Unir o Partido

Na sequência do quase avanço de António Costa para candidato a candidato a primeiro-ministro, transcrevo parte do programa Contraditório, da Antena 1, no qual Ana Sá Lopes disserta sobre o conceito “unir o partido” (edição de 1 de Fevereiro de 2013, após o minuto 25:33 – áudio). A história é interessante, pelo que achei que valia a pena passar a escrito o que como tal não foi pensado.

Unir o Partido, o que é que é unir o Parido? Quando o Raul era meu chefe no Público costumava-me mandar às vezes aos sábados para as reuniões dos Sampaístas  Os Sampaístas – houve uma guerra terrível, fratricida. O Guterres ganhou as eleições,  houve uma guerra terrível e os Sampaístas tinham um grupo organizado. Mas era mesmo organizado, não era como estes que se reúnem nos almoços, nos jantares e nas esquinas. Faziam reuniões onde os jornalistas iam e falavam no final. O Sr. João Cravinho liderava, estava lá o Dr. Ferro Rodrigues, o Dr. Alberto Martins, várias pessoas.

Então há um dia em que o Guterres chama toda a gente e decide unir o partido. Era preciso unir o partido. O que é que era unir o partido? «Há  umas listas para as próximas eleições, agora vamos discutir, o Pedro Silva Pereira entra ou não entra?» O Costa diz «O Pedro Silva Pereira tem que entrar». Mas e o José Lello? Seguro diz «O José Lello não aguento». E António Costa diz «Está bem, ok, deixa lá cair o José Lello».

E agora vão articular um texto comum, uma moção de estratégia comum onde são capazes perfeitamente de chegar a um entendimento sobre uma estratégia comum onde se vai lá dizer um bocadinho bem dos governos de Sócrates e das suas capacidades e vai acabar tudo feliz, o que significa que estes senhores vão ter lugar nas próximas eleições, António José Seguro vai ser o primeiro-ministro, os Costistas vão ter alguns lugares para poderem sobreviver no próximo ciclo político.

Eu lembro-me perfeitamente, pois essa guerra nos anos noventa, era uma guerra de estratégia, mas brutal. Enquanto que aqui não se percebeu qual era a estratégia do Dr. António Costa, a não ser que disse umas coisas sobre o passado e que António José Seguro não conseguia viver bem com o passado.

Tudo isto foi ontem expresso de certa maneira, embora tenha saído para os jornais que havia um ultimato, eu não vi ultimato nenhum na Quadratura do Círculo de ontem. O que vi foi o Dr. António Costa recordar estes tempos dizendo que o PS tinha uma tradição de criar consensos e de, nas vésperas de momentos eleitorais, unir-se todo. E foi o que aconteceu e é o que vai acontecer. E no dia 10 de Fevereiro acho que vai haver desta vez um abraço público, antes houve aquele abraço privado, agora vai haver um abraço público e vai haver uma distribuição. Se calhar o Dr. Zorrinho ainda é capaz de ir à vida e arranja-se um líder parlamentar – ainda vai o Silva Pereira a líder parlamentar. Portanto, vai haver ali um acordo.

Nesses anos noventa quando o Raul me andava a obrigar a ir para a feira de Cascais fazer campanha eleitoral, com muito gosto, que eu adorava, era o trabalho dele que era o meu editor, perguntei ao Eng. João Cravinho uma vez «Ó senhor engenheiro, tinha uma divergência estratégica com o Guterres e agora está aqui a distribuir sacos de plástico?» E o Eng. João Cravinho disse-me «O poder tem um cheiro absolutamente irresistível, inebriante, sedutor». E é assim.

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  1. […] se comprova que a história se repete. Falta ver a dança dos […]

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