eis o Pastel de Vouzela, o blogue que esta semana provamos, em tarde de amena primavera, sentados na margem do Zela.