Esta Europa não.

Europe_allemande

Ele gostava de votar, de votar com convicção num partido, movimento, pessoas que verdadeiramente representassem o interesse da parte maior do povo, em que orgulhosamente se inclui. Sou povo, diz com a verdade de quem é. O discurso da esquerda, que bem conhece de a ter militado (e depois abandonado, por não mais ser possível pertencer-lhe assim), não lhe chega. Atento, há muito que esse voto perdeu sentido. Votar em quem?, pergunta-me todo perdido e chateado de vida, indisponível para a comunhão de fé com essa esquerda titubeante, de pensamento omisso sobre a Europa, e sobre o lugar de Portugal nessa economia de competição inter-pares. Um jogo que gera a desigualdade anacrónica que também em Portugal está a liquidar a recente classe média patrimonial em que também ele, que é povo, até ver se inclui.

Ele até nem se importava de votar na esquerda dos governos, que já o enerva a vocação opositora de quem espera a sublevação histórica dos deserdados do capitalismo para tomar o poder. Bem conhece o cartório de culpas comprometidas com o cavaquismo dessa esquerda. Mas lá está: com Seguro a puxar a carroça é que nem pensar, e Costa tarda, tarda, zanga-se com quem insiste para que de uma vez por todas se chegue à frente, diz que por ora Lisboa lhe basta, que ainda tem lá muito que fazer.

Ele gostava de votar, mas diz-me que esta Europa merece o castigo da abstenção dos povos. Por uma vez, a abstenção tem um outro significado. Um sentido político que aponta o dedo à Alemanha do euro-oportunismo comercial e financeiro e dos egoismos da «emigração interior» dos alemães. Um sentido político, ouviste Angela?

“Ça ne va pas”, disse Schulz em ‘Avril au Portugal’

Martin Schulz, sabe-se, é membro do SPD (Partido Social-Democrata Alemão) e presidente do Parlamento Europeu. Participou no XIX Congresso do PS em Abril passado. Valeu-se, então, de uma ideia célebre de Thomas Mann e repetiu-a:

Queremos uma Alemanha europeia e não uma Europa alemã

Divagou por percurso retórico sintonizado com esta frase e a referência ao fosso económico e social entre o Centro e Norte da Europa (a Alemanha, em destaque) e os Estados periféricos.

Com jactância, proclamou um “Ça ne va pas” (“Isto não vai”). Em francês ou português, é frase de sujeito indeterminado (o pronome ‘Ça’ ou ‘Isto’) e de complemento omisso (não vai  fazer o quê, onde?…).

Quando muito, podemos esmiuçar que Schulz terá pretendido dizer: “a falta de solidariedade europeia tal como a vivemos não levará a Europa dos 28, e menos ainda os 17 da Zona Euro, à coesão socioeconómico e de desenvolvimento integrado que percursores e anteriores líderes europeus publicitaram” – de Jean Monet e Schumann a Delors, Willy Brandt, Helmut Khol, François Mitterrand e muitos outros. [Read more…]