Notas sobre o incidente israelo-iraniano

Três pontos prévios, sobre o incidente israelo-iraniano deste fim-de-semana:

  1. Israel está a levar a cabo um massacre na Faixa de Gaza. O nível de brutalidade da sua ação supera largamente o de Putin na Ucrânia. Não há justificação possível para a desproporção da resposta ao ataque terrorista de 7 de Outubro.
  2. O ataque de Israel ao consulado iraniano na Síria viola o direito internacional e a Convenção de Viena. E acontece não porque Israel se sentiu ameaçado pelo Irão, mas porque se julga acima da lei.
  3. Ao nível interno, Israel ainda é uma democracia. No plano externo é um regime desestabilizador, dos mais violentos e dos que mais desrespeita o direito internacional e as suas instituições.

Dito isto, convém não ser ingénuo. O Irão é um regime autoritário, fundamentalista e opressor, que financia guerrilhas e grupos terroristas como os Houthis e o Hezbollah, para não falar no próprio Hamas.

Tem interesse em semear a instabilidade junto de Israel e dos seus vizinhos sunitas, para não falar nas bases do inimigo existencial, os EUA.

(Paradoxalmente, foi um golpe de Estado engendrado pelos EUA que abriu caminho à ascensão do regime dos ayatollahs.)

É um regime opressor, que tortura, mutila e mata dissidentes. É aliado estratégico do Kremlin e tem sangue ucraniano nas mãos.

Israel é um regime violento, mas o Irão não é melhor nem passa a ser frequentável por causa isso. Aos israelitas, pelo menos, é dada a possibilidade de não escolher Netanyahu. Se o escolhem, e escolhem a violência, fazem-no em consciência. Já os iranianos não têm essa possibilidade. Mas já foram um dos regimes mais livres do Médio Oriente.

Comments

  1. airesesteves says:

    Antes de mais, devemos fazer uma análise sobre o ponto de vista das relações internacionais e comportamentais! O comportamento politico (ideológico) do governo ucraniano (que fez de tudo para entrar na «u-é», e disponível para receber a NATO)! Quanto ao governo Israelita (apoiado pelo capitalismo dos EUA, e não só), só um cego, é que não quer ver. Se não fosse o Hamas , ainda hoje não sabiam (grande maioria), que o Povo palestiniano estava a ser dizimado ao longo dos anos, pelos sionistas israelitas!

  2. Nortenho says:

    The yankee friend again

  3. Israel é, sempre foi, sempre será, aquilo que foi desenhado para ser, um etno-estado capaz de genocídio que nunca ficará contente com o “espaço vita”. A menos que estejamos preocupados com os loirinhos de olhos azuis, o único termo de comparação são os estados coloniais que cometeram o mesmo, do nosso aos Estados Unidos – que, na verdade, continua, hoje, a apagar a história, os direitos e até os acordos assinados com quem invadiram
    Não se recomenda o Irão, mas é o que há. A menos que prefira os regimes comprados e destruídos dos vizinhos, com as populações empobrecidas e brutalizadas de uma ou de outra forma, é o que há, ainda décadas depois de acabar com qualquer movimento popular que permita outra coisa, é o que resta para ajudar quem resiste ao colonialismo, ao roubo, às violações, à tortura, à mentira para quem não quer ver, ao culto das regras interesseiras que mesmo assim só valem para uns; à desumanização em geral. E no caso do estado abençoado, democracia com uma constituição de uma só etnia, onde nem os católicos se safam (nem perguntem o que aconteceu às ucranianas que para lá fugiram), nem sequer os judeus menores, que prefere puxar o paizinho para um conflicto regional, senão mundial, porque tem medo dos subhumanos.
    Pode falar o que quiser nas revoluções neutralizadas com cores, é impossível condenar os Houthis, o Hamas, ou o Hezbollah por resistirem a serem genocidados, como foram os Mandelas e Xananas de outras épocas, com base no que são, acima de qualquer outra coisa, puras aldrabices de quem invade, bombardeia, golpeia outros estados quando quer, e ainda financia Al-Qaedas e ISIS para fazer o que dava demasiado nas vistas. Poupem-me.

    • José Vítor Ramalho Cruz says:

      Completamente de acordo. Os sionistas conseguem reabilitar e conferir legitimidade ao Hamas como nunca antes a teve.

      • E o Irão não é o aliado perfeito, mas bem lhes agradeceram por dormirem em paz pela primeira vez em 6 meses, num dia em que tinha havido mais pogroms onde nem Hamas há.

  4. Santiago says:

    Só com muita boa vontade de pode denominar Israel como uma democracia. É por existirem eleições? É que só pode ser por aí, já que a sociedade é estratificada em função da religião, aliás, como bem colocou o Paulo, Israel é um etno-estado. Cristãos, muçulmanos e até judeus ortodoxos são carne para canhão.

    Depois de mais de 75 anos de ocupação, 30 mil palestinianos mortos só nos últimos meses, invasão e ocupação do Líbano durante 10 anos, bombardeamento sistemático da Síria e, agora, o bombardeamento da embaixada iraniana, é preciso ter-se muito desonesto para onerar o Irão.

    Financia e financia bem, mal ou bem, todos esses movimentos ( o Hamas é criação da Mossad para destruir a OLP) são legítimos grupos guerrilheiros de resistência. O Líbano ainda estaria ocupado por Israel se não tivesse sido criado o Hezbollah

  5. Andre A. says:

    Sugeria a substituição do «paradoxalmente» por um «de novo» (ou «yet again»).

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