
A democracia não é nem pode ser neutra. A democracia tem valores e princípios sobre a qual foi construída, e deve defendê-los com todos os recursos à sua disposição. Não poderia ser de outra maneira.
A sua natureza plural, contudo, encerra um perigo, que é o de permitir que os seus inimigos, aqueles que a querem destruir, possam ter uma palavra a dizer na sua condução. Alguns deles estão, estiveram e têm perspectivas de chegar ao poder, mas o seu líder acaba de cair. E o espectáculo não está a ser bonito de se ver.
Com Trump em modo meltdown conspiracy, os Proud Boys standing back and by, focos de contestação organizada à porta de estações de contagem de votos nos Estados que ainda continuam por fechar, o Bin Laden da extrema-direita internacional mostrou ao que vinha e acabou banido do Twitter. No seu canal, Steve Bannon, estratega da vitória de Trump em 2016, deixou um recado ao ainda presidente: despedir Fauci e Christopher Wray, director do FBI, mas só porque o “presidente é bondoso”. Se fosse ele, a coisa piava de outra forma:
Eu gostava de voltar atrás e estar nos bons velhos tempos da Inglaterra durante a dinastia Tudor e pôr a cabeça deles em estacas” e colocá-las de “cada lado da Casa Branca como um aviso aos burocratas federais
A democracia não é nem pode ser neutra. A democracia tem limites, linhas vermelhas, e uma delas é não tolerar métodos medievais de terror. Mas é essa, a alternativa que a extrema-direita tem para oferecer. Chamemos-lhes fascismo cultural. E os democratas a procrastinar, armados em Chamberlains, fiados na virgem e no wishful thinking.
Biden não será a alternativa óptima, mas é o analgésico possível para uma América em carne viva. A democracia está estilhaçada, mas sobreviverá para viver mais um dia. Caberá aos democratas decidir se estão verdadeiramente dispostos a lutar por ela, contra a pandemia do nacional-trumpismo.
Sempre, sempre a confusão entre democracia e democracia ‘representativa’. Daí a maioria pensar que nada mais existe ou pode existir senão a última, e o carneirismo cego com que defendem esta fantochada. Enfim.
Por muito que custe, até o discurso de ódio deve caber na democracia. As pessoas devem ter educação e discernimento para identificá-lo e rejeitá-lo por si mesmas; de contrário será apenas mais uma proibição contraproducente, onde o fruto proibido ganha duplo interesse e se torna cada vez mais radical.
Biden é fraco até como analgésico. Alguém lhe chamou o ‘Platitude President’, parece-me adequado. Nem gelado de baunilha do Continente é tão vanilla como Biden.
É melhor que o Trampa? Claro, quem não é? Mas não vejo como se possa festejar outro lacaio de Wall Street e demais mamões, após esta vitória pífia, provável mero interlúdio até ao próximo Trampa… ou pior. Isto do ‘mal menor’ não dá outra coisa.
Um gelado de baunilha pode não ser, mas o Platitude Pete seria ainda mais yawn.
Adiante, o discurso de ódio incorpora, senão o apelo, pelo menos a apologia à violência física, psicológica e material que nunca se restringe ao alvo evidente quando lhes dão corda, são mais resistentes do que as ervas daninhas. É preciso cortar mesmo a raiz.
E para alguém que tanto gosta de democracia, directa ou não, pensei que achasse importante que ganhasse um partido que queira dar/devolver o voto a quem não o tem e reformar o colégio eleitoral que tanto limita a responsabilidade dos eleitos.
Mas não, isso é daquelas coisas de identidade cultural e portanto não interessam nada.
Os Democratas querem dar votos a minorias também porque, como sabe, esperam receber a maioria desses votos. Reforma do colégio eleitoral? Duvidoso.
Serão melhores que os Republicanos, no sentido em que levar com um balde de urina é melhor que um balde de Trampa, mas no essencial pouco ou nada muda.
Noutro sentido, são ainda piores: criam a ilusão de alternativa quando não a são. Contentam a carneirada ‘progressista’, mas impedem qualquer mudança real.
E que interessa se é por interesse ou não? São inimigos do meu inimigo (ou política inimiga), e isso às vezes basta.
E, sim, inclui refazer distritos e dar mais valor à totalidade de votos, ou não tivessem 7 maiorias nas últimas 8 eleições.
Interessa, Paulo, interessa. Essa sua fasquia está tão baixa que até formigas saltam por cima dela.
Depende. Basta para dar uns toques, a crítica para não ficar por aí já começou dia 5 (dia em que não havia dúvida do resultado)… incluindo no próprio partido.
Parece ser, de facto, uma boa oportunidade de testar a resiliência das populações dos países democráticos anglo saxónicos a medidas anti democráticas tomadas pelos governos a propósito de controlo da epidemia.
Os ventos sopram contra as referidas democracias. As pessoas já se aperceberam que a “Deusa Democracia Anglo Saxónica” não foi mais que um estratagema dos países que ganharam a guerra do século XX, para se apoderarem das riquezas dos países pouco desenvolvidas tecnologicamente. Estes últimos foram desapossados das suas riquezas, por compra, de uma forma legal. Porém o impacto social de aumento de pobreza a que essas compras conduziram, provocam hoje o descontentamento geral das pessoas. Sem que elas saibam bem porquê, elas querem mudar.
Por isso o advento do Corona vírus pode facilitar a transição de democracias anglo saxónicas para democracias musculadas…
Esperam-nos “Democracias do tipo chinês ou russo”.
Atrás de tempos, tempos vêm. O pêndulo foi largado num extremo em que estavam McCarthy, Hitler, Stalin, Franco. E, no seu movimento pendular, está a querer regressar aos regimes autoritários. É uma questão de tempo…
As democracias anglo saxónicas sempre foram musculadas.
“A democracia não é nem pode ser neutra. A democracia tem limites, linhas vermelhas, e uma delas é não tolerar métodos
medievais de terror.”
Bom… sendo assim a farsa da democracia tuga já era!
Pois temos de concordar!
O vozinhaazerodecibolos, dada a sua heterodoxia, o seu desalinhamento, a sua iconoclastia, tem sofrido imenso. Como consequência deve ser o único português que tem de desapertar os pregos que o unem a uma cruz feita de sólida madeira de granito de cada vez que precisa de ir à casa de banho.