Notas sobre o incidente israelo-iraniano

Três pontos prévios, sobre o incidente israelo-iraniano deste fim-de-semana:

  1. Israel está a levar a cabo um massacre na Faixa de Gaza. O nível de brutalidade da sua ação supera largamente o de Putin na Ucrânia. Não há justificação possível para a desproporção da resposta ao ataque terrorista de 7 de Outubro.
  2. O ataque de Israel ao consulado iraniano na Síria viola o direito internacional e a Convenção de Viena. E acontece não porque Israel se sentiu ameaçado pelo Irão, mas porque se julga acima da lei.
  3. Ao nível interno, Israel ainda é uma democracia. No plano externo é um regime desestabilizador, dos mais violentos e dos que mais desrespeita o direito internacional e as suas instituições.

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A herança de Durão nos 20 anos do 11M

O 11M, como é conhecido em Espanha, foi há 20 anos.

Com epicentro na estação de Atocha, Madrid foi abalada pelo rebentamento de 10 bombas, que causaram a morte de 193 pessoas e ferimentos a mais de 2000.

Uma tragédia de proporções aterradoras, que produziu traumas que ficaram para sempre.

Nesse dia, descobrimos, da pior maneira, que a invasão do Iraque colocou os lacaios de Bush na linha de mira da Al-Qaeda.

Seguiu-se Londres, em 2005.

Sorte a nossa, Portugal escapou. Talvez porque os terroristas não viram em Durão Barroso mais do que aquilo que ele foi: o mordomo da Cimeira das Lajes. [Read more…]

Hamas: qual é a dúvida?

Há algo que me deixa perplexo na discussão em torno do conflito entre Israel e a Palestina, que é a facilidade com que algumas pessoas legitimam o Hamas.

E por isso é bom recordar que, antes do atentado de 7 de Outubro, o Hamas já governava Gaza de forma sufocante. Não há liberdade de expressão, as minorias têm zero direitos, as execuções sumárias são uma constante e a utilização de civis como escudos humanos não é uma fantasia.

E sim, o Hamas construiu instalações militares próximas ou coladas a bairros residenciais, escolas e hospitais.
Se isso legitima décadas de ocupação e crimes de guerra de Israel? [Read more…]

Nunca haverá uma Palestina livre, enquanto houver Hamas

Sou insuspeito de simpatia pelos sucessivos governos israelitas, que desde sempre condeno pela ocupação ilegal da Cisjordânia, pelo Apartheid vigente na Faixa de Gaza ou pela brutalidade e desproporção dos métodos empregues.

Mas o que aconteceu no final da passada semana, para mim, não é resistir à ocupação.

É crueldade pura.

Atacar civis, raptar jovens e crianças, torturá-los em público e exibi-los como troféus não é resistência. É barbárie.

E sim, o Hamas é uma organização terrorista. [Read more…]

Henrique Raposo tem razão

Não é muito frequente mas acontece-me, de longe a longe, concordar com Henrique Raposo. E tem muita razão, quando aponta a seguinte hipocrisia, no artigo de ontem no Expresso: não podemos estar para aqui a barafustar contra a vassalagem ocidental ao totalitarismo Qatari, quando permitimos que aqui, na Europa, mulheres e homossexuais continuem a ser agredidos e subjugados por fundamentalistas islâmicos. Tal como permitimos que a comunidade cigana case meninas de 13 ou 14 anos e as impeça de ir à escola. E se certa esquerda insistir na negação, e continuar a gritar “racismo!”, de cada vez que alguém alerta para o óbvio, mais lhe vale estender uma passadeira vermelha à extrema-direita e enterrar a cabeça no chão para evitar de ver a sua triste figura.

Contra todas as formas de extremismo

A coragem saiu à rua, em Moscovo e Teerão. Numa e noutra capital, milhares de manifestantes ocuparam as cidades para enfrentar o totalitarismo e foram violentamente reprimidos, presos e torturados. Muitos acabaram mortos. Mais morrerão.

A estes protestos juntam-se outros, um pouco por toda a Europa, dos lesados do capitalismo de guerra, que começa a atirar os do costume para novos patamares de pobreza, que em breve se poderá traduzir em racionamento severos e filas para o pão, enquanto a super-elite, coadjuvada por políticos “moderados”, vê as suas fortunas aumentar para níveis sem precedentes e inimagináveis para o comum dos mortais.

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O neofascismo é o novo fundamentalismo religioso

Publicado em Junho, o último relatório da Europol dedicado ao terrorismo revela que, entre 2002 e 2019, 332 atentados terroristas foram levados a cabo por organizações de extrema-direita em solo europeu, dos quais 49 em 2019, resultando num total de 286 vítimas mortais.

Os métodos só podem surpreender os mais desatentos. Ainda em Agosto, quando os Taliban tomaram o poder, assistimos ao elogio apaixonado dos órfãos de Trump, que destacaram a determinação dos fundamentalistas afegãos na sua luta contra os valores liberais. Supremacistas brancos, fundamentalistas católicos e evangélicos e QAnon figuram entre os novos cheerleaders do Emirado.

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O Diabo veste Lockheed Martin

Na imagem temos o icónico Black Hawk UH-60, protagonista maior da força aérea norte-americana e de várias produções hollywoodescas, fabricado pela Sikorsky, subsidiária da Lockheed Martin, uma das maiores empresas mundiais de armamento e uma das grandes vencedoras de 20 anos de ocupação do Afeganistão. Feito que, de resto, se repete em todas as guerras e invasões provocadas por EUA & friends. O custo unitário deste helicóptero de guerra ronda os 6 milhões de dólares, mas pode variar em função dos extras, como vidros fumados, jantes de liga leve ou mísseis Hellfire.

A Lockheed Martin, liberalíssima, não descrimina na hora de vender os seus poderosos Black Hawk, de maneira que podemos encontrar exemplares da espécie em paragens tão distintas como a Suécia ou a Arábia Saudita, a Áustria ou a Albânia. E agora, com a saída apressada e em cima do joelho das forças que ocuparam o Afeganistão durante duas décadas, deixando para trás todo o tipo de material bélico, os Taliban passaram a ser proprietários de mais de 150 aeronaves, entre as quais três Black Hawk, drones ScanEagle e A-29s Super Tucano, para não falar nas dezenas de MRAPs e nos milhares de Humvee M1151 blindados.

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Sobre a miséria que alimenta o fundamentalismo religioso

Um destes dias estive a ver um episódio do Toda a verdade, na SIC, numa edição dedicada ao Paquistão. Num país onde reina a miséria, centenas (milhares?) de crianças trabalham desde tenra idade, nos fornos de tijolos, na periferia de Islamabad. Algumas têm 5 anos, nunca foram à escola e recebem uma miséria por turnos de 14 horas de trabalho duro, que compromete o seu crescimento e a sua saúde.

Trabalham porque os pais não têm dinheiro e mal conseguem pagar uma alimentação digna do nome, sempre a léguas dos padrões de decência mínima. E são alvos fáceis para os fundamentalistas islâmicos, que andam à pesca em locais como este, prometendo casa, conforto, comida e estudos, em troca de uma vida de obediência cega na madrassa, onde serão doutrinados na interpretação mais extremista da Sharia, com o alto patrocínio, como tantas outras, de oligarcas de estados poderosos como a Arábia Saudita. [Read more…]

O terror em Moçambique e a urgência de combater as máfias jihadistas

Foto: Marco Longari/AFP

Há vários meses que os moçambicanos vivem um autêntico filme de terror, com a província de Cabo Delgado refém de milícias financiadas por fundamentalistas islâmicos, presume-se que pelo próprio Daesh. Centenas de mortos, milhares de deslocados, aldeias arrasadas e uma situação de medo e insegurança permanente, que conheceu há dias um dos seus episódios mais horripilantes e sangrentos, com a decapitação e desmembramento de 50 pessoas.

Apesar dos laços estreitos que nos unem a Moçambique, do passado colonial à CPLP, pouco ou nada temos ouvido a este respeito, quer dos responsáveis políticos, no poder e na oposição, quer da comunicação social, que lá vai reportando um ou outro massacre, lá mais para o final do alinhamento do telejornal. Onde está o país que se mobilizou pelos timorenses, na sequência do massacre de Santa Cruz? Alguém o viu por aí? [Read more…]

A destruição que paira sobre Palmira

Primeiro vieram as minas, depois as explosões. Em breve não restará nada. Se houvesse petróleo para trocar por alimentos

 

Uma questão de Liberdade…

-Concordo muitas vezes com a Maria João. Mas apesar de compreender o ponto de vista que defende neste artigo, não posso de forma alguma deixar passar sem tecer algumas considerações. Também eu gosto da Grã-Bretanha, seus valores e cultura, a única excepção será mesmo a família Windsor pela qual não morro de amores. O multiculturalismo e liberdade fazem parte do ADN da Grã-Bretanha, sem os quais a ilha se tornaria em algo diferente, para pior. Também não tolero o fundamentalismo, seja islâmico, católico, judeu ou qualquer outro. Mas proibir e punir crenças religiosas ou políticas de qualquer ordem, é ceder aos valores dos fanáticos que pretendemos combater. São os actos criminosos que devem ser reprimidos através de apertada legislação e não as ideias. Para que exista de facto diferença entre a civilização e a barbárie. Proibir uma muçulmana de vestir uma burka se o pretender fazer livremente, é igual à proibição num país islâmico que um católico adore a imagem da Virgem ou se ajoelhe perante Jesus Cristo crucificado. Não deveremos ceder perante o ódio e sem dar a outra face, há que continuar a defender a Liberdade de todos, até mesmo a Liberdade dos bárbaros que pretendem tirar a nossa…

Egipto:

“Uma sociedade extremamente dividida, a precisar urgentemente de um entendimento político de compromisso entre os militares e os islamistas.” Uma análise de Hugh Miles. no dia em que se prevê que a situação se torne incontrolável por excesso de radicalismo de parte a parte.

A Infâmia…

… a selvajaria e a barbárie nunca desgrudaram da pele do ser humano, apesar dos séculos, dos museus, da “cultura” e da tecnologia.

Agora encontraram uma nova frente, este parvalhão é o seu arauto e merece o mais veemente e claro dos repúdios.

Mas condenemo-lo com cuidado e alguma auto-critica enquanto povo e país. É que, se o homem e seus seguidores não deixam de ser uns obscuros idiotas fundamentalistas, nós, por cá, também não respeitamos lá muito o património colectivo e até da humanidade.

E isso, queiramos ou não, correndo o risco de parecer forçar a analogia, não abona grande coisa a favor da nossa imagenzinha civilizada e assim tão distinta da barbárie.