Uma Justiça de ladrões e de corruptos

Como é possível acreditar na Justiça portuguesa quando todos os dias aparecem novos casos de corrupção que envolvem os mais altos cargos das magistraturas? Quando durante anos fizeram dos tribunais o seu quintal privado? Quando durante anos roubaram, manipularam e venderam sentenças?
Dizem-nos que há falta de funcionários e de magistrados e que por isso milhares de processos estão parados. Dizem-nos que muitos outros prescrevem por causa dos recursos e alçapões legais que a lei permite.
Só que afinal, à luz do que diariamente se vai sabendo, é muito mais do que isso. Os processos de Santa Engrácia, invariavelmente ligados aos poderosos, estão parados durante anos e acabam por prescrever de forma deliberada porque alguém paga para que isso aconteça. Os processos vão parar a determinados juízes porque alguém paga. As acusações são mal feitas com o objectivo de não pronunciação dos arguidos porque alguém paga. As sentenças são vendidas a quem pagar mais.
Vitalino Canas, um maçon inqualificável, ponta-de-lança dos poderosos a caminho do Tribunal Constitucional, representa o grau zero do estado a que chegou a Justiça em Portugal.
Depois do que sabemos, é impossível não questionar o passado. Os processos de Macau e de Mário Soares, minuciosamente descritos nos Contos Proibidos e minuciosamente arquivados por Cunha Rodrigues; o processo Casa Pia, que atingiu de forma selectiva apenas políticos do PS e esqueceu Paulo Portas, que então estava no Governo; o Freeport de Alcochete, cujas denúncias foram cortadas à tesoura por Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento; a Tecnoforma de Passos Coelho; a Quinta da Coelha de Cavaco Silva; e tantos, tantos outros.
Quem pagou? Quem recebeu? Quanto pagaram?
Como é que podemos acreditar nesta gente?
E como é possível acreditar que vai acontecer alguma coisa seja a quem for? A Ricardo Salgado? A José Sócrates? A Rui Rangel? A Vaz das Neves?
Não vai. Nada. Aconteceu a Ricardo Sá Fernandes, condenado por ter gravado uma conversa que incriminava um corrupto mafioso que a Justiça não incomodou; e aconteceu a Rui Pinto, extraditado ilegalmente e preso há mais de um ano por ter revelado os segredos de uma sociedade de advogados que trabalha para os poderosos e de uma empresa mafiosa sediada em Malta, entre muitos outros.
Com eles, a mão foi firme. Porque esta Justiça de ladrões e de corruptos não gosta que lhes estraguem o negócio. E o seu negócio são os poderosos.

Comments

  1. Guilherme says:

    Belo texto

  2. Manuel da Silva Moutinho says:

    Este país não é para gente séria.

  3. Ana A. says:

    Ui! Ui! que a divina justiça intocável e impoluta, constituída por semi-deuses, não vai gostar nada que se fale assim dela na praça pública!

    Cuidado com os processos judiciais e detenções arbitrárias que pululam por aí!

  4. JOAO MANUEL PAZ CARDOSO says:

    Uma “justiça” de classe, claro que a classe dominante nunca é sequer beliscada ao contrário dos “pilha galinhas” que são encarcerados de imediato. Nada de novo salvarguardando o crecente descaramento com isso é feito e as declarações tonitroantes de que “a justiça é para todos”. além de descarados fazem de nós estúpidos (ou tentam).

    • JgMenos says:

      Quanto à estupidez é garantido! Ou não estivesse no poder a mais bem organizada e experimentada matilha!

      • POIS! says:

        Pois, foi, tarde, mas foi!

        Eis que JgMenos reconhece finalmente a garantia,,neste regime abrilesco, de um direito à estupidez! Será que, tantos anos e comentários depois nunca se interrogou por que razão nunca foi preso, nem sequer identificado? Que distração, meu deus!

        A democracia é generosa e a atividade direitrolha, de que JgMenos é mais que supremo expoente,faz parte integrante da nossa cultura democrática.Desde a queda da cadeira do Salazar, dos discursos do Tomáz, das homilias do Cerejeira e das Conversas em Família do Caetano que o pessoal não se ria tanto!

  5. António Ferreira says:

    “A justiça é uma teia de aranha: eficaz a apanhar os pequenos insectos, e que os grandes insectos usam para coçar as costas.” (Cícero)

  6. JgMenos says:

    A falta de rigor faz com que tudo pareça um lixo.
    O Sá Fernandes não se terá feito passar por agente de um corrupto para denunciar um corruptor? O que distingue um corrupto de um corruptor? Se o outro também tivesse gravado, o que deveria concluir-se?
    O Rui Pinto é um agente da justiça, um justiceiro ou um hacker? É livre de invadir o seu computador?

    Nada pior que tretas para tratar assuntos sérios!

    • POIS! says:

      Pois, tem toda a razão!

      Perdeu-se muito rigor com a extinção da saudosa Escola Técnica da PIDE. Foi um erro fatal para o futuro da Raça e do Império.

  7. joaquim henrique coimbra rodrigo says:

    Um texto que coloca o dedo na ferida : com esta justiça e com estes executantes da mesma, não tenhamos duvidas absolutamente nenhumas que caminhamos para uma justiça para ricos e outra para pobres . Bem podem outros gritar bem alto que não é inútil ! Quando chega abril á Justiça …?Já não nos conseguem convencer e, acreditem que vivo com medo de cair nas teias da lei …Se tiver o azar de lá cair sou simplesmente triturado.

  8. Julio Rolo Santos says:

    A justiça não funciona porque é cega, só vê o que lhe convém. Mas sabe distinguir bem o pobre do rico, para isso, especializou-se na velha máxima: Quem dá o que tem a mais não é obrigado. Com os pobres a justiça não perde tempo a apontar-lhes a porta da prisão. Para com os ricos a espera para uma decisão é tempo que não lhes falta. Para estes a justiça é serena, tarda mas nunca aparece. E os porquês estão bem decumentados no texto do autor.