Em política (para dizer o poder político), nada é inocente. O facto de a mulher do actual primeiro-ministro ter optado por não esconder a sua doença é claramente um statement. Resta saber qual, ou quais. Que eu saiba, e até ao momento, nenhuma figura pública feminina portuguesa havia tomado tal audaz decisão. Não há, na cultura portuguesa, esse hábito. A doença esconde-se, tal como se escondem as suas marcas. As mulheres põem lenços, e procuram manter – tanto quanto possível – a sua aparência habitual. Nessa medida, que a mulher do actual primeiro-ministro apareça publicamente sem cabelo (ela que o tinha farto e bonito) significa qualquer coisa.
Ana Sá Lopes (ASL) pensa que essa coisa – mesmo se concordando que constitui uma «opção radical» – não tem significado político algum, e insurge-se contra alegados aproveitamentos por parte do PS e dos seus simpatizantes. Visando Estrela Serrano com especial agressividade, por causa de um seu texto sobre a tabloidização da doença, ASL não se esqueceu de referir que Estrela Serrano foi assessora «do Presidente da República Mário Soares, para além de professora na Escola Superior de Comunicação Social, um centro de formação das novas gerações de jornalistas.» O que significam essas escolhas, para além da continuação do combate ao PS que ASL tem protagonizado?
Tal como se me apresentam os factos, significa que o que está em cima da mesa não é a doença de Laura Ferreira, tão pouco um suposto aproveitamento político por parte de Pedro Passos Coelho. O que Estrela Serrano levou a debate é o que Ana Sá Lopes agora contesta (reeditando, aliás, o que fez há uns meses relativamente ao opaco processo contra Sócrates), mesmo se com recurso aos habituais esconderijos discursivos que põem em primeiro plano tergiversões sem sentido (e até muito questionáveis, como é o caso da que pretende escrutinar moralmente Estrela Serrano enquanto professora de jornalismo): a tabloidização do jornalismo.
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