Quem não quer ser milionário?

Segundo parece, não há candidatos suficientes para preencher as vagas dos cursos orientados para o Ensino. Por outro lado, há um grande número de professores no activo que se aproximam rapidamente da idade de reforma. Não deve faltar muito, portanto, para que as escolas voltem a ser inundadas por professores com habilitação suficiente, licenciados em Direito a leccionar História ou engenheiros a ensinar Matemática.

Pode haver quem considere que essa falta de formação inicial poderá afectar a qualidade da leccionação, mas a verdade é que faz sentido: num país em que toda a gente sabe mais de Educação do que os profissionais da área, por que carga de água é que um professor, o menos entendido na matéria, haveria de dar aulas?

A falta de candidatos ao Ensino, no entanto, espanta-me, porque os vários pedagogos de sofá que explicam Educação em todas as direcções sabem perfeitamente que os professores

  • não trabalham
  • recebem salários principescos

  • fazem greve, dia sim, dia não

Notai bem: se alguém não trabalha e é pago, já recebe demasiado. Além disso, não se pode falar bem em salário, já que quem é pago para não trabalhar recebe antes um subsídio. Como se isso não bastasse, os professores, que não trabalham, ainda estão sempre em greve, o que é extraordinário – muito provavelmente, reivindicam melhores condições para não trabalhar.

Alguns professores ainda se queixam de que têm de pagar viagens e alojamento do seu bolso ou que têm de comprar, por exemplo, o computador com que preparam as aulas. Têm o que merecem, porque tiveram as mesmas oportunidades que outros de entrar em juventudes partidárias e não aproveitaram. Ser imprevidente merece castigo, não se pode colher o que não se semeou (a não ser que se entre para um partido). Ao entrar num partido, com um pouco de esforço, até será possível chegar a ministro; se não se esforçar, até poderá ser ministro da Educação.

Ainda assim, confesso, espanta-me que não haja multidões de candidatos a uma profissão que garante ócio e fortuna.

Poderão dizer que os professores mais novos não conseguem entrar para os quadros. Não é verdade: muitos professores mais velhos também não conseguem. Os quadros estão praticamente fechados há anos, o que leva muitos professores a dar aulas sem direito a um vínculo ao Estado. Ora, se há tanta gente a dar aulas sem vínculo é porque não precisa de vínculo para dar aulas. Além disso, é preciso pensar no Estado: por que razão se iria gastar mais dinheiro em pessoas que não trabalham?

Aproveito para deixar aqui uma proposta que poderá ser útil para a máquina fiscal. Os profissionais liberais são obrigados a declarar que iniciaram actividade. Assim, qualquer um que comece uma carreira docente deveria ser obrigado a fazer uma declaração de início de inactividade.

Para finalizar, remeto os mais jovens para um texto que publiquei há poucos anos. Vamos lá, malta: isto de ser professor é igualzinho aos anúncios de esquemas em pirâmide, com a vantagem de que não é preciso angariar outras pessoas.

Comments

  1. luis barreiro says:

    A explicação mais óbvia é a falta de autoridade dos professores que actualmente têm e o rumo que se leva a que no futuro ainda tenham menos.
    Mas à sempre alguém para berrar e apontar o cisco no olho do outro mas nunca vê a trave no próprio olho.
    Mas quem quer dar aulas com a desbunda actual?

  2. JgMenos says:

    Eis uma matéria que engloba tudo o que há de distorcido na sociedade abrilesca parida a golpes de incompetência e engulhos ideológicos.
    1- Antes demais qualidade na formação/ selecção.
    2 – O padrão do vínculo só traduz que à sua rigidez se teve de contrapor a irracionalidade das colocações e os largos períodos de incerteza.
    3 – O puteiro pedagógico com sede em Lisboa empesta tudo o que o que mexe no país.
    4 – Planeamento e avaliação, requer clareza de propósitos e idoneidade dos decisores – tudo valores escassos no rodopio do corretês.

    • Paulo Marques says:

      Curiosamente, ou não, completamente ausentes do querido Cratino também, com os resultados esperados.
      Mas continua sem dizer, ano após ano, porque prefere não ser privilegiado.

    • POIS! says:

      Pois não me diga!

      V. Exa. mudou-se para Lisboa? Tá tudo siderado!

  3. Muito bom! Parabéns.

  4. Luís Lavoura says:

    Eu conheço uma jovem que tem um curso de educação, tirado pela escola de educação de Castelo Branco, e que diz que está há anos a concorrer para professora mas que jamais lhe dão lugar.
    Portanto, eu diria, a avaliar por este exemplo, que o problema em Portugal não é propriamente de falta de pessoas com habilitações para ensinar.

    • António Fernando Nabais says:

      O Luís devia escrever uma “História da Educação em Portugal”. Proponho-lhe um subtítulo: “História da Educação em Portugal tendo em conta a semana passada e uma jovem que conheço e tem um curso de educação tirado em Castelo Branco”

    • Paulo Marques says:

      Conhece um professor? Carago, ponham-no já no ministério!

Trackbacks

  1. […] (esses madraços ignorantes, como ainda recentemente demonstrei) […]

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