Inominável

“Grupos armados, de cara tapada, já terão matado mais de 1.100 pessoas, em cerca de dois anos e meio, e há mais de 200 mil deslocados a precisar de ajuda humanitária…aquilo por que a população de Cabo Delgado tem passado é uma coisa inominável”.

Ponto prévio: penitencio-me por não ter dado a esta questão a atenção que merecia. Um drama de proporções dantescas que o mundo (eu, incluído) tem, olimpicamente, ignorado.

Mas eu não sou jornalista. Não marco as notícias. Não tenho acesso às fontes que a comunicação social tem. E também me deixei levar pelo evidente desprezo que o jornalismo português tem demonstrado. Não vi uma única 1ª página. Não vi qualquer destaque. Apenas pequenas notícias, quase de rodapé.

Porquê esta indiferença perante um drama terrível que todos os dias acontece num País da nossa própria comunidade? Porquê esta repulsiva inversão na notoriedade das notícias? Pemba, Cabo Delgado, Moçambique, DAESH, Estado Islâmico não encaixam na agenda política dos jornalistas? Não pode ser, seguramente, pela cor da pele das vítimas. Isso seria racismo e os nossos jornalistas fartam-se de apregoar aos quatro ventos que não são racistas, odeiam racistas e lutam todos os dias contra o racismo (sempre achei estranha a necessidade de alguém ter de, repetida e exageradamente, afirmar que não é racista).

Mas estas questões são, também elas, irrelevantes perante a necessidade premente de fazermos algo para travar este inferno que a população irmã de Moçambique sofre diariamente. E se esta questão não é suficientemente PC (politicamente correcta) para a comunicação social inflamar consciências, cabe-nos a nós fazê-lo.

Comments

  1. Rui Naldinho says:

    Ha dias, ao comentar um texto do Francisco Figueiredo, «Privilégio Branco? », afirmei que o racismo sendo um comportamento mais próximo de partidos nacionalistas e de extrema direita, não era de todo exclusivo desta. Os ex países do Leste Europeu são hoje muito mais racistas e anti emigração, do que a restante Europa, dita Ocidental. E estes não têm um centésimo dos emigrantes, por exemplo, de Portugal, que tem a mesma dimensão geográfica. Já nem comparo a Polónia com a Alemanha.
    O racismo é transversal a todas as áreas ideológicas, ainda que com maior preponderância em partidos populistas.
    Não me admira nada que a maioria da nossa comunicação social ignore olimpicamente este assunto, de Cabo Delgado. Não é uma região com potencial económico interessante, para se falar nela. Tivesse petróleo como a Venezuela e tudo mudaria.
    Quando eu aqui escrevo de forma recorrente que os jornais, rádios e televisões, hoje, são a voz do dono, e não a opinião ou o filtro dos jornalistas que lá trabalham, com a responsabilidade e autonomia deontológica que se lhes exige, não estou a exagerar.
    Ainda hoje existem resquícios da descolonização atabalhoada feita no tempo do PREC, como existe ainda algum ressabiamento contra o poder político instalado após a independência das ex colónias, no subconsciente de muitos portugueses, incluindo os DDT, os verdadeiros mandantes da CS.
    Na maioria dos portugueses, com excepção dos políticos do regime, sempre prontos a vestir o fato de hipócritas, enquanto espreitam uma oportunidade de negócio rentista, existe a sensação de que as ex colónias são governadas por déspotas e corruptos, que se perpetuam no poder até sacarem o último “cobre”, das riquezas produzidas pelos seus países. Foi o caso de José Eduardo dos Santos, em Angola, e de Armando Guebuza, em Mocambique. Já não falo da Guiné, porque aquilo é o país de narcotráfico, onde impera a lei da selva.
    Esta xenofobia latente contra as ex colónias como Estados soberanos e independentes, é de certa forma a irmã gémea da xenofobia dos chamados países frugais, para com os países do Sul, no qual se inclui Portugal.
    O que me admira é que sendo este país tão condescendente com a corrupção caseira, seja tão exigente com a ética e parcimónia de outros, com especial incidência, os PALOPS.

    • Rui Naldinho says:

      O actual Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, é natural de Mueda, Cabo Delgado. Filho da etnia Maconde. Uma das etnias que mais resistiu à colonização branca e à invasão de outros povos africanos.
      Dessa forma admira-me que este não desenvolva esforços militares para pôr fim aos ataques. Ou o país está completamente falido, sem qualquer hipótese de resposta própria por parte das suas Forcas Armadas, ou a ser apoiado, através de uma ocupação militar de outro exército, tipo China ou África do Sul, ficará refém dos interesses económicos, destes.
      Moçambique hoje é um país completamente fragmentado em várias etnias, sem influência do poder central, sobre o seu território.

      • ANTONIO CARDOSO says:

        Os ataques do DAESH no norte de Mocambique ja fizeram noticias (nao em Portugal) nos noticiarios internacionais de ha uns tempos para ca. A verdade e que os governos instalados apos a independencia forcaram a debandada dos brancos (e nao so) e logicamente o colapso da economia. Muitos desses forcados a abandonar o territorio poderiam dar uma preciosa ajuda a manutencao da ordem e mudanca para uma vida melhor. Julgo que muitos, entre os quais me conto, estariam dispostos a levar por diante a independencia e que ha muito ambicionavam. Portugal cometeu muitos erros durante estes anos todos e, particularmente em Mocambique, ate a lingua esta a desaparecer por varios motivos que nao me cabe aqui analizar. As novas geracoes estao cada vez mais a afastar-se de Portugal e vao directamente as fontes de que precisam sem a interveniencia de terceiros. Isto e a minha opiniao.

        • Daniel says:

          “Não em Portugal”??
          Claro que foi noticia imensas vezes em Portugal!!
          Quanto não se sabe, pergunta-se; não se inventa!…


      • «Moçambique hoje é um país completamente fragmentado em várias etnias»
        Hoje?
        Hoje, ontem e sempre; libertos da opressão colonialista os seus heróicos nacionalistas têm estado ocupados a encher o bandulho à custa da ajuda internacional, e não só!

        • Rui Naldinho says:

          Lê o parágrafo todo.
          “… sem influência do poder central, sobre o seu território”

          Significa isto que muitas das províncias são governadas por caciques locais, logo, sem controlo do poder central.

  2. Daniel says:

    No último ano, se não estou em erro, TODOS os Domingos na SIC Notícias, Nuno Rogerio no seu Leste/Oeste fez referência a esse grave problema no norte de Moçambique – ainda este Domingo o fez!
    As autoridades moçambicanas continuam a não pedir ajuda internacinal para combater o DAESH, que tem cada vez mais poder na região…


    • E não pedem porquê? O JgMenos dá a resposta aí em cima. É fácil, e dá milhões. Também costumo ver o Leste/Oeste e o Rogeiro tem sido incansável na denúncia dessa situação vergonhosa que se passa em Moçambique.

      Um trabalho inglório em Portugal, uma vez que os “jornalistas” portugueses estão mais interessados e mais ocupados em transformar o país numa espécie de Coreia do Norte do que informar. Só interessa Costa, Marcelo, Catarina e Jerónimo. Tudo o resto não existe.

      Não digo “abençoados € 15.000.000” porque há décadas que esta pouca vergonha funciona assim.

      Antigamente só pagávamos se quiséssemos, agora pagamos, com o fruto do nosso trabalho, o caminho para a ignorância e a consequente servidão.

      • Democrata_Cristão says:

        “Também costumo ver o Leste/Oeste e o Rogeiro ”

        O “isentíssimo” Rogeiro ao serviço dos USA


        • Mais do que ao “serviço dos USA” está ao serviço do combate à ignorância dos portugueses.

          Está cada vez mais difícil, eu sei.

          • Democrata_Cristão says:

            Quem admira o Trumpas e Companhia, está tudo dito e explicado.

            O Rogeiro há muitos anos que serve os seus amos

        • Daniel says:

          A sério??
          E pagam bem?
          Mad, onde é que ele não foi isento?

      • Daniel says:

        “Um trabalho inglório em Portugal, uma vez que os “jornalistas” portugueses estão mais interessados e mais ocupados em transformar o país numa espécie de Coreia do Norte do que informar.”
        Ah?!
        Não sei se será por ignorância, mas andas a seguir os “jornalistas” errados… só pode!!!
        Nunca vi semelhante disparate, até porque a liberdade de imprensa em Portugal está no top ten mundial – bem a frente de países como os EUA!
        “Portugal no top da liberdade de imprensa, mas não há motivos para festejar”
        https://www.dn.pt/cultura/portugal-no-top-da-liberdade-de-imprensa-mas-nao-ha-motivos-para-festejar-12146569.html

  3. Maia Herculana says:

    “Antigamente só pagávamos se quiséssemos.”
    Não sei se entendi o significado destas palavras. Poderá explicar-me, como se eu fosse uma criança?