A União Europeia e o privilégio de aqui estar

Foi há 71 anos que Robert Schuman proferiu o seu famoso discurso, eternizado como Declaração Schuman, que marcou o início do processo de construção europeia, colocando, assim, um definitivo ponto final em anos de guerras sangrentas e instabilidade política e social no continente europeu. De lá para cá, a hoje União Europeia transformou-se na capital mundial da democracia e da liberdade, onde o esforço conjunto resultou em mais direitos, mais liberdades, mais garantias, mais igualdade, mais fraternidade, mais respeito pela diferença e maior acesso a oportunidades do que em qualquer outro local do mundo. O caminho é sinuoso, e muito há ainda para construir, para reformar, para melhorar e ajustar. Na balança, contudo, os ganhos colectivos ultrapassam largamente as consequências nefastas que deste projecto resultaram. E nós, portugueses, que nem sempre sabemos usar ou executar o investimento que chega de Bruxelas, somos dos que menos se podem queixar. Seríamos um país muito mais atrasado, muito mais pobre, caso tivéssemos optado por qualquer uma das propostas “orgulhosamente sós”, na periferia e ultraperiferia da União. Sempre tive e – suspeito – sempre terei dúvidas quanto ao funcionamento e estrutura da União Europeia. Mas nunca deixarei de acreditar no melhor projecto civilizacional construído até à data. E não vejo propostas alternativas que nos conduzam a mais prosperidade. Só retrocesso e barbárie. Celebremos, pois, esta Europa a 27 e tudo o que conquistamos. Se não for por mais, que seja pelo privilégio de aqui estar.

Comments

  1. JgMenos says:

    Só não fazendo contas à dívida e considerando as dádivas que ainda virão faz sentido falar em não sermos pobres.
    Decididamente estamos «orgulhosamente dependentes» porque já fomos orgulhosos, mas nunca estivemos sós – NATO e Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA) parece nada dizer aos ignorantes de hoje.
    Quem no passado se sentia muito só é a cambada que hoje pasta no orçamento à vara larga, provavelmente já em terceira geração.

    • POIS! says:

      Pois foi! E é histórico!

      Foi num “Serão Para Trabalhadores” da saudosa FNAT que Salazar apareceu embuçado numa sotaina do Cerejeira.

      Desmascarado pelo Artur Agostinho, que reconheceu a sotaina pelo debruado inconfundível feito pela D. Maria de Jesus Freire, logo foi forçado a subir ao palco onde cantou o célebre “Fado do Orgulho Solitário” acompanhado, sublinho, acompanhado, à guitarra pelo Tonel Nato e à viola pelo Alípio Efta, que era descendente de um corsário britânico que costumava passar férias em Albufeira.

      É um facto que pertence à história, mas que muitos ignorantes ignoram, fazendo gala de ignorar que são ignorantes, mantendo-se propositadamente na ignorância de ignorarem os grandes feitos, desdenhando conhecer aquilo que ignoram. É lamentável!

    • Paulo Marques says:

      As dádivas que vieram, vêm, e virão para alimentar o capital estrangeiro a troco do Sul lhes ser uma colónia de férias e um consumidor garantido.
      Só não percebendo o que é um país iminentemente deficitário ter que usar moeda estrangeira de um país que corta o seu próprio consumo para competir é que alguém pode achar que podia ser diferente.
      Ou isso ou gosta muito de mandarim.

      • JgMenos says:

        O Exploradinho da Silva é uma das figuras emblemáticas do 25A.
        Bolsa aberta para meter subsídios mas sempre muito infeliz!

        • POIS! says:

          Pois é!

          Também, desde que lhe tiraram as magníficas férias na cadeia hoteleira “Chez Bidonville” e os excitantes Safaris nas Áfricas não admira que transpire infelicidade. Não há subsídios que paguem tamanha perda. É uma tristeza!

        • Paulo Marques says:

          Subsídios para comprar com juros o que se podia fazer em casa. São escolhas, agora paga os juros.

  2. Paulo Marques says:

    Havendo capitulação, as regras passam para a periferia, e os desastres são muitos, dos Balcãs à Síria. A instabilidade social, bem, quando se aceita o uso da força, no leste e não só, e se faz de conta que são franjas privilegiadas em Paris e na Catalunha, entre outros, de facto, está tudo tranquilo, democrata e livre.
    Ninguém note que o voto não muda as grandes opções feitas em comissões, comités, ou até grupos sem legitimidade alimentados a lobistas financeiros (http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=46800). Viva a democracia e a liberdade, desde que se concorde com o caminho único. Ou não, o que era mau ontem, como as duas velocidades, a realidade obriga a admitir hoje e está tudo bem, porque TINA e tal. O que vale é sentir a fraternidade de quem diz que vivemos acima das nossas possibilidades a mulheres e vinho.
    Não somos quem mais se pode queixar, Itália e Grécia sofreram muito mais. Mas não é uma questão de euro. Antes fosse. A tentativa de aceitar a Alemanha como um parceiro igual nunca resultou (http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=41879).
    E não só não cumpre os seus tratados (http://bilbo.economicoutlook.net/blog/?p=46440), também não cumpre os outros (https://www.thenationalnews.com/world/europe/european-union-breaking-international-law-with-its-treatment-of-migrants-and-refugees-warns-watchdog-1.876018).
    Mas, pronto, vão imprimir muito papel depois de tirar o pilar social do armário outra vez, e prometer pôr umas coisas verdes enquanto se constroem mais centrais a carvão, e muito protectoras da democracia enquanto se acaba o nordstream 2.

    • Paulo Marques says:

      Ah, e bom… Nunca se saberá se havia políticos para outra escolha, mas agradeça à UE a oportunidade de ouvir os nossos melhores empreendedores a dar baile sobre como pagamos nós os seus negócios com o BES e NB.


  3. “Ponto final em guerras sangrentas”???? Ah, então a guerra da Bósnia não existiu, a da Líbia conduzida pelos donos da Europa tb não, as vagas de refugiados que essa e outras guerras estão a provocar, ainda menos….Isto para nem falar na guerra que as instituições fizeram e fazem à Grécia, esmagando totalmente um país soberano apenas para salvar bancos franceses e alemães..
    Mas que previlégio poder votar para um parlamento que quase não tem poderes, a não ser colocar o carimbo do OK nas decisões já tomadas por outros?
    Ah…eu queria aplaudir…..