Certificados de aforro: o cartel é quem mais ordena

Coube a João Nuno Mendes, Secretário de Estado das Finanças, a árdua tarefa de vir a público garantir ter havido “zero pressão” da banca no cancelamento da série E dos certificados de aforro, que remunerava até 3,5%.

No início achei estranho, dado que, dias antes, ouvi o antigo presidente do IGCP, hoje presidente do Banco CTT, defender a suspensão da emissão de certificados de aforro, que o governo, solícito, cancelou quatro dias depois, na passada Sexta-feira.

Depois ocorreu-me tratar-se do mesmo secretário de Estado que soube da indemnização de Alexandra Reis pela comunicação social e pensei: coitado, mais um infoexcluído.

Adiante.

Divirto-me imenso sempre que um radical de direita se refere ao socialismo do PS como se de socialismo se tratasse. Um pouco como a social-democracia do PSD ou o “Democrática” na designação oficial da Coreia do Norte.

O PS, no seu estado normal, é um partido que, tal como a direita, bate continência à banca, o mais parasita de todos os sectores da sociedade portuguesa. E o mais caro para o erário público também.

E como se encontra nessa situação de vassalagem, não quer chatices com os Ricardos Salgados desta vida. E os certificados de aforro com remuneração até 3,5% eram uma chatice, na medida em que não davam qualquer tipo de hipótese ao lixo que a banca portuguesa propõe como alternativa. De maneira que, ou se acabava com os certificados, ou a banca teria que passar a remunerar melhor as poupanças dos seus depositantes para reconquistar o seu interesse. Como sempre, ganhou a banca. Ou o “cartel da banca”, como oportunamente lhe chamou Luís Aguiar-Conraria, num artigo em que desmonta o embuste com mestria.

Este cartel, afirma o professor da Universidade do Minho, concerta preços, troca informação comercial sobre os seus clientes e actua numa realidade semelhante a um pacto de não-agressão, para garantir que as taxas de juro que remuneram os seus clientes se mantêm incompreensivelmente baixas. As mais baixas da Europa. Maravilhas do mercado livre.

E o que sucede então?

Sucede que os bancos remuneram os investimentos dos seus clientes com taxas de juro a rondar os 0,9%, e, de seguida, investem essas poupanças no BCE, recebendo em troca uma taxa de juro nunca inferior a 3,25%.

Percebem o quão incomodativos eram os certificados de aforro a 3,5%?

E desengane-se quem acha que estes novos, que remuneram até 2,5%, vão durar muito tempo. Porque, apesar de tudo, continuam a ser um melhor produto de poupança do que qualquer outro que a banca tem para oferecer ao comum mortal. As elites têm sempre soluções alternativas.

A banca é um sector que parasita o país e deve ser castigada por isso. Mas os governantes que a servem, em prejuízo dos portugueses, são ainda piores. Uns e outros, sempre a viver acima das suas possibilidades. Nacionalizar a banca, como defende alguma esquerda, é uma ideia sem nexo. Viver nesta bancocracia, sem regras e em regime de cartel, não é melhor.

Comments

  1. Paulo Marques says:

    A solução, descoberta em 1929 por motivos de TINA, era acabar com a especulação por quem guarda dinheiro e faz empréstimos.
    Mas isto sendo província dá alguma razão à banca, existindo como existe: não só foge para os certificados de aforro, como, se não fossem estes, podia fugir para especulação noutros mercados, podendo deixar esta com falta de liquidez para garantir levantamentos ao mesmo tempo que retorno a clientes de rendimentos mais altos a médio prazo.
    Podia. Não conheço as contas, mas SVBs há muitos, é uma questão de rácios e garantias aos depósitos.

  2. Luís Lavoura says:

    Se os certificados de aforro estavam a ter elevada adesão, de facto até estavam a ter mais adesão do que aquela que o Estado esperava e desejava, isso era sinal inequívoco de que estavam a oferecer condições excessivamente boas. Logo, o Estado fez aquilo que a Lei da Oferta e da Procura manda: piorou as condições. Nada de anormal. Não há nada a contestar.

    • Paulo Marques says:

      Então, mas os juros não são naturais? E, como muita gente fez as contas, ficar maioritariamente na casa e sujeito a imposto também conta.

    • POIS! says:

      Lá está a mãozinha invisível a aliviar o lavoura.

      Nunca falha!

  3. JgMenos says:

    Tudo fica sempre pela rama!
    1 – O Estado não tem que pagar juros acima do mercado.
    2 – Quando a cambada se apanhar financiada pelo povinho, a desbunda será fortemente potenciada.
    3 – Porque as empresas dependem da banca? Porque o particular, não sócio ou sócio minoritário, que o faça arrisca-se a ser roubado e esperar anos arrastando-se nos tribunais onde as falências nunca são fraudulentas!
    4 – A banca é um sector caro para o Estado? Bem pelo contrário, é dos mais rentáveis e ainda fazem uns fretes à cambada.

    • POIS! says:

      Pois cá está!

      O Menos está cada vez mais torcido! A coluna está cada vez mais parecida com um parafuso, mas daqueles que sustentam as hélices das traineiras.

      O melhor, mesmo, é deixar ficar as coisas pela rama. Cada tentativa de aprofundamento são mais duas voltas que a espinha tem de aguentar!

      PS. (Post Sciptum ,nada de confusões!): o nº 3 é simplesmente genial! Que aprofundamento colossal!

      É pena que, por não estar em português, a generalidade dos cidadãos não possam tirar proveito de tão doutos ensinamentos.

    • Paulo Marques says:

      Então não é dos mais rentáveis, devia continuar a aumentar as taxas e taxas de juro, para nos render ainda mais. E, se não chegar, copiar o BES e tantos outros para aumentar ainda mais.
      Aliás, o estado até injectou pouco, devia fazer a linha nunca descer para a nação aumentar o número de iates per capita, que é muito baixinho.

    • Carlos Almeida says:

      Carissimo JgMenos

      O estimado contabilista esta um pouco off side neste jogo: É natural, isto é assunto para os economistas.

      .1 – O Estado não tem que pagar juros acima do mercado
      R1 Qual mercado ? O estado entrou no mercado para defender a classe media, aumentando os juros. Então isso não é entrar no mercado ?
      Não estou a falar do mercado da ribeira

      2 – Quando a cambada se apanhar financiada pelo povinho, a desbunda será fortemente potenciada.

      R2 -Não estou a perceber. Primeiro é contra a que o Estado tenha criado melhores condições que a Banca, às poupanças dos Portugueses, e nós percebemos porque, agora esta frase O que quer dizer. PF explique porque eu não sou contabilista.

      3 – Porque as empresas dependem da banca? Porque o particular, não sócio ou sócio minoritário, que o faça arrisca-se a ser roubado e esperar anos arrastando-se nos tribunais onde as falências nunca são fraudulentas!

      R3 -Estimado guarda livros. Talvez no saudoso tempo Salazarento, fosse assim. De facto as quadrilhas Sommer / Champolimaut usavam esses esquemas, mas modernamente isso é muito complicado mesmo em termos de POC ou lá o que se chama agora. S empresa quando precisam de financiamento têm que ir à Banca, que leva o couro e o cabelo. O assunto não é esse, mas sim que a banca paga miseravelmente ás pessoas que la têm o dinheiro depositado a prazo. Ficaram em pânico quando apareceram os certificados de aforro a pagar mais de 3% do que os bandidos pagam.

      4 – A banca é um sector caro para o Estado? Bem pelo contrário, é dos mais rentáveis e ainda fazem uns fretes à cambada.

      O estado tem injectado milhões na Banca para a resolver os problemas causados e os maus resultados das suas próprias vigarices e fraudes e não é caro ?
      Não é caro é um roubo

      Mas nós compreendemos. No tempo do seu Botas, os vígaristas Espírito Santo e outros já existiam, mas nada se sabia. havia censura e os seus colegas da PIDE para evitar que essa informação chegasse à “cambada” , sempre pobre e mal agradecida

      A Bem da Nação

      Carlos Almeida

  4. JgMenos says:

    Toda a cambada se recusa a aceitar que o Fundo de Resolução é devedor do Estado, a quem paga juros, e é a banca que tem que cobrir essa dívida.
    Diferentemente quando o Estado nacionaliza, e lá faz acampar uma boyada,

    • Tuga says:

      Merda e só merda sai dessa cloaca de facho

    • Paulo Marques says:

      Tem, num dia de nevoeiro, logo a seguir à reforma do Euro e à vitória da Ucrânia, lá pagará.

    • Paulo Marques says:

      Quanta dessa dívida desapareceu com a inflação e quanta será paga nas calendas com dinheiro criado do nada para pagar juro às reservas criadas do nada depositadas para o investimento que não fizeram?
      Isso agora não interessa nada.

    • POIS! says:

      Pois aqui está, e bem vivo!

      JgMenos, líder dos Ultra Super Bancões, claque de apoio e desagravo aos desvalidos e perseguidos banqueiros.

      O brio, o denodo, o pundonor com que investe em defesa de tão desconsiderada classe é deveras comovente!

      Aliás, não sei por que razão há tanta gente contra os banqueiros. Eu não tenho nada contra. Acho até que cada português devia ter um banqueiro!

  5. Estugardiano says:

    Excelente artigo. Nao podia estar mais de acordo