A tabloidização do jornalismo

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Em política (para dizer o poder político), nada é inocente. O facto de a mulher do actual primeiro-ministro ter optado por não esconder a sua doença é claramente um statement. Resta saber qual, ou quais. Que eu saiba, e até ao momento, nenhuma figura pública feminina portuguesa havia tomado tal audaz decisão. Não há, na cultura portuguesa, esse hábito. A doença esconde-se, tal como se escondem as suas marcas. As mulheres põem lenços, e procuram manter – tanto quanto possível – a sua aparência habitual. Nessa medida, que a mulher do actual primeiro-ministro apareça publicamente sem cabelo (ela que o tinha farto e bonito) significa qualquer coisa.

Ana Sá Lopes (ASL) pensa que essa coisa – mesmo se concordando que constitui uma «opção radical» – não tem significado político algum, e insurge-se contra alegados aproveitamentos por parte do PS e dos seus simpatizantes. Visando Estrela Serrano com especial agressividade, por causa de um seu texto sobre a tabloidização da doença, ASL não se esqueceu de referir que Estrela Serrano foi assessora «do Presidente da República Mário Soares, para além de professora na Escola Superior de Comunicação Social, um centro de formação das novas gerações de jornalistas.» O que significam essas escolhas, para além da continuação do combate ao PS que ASL tem protagonizado?

Tal como se me apresentam os factos, significa que o que está em cima da mesa não é a doença de Laura Ferreira, tão pouco um suposto aproveitamento político por parte de Pedro Passos Coelho. O que Estrela Serrano levou a debate é o que Ana Sá Lopes agora contesta (reeditando, aliás, o que fez há uns meses relativamente ao opaco processo contra Sócrates), mesmo se com recurso aos habituais esconderijos discursivos que põem em primeiro plano tergiversões sem sentido (e até muito questionáveis, como é o caso da que pretende escrutinar moralmente Estrela Serrano enquanto professora de jornalismo): a tabloidização do jornalismo.

Unir o Partido

Na sequência do quase avanço de António Costa para candidato a candidato a primeiro-ministro, transcrevo parte do programa Contraditório, da Antena 1, no qual Ana Sá Lopes disserta sobre o conceito “unir o partido” (edição de 1 de Fevereiro de 2013, após o minuto 25:33 – áudio). A história é interessante, pelo que achei que valia a pena passar a escrito o que como tal não foi pensado.

Unir o Partido, o que é que é unir o Parido? Quando o Raul era meu chefe no Público costumava-me mandar às vezes aos sábados para as reuniões dos Sampaístas  Os Sampaístas – houve uma guerra terrível, fratricida. O Guterres ganhou as eleições,  houve uma guerra terrível e os Sampaístas tinham um grupo organizado. Mas era mesmo organizado, não era como estes que se reúnem nos almoços, nos jantares e nas esquinas. Faziam reuniões onde os jornalistas iam e falavam no final. O Sr. João Cravinho liderava, estava lá o Dr. Ferro Rodrigues, o Dr. Alberto Martins, várias pessoas.

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A face oculta de Carlos Magno


O que leva um jornalista aparentemente inteligente como Carlos Magno a comparar o caso Monica Lewinsky ao caso das escutas que envolvem o primeiro-ministro?
Aconteceu ontem no «Contraditório», programa da Antena 1 onde participam também Ana Sá Lopes e Luis Delgado?
Carlos Magno não sabe – ou não quer saber – qual é a diferença entre actos privados da vida privada pessoa e actos privados da vida pública?
Pois eu explico: se o primeiro-ministro combina ao telefone um encontro amoroso com a «Rainha das Meias», esse encontro não deve ser público – é um acto privado da vida privada. Ora, se o primeiro-ministro combina ao telefone o silenciamento de um canal de televisão, isso é um acto feito em privado nas que tem a ver com a vida pública e que, por isso, deve ser público. Porque não diz respeito à vida privada do primeiro-ministro.
Sempre gostei de Carlos Magno, mesmo quando lhe chamavam caixeiro-viajante (programa na SIC com Paulo Alves Guerra) e em especial na fase dos programas que fazia na TSF com o professor «Não é?». Mas nunca compreendi, nos últimos anos, a feroz defesa que sempre fez de José Sócrates. Defende-o em todas as circunstâncias, compara o que não tem comparação, parece um desses socratistas cegos que não vê nem quer ver.