Notas sobre o incidente israelo-iraniano

Três pontos prévios, sobre o incidente israelo-iraniano deste fim-de-semana:

  1. Israel está a levar a cabo um massacre na Faixa de Gaza. O nível de brutalidade da sua ação supera largamente o de Putin na Ucrânia. Não há justificação possível para a desproporção da resposta ao ataque terrorista de 7 de Outubro.
  2. O ataque de Israel ao consulado iraniano na Síria viola o direito internacional e a Convenção de Viena. E acontece não porque Israel se sentiu ameaçado pelo Irão, mas porque se julga acima da lei.
  3. Ao nível interno, Israel ainda é uma democracia. No plano externo é um regime desestabilizador, dos mais violentos e dos que mais desrespeita o direito internacional e as suas instituições.

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Em Belém, onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado

Todos os anos, milhares de peregrinos cristãos chegam a Belém, na Cisjordânia, para participar nos festejos de Natal da terra que viu Jesus nascer.

A cidade prepara-se a rigor, há árvores iluminadas e decoração festiva por toda a parte, os hotéis e os restaurantes estão cheios e o comércio floresce.

Não há registo, que eu tenha conhecimento, de uma única restrição imposta pela Autoridade Palestiniana aos peregrinos cristãos ou à própria comunidade cristã que vive na cidade, que tem como autarca um palestiniano cristão, que sucedeu a uma palestiniana cristã.

Em Belém, cristãos e muçulmanos vivem lado a lado e a tolerância é a regra.

Na Basílica da Natividade, construída sobre o local onde Jesus nasceu, celebra-se, à meia-noite de 24 de Dezembro, a Missa do Galo.

A celebração reúne milhares de palestinianos, turistas, peregrinos e responsáveis civis como o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas. E é considerada, por motivos que me parecem óbvios, uma das cerimónias mais emotivas e significativas do mundo cristão. [Read more…]

O embaraçoso Marcelo

Foi, no mínimo embaraçosa, a forma como Marcelo Rebelo de Sousa confrontou o diplomata palestiniano Nabil Abuznaid, no final da passada semana, na inauguração da iniciativa Bazar Diplomático.

Fiquei a imaginar se, ao invés de um diplomata palestiniano, Marcelo usasse o argumento “foram vocês que começaram” para advertir um diplomata israelita para o perigo da radicalização. Algo como:

  • Sim, o atentado do Hamas foi uma monstruosidade, mas foram vocês que começaram quando decidiram ocupar a Cisjordânia, expulsar milhares de palestinianos das suas casas e transformar a Faixa de Gaza numa prisão a céu aberto com 2,2 milhões de pessoas lá dentro. [Read more…]

Senhorio de deus

Israel, em conformidade com a sua própria brutalidade

Israel decidiu retaliar contra a população civil de Gaza, como se décadas de opressão naquela prisão ao ar livre não fossem suficientes.

O ministro da defesa, Yoav Gallant, explicou como:

Ordenei um cerco total a Gaza. Corte de electricidade, de comida, de combustível e água. Estamos a lutar contra animais humanos e agimos em conformidade. (tradução livre)

Há quem celebre esta decisão. A mim parece-me algo que Putin faria à Ucrânia, se tivesse essa oportunidade.

O próprio Hitler, podendo fazer o mesmo aos judeus, não teria hesitado.

Não sei quanto a vós, mas eu não partilho valores com este governo de fascistas, que está disposto a matar crianças de fome e sede, para mostrar ao mundo o poderio da sua vingança.

Para um país com um dos exércitos tecnologicamente mais avançados do mundo, matar civis inocentes e destruir as suas casas, hospitais e escolas não é sempre um dano colateral. É, muitas vezes, uma escolha.

Uma escolha que não surpreende.

Surpreende, isso sim, haver quem condene – e bem – o terrorismo do Hamas, ao mesmo tempo que se recusa a condenar o terrorismo de Estado de Israel.

Até porque, convenhamos, massacrar as populações civis nunca foi um problema para os governantes israelitas.

E quem insiste em apoiar o apartheid israelita sabe disso. Em pouco ou nada se diferencia daqueles que apoiam os monstros do Hamas.

Banksy volta a Gaza


E também com um vídeo: [Read more…]

E Bombardear o México?

ann_coulterA escritora americana Ann Coulter é, apesar de loira, parva. Adepta das técnicas de defesa que Israel tem levado a efeito perante a ameaça dos palestinianos da Faixa de Gaza, a moça parece defender para os EUA a mesma abordagem quanto à fronteira com os indigentes do Sul, o México. Bomba neles.
E porque a ignorância é quase tão grande como a estupidez humana, gostava eu de saber como resolveriam os nativos americanos (vulgo “índios”) os seus problemas de fronteiras e território se, como os EUA ou Israel, tivessem acesso a recursos bélicos ilimitados. Uma chacina, como em Gaza?

Faixa de Gaza em Agosto

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Parece Hiroshima em 6 de Agosto de 1945.
A Humanidade tende para a monotonia à medida que a História se repete.

Há Várias Diferenças

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entre Adolf Hitler e Benjamin Netanyahu. O bigode é uma delas.

Porto, Cidade das Liberdades

porto_free_palestine

Fonte.

Tenho Alguma Vergonha da Humanidade

Tenho alguma vergonha da Humanidade, confesso.
Tenho alguma vergonha da Humanidade e sinto mesmo algum cansaço de andar há toda uma vida a ouvir falar da “faixa de Gaza”, a que já a mais nada consigo comparar que a um ghetto, a um campo de morte, a uma câmara de gás, a uma vala comum, a uma pouca-vergonha que nos coloca, a nós – Humanidade – no canto mais escuro e sombrio da sala da iniquidade.

Tenho alguma vergonha da Humanidade, confesso.

Israel – como terá começado o sarilho? (Memória descritiva)

Li há tempos, num suplemento do El País, que os fundamentalistas islâmicos reclamam o Al Andalus como sua velha pátria. Todos sabemos que os Árabes ocuparam grande parte da Península durante mais de sete séculos, criando aqui uma civilização de um grande esplendor. De maneira brilhante, o aventador Frederico Mendes Paula tem falado desse período da nossa história que teimamos em ignorar.

Mas, uma coisa é cometermos o erro de rejeitar, ignorando-o, uma parte do nosso passado histórico, outra coisa é tentar reconstituí-lo. E outra coisa ainda, essa perfeitamente disparatada, seria considerar que o facto de terem ocupado este território durante quase oito séculos confere aos muçulmanos o direito de voltar como seus proprietários.

Porque antes dos Árabes, estiveram os Romanos, e antes destes os Fenícios, os Gregos, os Cartagineses e antes desses… Desgraçados de nós, para onde iríamos? Com tantos senhorios a quem pagar renda, como nos arranjaríamos? Pois, esta situação que aplicada à nossa terra logo vemos ser absurda, passou-se com os Palestinianos. Num livro muito antigo e com o qual eles nada têm a ver, está escrito que ali foi o berço de Israel. E, assim, foram desapossados das suas casas, das suas terras, das suas árvores…

Hoje, o Estado de Israel é um país da Ásia Ocidental situado na margem oriental do Mar Mediterrâneo, com uma área de 20 770 / 22 072 km². As suas fronteiras não fixadas oficialmente, situa o Líbano a Norte, a Síria e a Jordânia a Leste e o Egipto a Sudoeste. A Cisjordânia e a Faixa de Gaza, confinam também com Israel. Tem uma população de cerca de 7,5 milhões de habitantes, dos quais 5,62 milhões são judeus. Dentro do segmento árabe, predominam os muçulmanos, havendo ainda cristãos, drusos, samaritanos e outros. Gostemos ou não, é uma realidade.

O problema judaico tem origens remotas, pré-bíblicas, de que todos já ouvimos falar. Hoje queria apenas lembrar como é que a questão surgiu, no seu formato contemporâneo. O sionismo (palavra com origem em Sion, uma colina da antiga Jerusalém), eclodiu na Europa em meados do século XIX como reacção ao anti-judaísmo que nunca deixou de se verificar. Esta semana, tendo-se comemorado o »Dia do Holocausto», na quarta-feira passada, dia 27 de Janeiro, é uma boa altura para recordarmos como é que este problema se gerou. [Read more…]